Segunda-feira, 23 de maio de 2016 às 15h44
Você que curte Ubatumirim em Ubatuba, saiba que esta é mais uma praia que corre risco de ser fechada arbitrariamente. Membros da associação de moradores lutam contra o poder financeiro do mercado imobiliário que tenta expandir seus tentáculos e abocanhar uma das mais belas regiões do litoral de São Paulo, já de olho nas concessões da presidente afastada Dilma Roussef.
Gerson Soares
Isso mesmo, o plano de concessões do Governo Federal lançado em junho do ano passado, visando atrair investimentos de 200 bilhões da iniciativa privada em infraestrutura, com financiamento do BNDES, contempla a cidade de Ubatuba, que pode ganhar um aeroporto em futuro próximo, se houver interesse privado, o que levará um público diferenciado às suas belas praias, aumentando o potencial turístico. Isso é um bom sinal, que pode gerar mais empregos e oportunidades, mas como já afirmamos nas reportagens anteriores, os investimentos na cidade devem vir bem recheados de respeito à natureza e voltados à sustentabilidade e ecologia, alicerçados por uma administração competente da Prefeitura e dos poderes públicos, caso contrário esses investimentos anulam-se por si próprios ao longo do tempo, passando da geração de possibilidades para a criação de problemas, principalmente se a mata for derrubada e as praias poluídas com esgoto, como aconteceu com a baixada Santista.
Apesar de ser uma boa notícia, é o choque cultural que preocupa. O que está errado e gera ações desastrosas é que através dos interesses difusos, o tráfico de influência no poder público e a corrupção, tentam desalojar as famílias caiçaras de suas terras, criando-lhes entraves e dificuldades, como por exemplo, o não fornecimento de energia elétrica e a péssima conservação das vias vicinais ou secundárias, com o objetivo sinistro de afastá-los da orla onde sempre viveram e trazer condições favoráveis para a construção de condomínios de luxo, casas de veraneio em área de preservação para alguns poucos “privilegiados” e as conhecidas vantagens aos amigos, dos amigos, dos aliados, dos políticos – não necessariamente nessa ordem. Este alerta é para que todos abram bem os olhos sobre o que vem ocorrendo em Ubatumirim e de maneira geral em Ubatuba.
Nas últimas duas gestões do Executivo, um Prefeito foi afastado (por fazer propaganda política usando a máquina pública) e o atual quase caiu em dezembro de 2015 (por improbidade administrativa). Em 21 de abril, dia de Tiradentes e feriado prolongado no país, estivemos em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, para apurar as denúncias de que a construção de um condomínio de luxo em um loteamento na praia de Ubatumirim, 34 km ao Norte da cidade, possa vir a prejudicar o meio ambiente e os moradores. Conversamos com os membros de famílias antigas e da Associação Amigos da Praia de Ubatumirim (APU). Como líderes locais, a presidente da associação Zita Pedro dos Santos, 66; o vice-presidente Rildo de Souza, 44, e o 1º secretário Eduardo Ferreira da Silva, 42, nos atenderam para explicar o que está ocorrendo, como também mostramos nas reportagens anteriores.
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Até a escola que tinha 80 anos foi derrubada e para fechar a maldade com requinte puseram abaixo também a igreja, alegando que estavam construídas na área que pertence ao loteamento em questão. Os líderes locais atribuem os atos à Construtora Camargo Corrêa – envolvida na Operação Lava Jato –, mas quem apareceu nas nossas pesquisas foi a empresa Ubatumirim S/A Empreendimentos Imobiliários. Até agora não foi possível identificar se ela é realmente a proprietária do loteamento ou apenas uma firma de fachada, devido à falta de respostas da Prefeitura e da Secretaria de Habitação e Urbanismo de Ubatuba que se omitem em responder nossas perguntas desde o dia 25 de abril, quando iniciamos esta reportagem especial sobre o litoral norte de São Paulo. Conversamos com a assessoria da Construtora Camargo Corrêa que através do seu assessor disse não ser dona da área, mas se negou a enviar um email para oficializar a resposta. A empresa Ubatumirim S/A, não pode ser encontrada em nenhum dos endereços que constam em processos judiciais nos quais pesquisamos. Em um deles, o mais atual, existe uma banca de advogados.
O vídeo abaixo mostra a entrevista com os líderes e a área do loteamento, até agora sem dono que possa ser identificado, enquanto a Prefeitura ou algum responsável se recusarem a falar sobre o assunto. Saiba o que eles pensam sobre a possível construção de um condomínio de luxo e a preservação do local onde nasceram, para onde se dirigem milhares de turistas durante a temporada de verão.
Depois de terem sua escola e a igreja demolidas, os moradores conseguiram provar que aquela área onde foram erguidas é pública e obtiveram a permissão de construir uma sede para a APU. Durante a nossa visita informaram que estavam prestes a realizar um bingo para arrecadar valores voltados à construção. Na sexta-feira (20), conversamos com um dos líderes da associação pelo WhatsApp e ele nos informou que o Bingo foi bom e o valor arrecadado vai ajudar a construir pelo menos metade da obra. “Estamos pensando em fazer outro”, animou-se.
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