A afirmação do título foi feita em matéria da BMC – com mais de 20 dedicados a impulsionar o progresso em biologia, ciências da saúde e medicina – sobre esse que deverá se tornar o maior trabalho já elaborado a respeito das prescrições médicas e que foi denominado CHARMER.


Em fevereiro deste ano, quando teve início um ensaio CHARMER (CompreHensive geriAtRician led MEdication Review), os integrantes da equipe, Dave Taylor e Jackie Martin-Kerry, iniciaram uma discussão em artigo publicado na BioMed Central (BMC) sobre o maior estudo dentro da Especialidade de Envelhecimento do portfólio da Rede de Pesquisa Clínica em toda a Inglaterra, envolvendo dados de mais de 20.000 pacientes idosos internados em 24 hospitais. Internacionalmente, também será o maior ensaio de desprescrição.

Em tradução livre, o termo geriatrician (em inglês), seria algo como: “Revisão abrangente de medicação prescrita por geriatra ou profissionais que cuidam de idosos”.

Financiada pelo National Institute for Health and Care Research (NIHR), de acordo os autores, “a equipe CHARMER trabalhou com profissionais de saúde e idosos, um grupo de pacientes sem dúvida mal atendido pela pesquisa clínica, para desenvolver uma abordagem que forneça suporte a geriatras (médicos de hospitais que cuidam de idosos) e farmacêuticos para realizar uma desprescrição mais proativa com idosos enquanto eles estão no hospital”. A desprescrição proativa se refere à interrupção de medicamentos antes que eles causem danos. Isso contrasta com a desprescrição reativa, que é a interrupção de um medicamento em resposta a danos presentes, por exemplo, quando os efeitos colaterais de um medicamento fazem com que uma pessoa adoeça, piore (ou no termo em inglês, to fall = caia).

Por que o estudo CHARMER é importante?

Parar é sempre mais difícil do que começar algo e isso é especialmente verdadeiro para medicamentos, muitas vezes iniciados anos atrás por um profissional de saúde e complicados para outra pessoa revisar anos depois. Muitas pessoas idosas se veem tomando cinco ou mais medicamentos prescritos (chamados de polifarmácia), em parte devido às pessoas serem tratadas simultaneamente para várias condições. Mas, à medida que envelhecemos, nossos corpos se tornam menos capazes de lidar com alguns medicamentos, e os mesmos que antes eram eficazes e seguros podem não ter tanto benefício e uma chance maior de causarem danos.

Em pesquisas anteriores por membros da equipe CHARMER, idosos e seus cuidadores nos disseram que gostariam que seus medicamentos fossem revisados ​​por médicos durante sua estadia no hospital. Eles gostariam que aqueles medicamentos que não são mais necessários ou que podem causar danos fossem interrompidos. No entanto, por uma variedade de razões, isso não acontece rotineiramente.

Menos de um por cento desses medicamentos são interrompidos durante a admissão hospitalar e a maioria dos medicamentos só é interrompida depois de causar danos (desprescrição reativa). Então, embora o princípio da desprescrição proativa seja uma expectativa de boa prática de prescrição, isso não acontece com tanta frequência quanto poderia.

OMS

“A iniciativa Medication Without Harm da Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a desprescrição proativa como uma solução potencial para reduzir danos relacionados a medicamentos. O estudo CHARMER visa incorporar a desprescrição proativa como um aspecto de rotina do tratamento em enfermarias de Medicina de Idosos. Isso é essencial se quisermos lidar com a prescrição excessiva, melhorar a segurança do paciente e abordar a polifarmácia inapropriada entre idosos,” concluíram os autores no artigo.

CHARMER é um projeto de pesquisa de cinco anos (2020-2025) que está sendo realizado em toda a Inglaterra para desenvolver e testar uma abordagem para aumentar as discussões com pacientes hospitalares idosos (com mais de 65 anos) sobre a interrupção de medicamentos que não são mais úteis e podem ser prejudiciais.


*Dave Taylor é um veterano da indústria de computadores pessoais, mas passou os últimos 14 anos de sua carreira em comunicação científica e pesquisa em saúde. Ele é um ex-administrador da Patients Association e é um representante de pacientes em vários projetos de pesquisa, incluindo CHARMER. Atualmente ele toma 12 medicamentos diferentes diariamente.

*A Dra. Jackie Martin-Kerry é uma pesquisadora de saúde, atualmente trabalhando na Universidade de Leicester. Ela tem mais de 20 anos de experiência realizando pesquisas no Reino Unido e na Austrália. Sua expertise inclui a realização de pesquisas qualitativas, como avaliações de processos de intervenções complexas, e ela está interessada no desenvolvimento de novas abordagens metodológicas.


Fonte: BMC Medicine


Destaque – Imagem: aloart


Publicação:
Terça-feira | 16 de julho, 2024


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