Estamos publicando uma série de reportagens sobre o Sertão de Itamambuca, norte de Ubatuba. Acompanhe.

Estamos em Ubatuba, um dos pontos mais deslumbrantes do litoral brasileiro. O turismo despertou com força total nos últimos 10 anos, mas já vinha aumentando gradativamente desde a construção da Rodovia Rio-Santos nos anos 1970.


A cobiça imobiliária por áreas privilegiadas próximas ao mar é notória em Ubatuba. Carros e mais carros de turistas cruzam a cidade e as estradas, mesmo fora da tão esperada temporada de verão. Esse mesmo ciclo, apesar de ainda em um ritmo mais lento, destruiu as belezas naturais da Baixada Santista, transformando a areia em esgoto a céu aberto, onde as ondas que quebram na praia assumem um tom marrom.

O sul de Ubatuba caminha a passos largos nesse sentido e várias praias já estão poluídas. Os canos de esgoto, assim como em Santos, são vistos em uma das mais famosas delas, a Praia do Lázaro. Isso seria uma calamidade em uma gestão de administração pública visionária. Fugindo da poluição das praias, os olhares sutis da cobiça imobiliária e a tolerância administrativa se voltam para o norte da cidade balneária paulista, onde a natureza ainda resiste.

Não se trata de impedir o turismo, mas organizar e pensar em maneiras sustentáveis para exercer essa atividade lucrativa ao longo do tempo, como se faz em países como a Grécia, Itália ou Noruega, por exemplo.

Esgoto a céu aberto

Por trás de tantas belezas naturais, existem graves problemas populacionais e de infraestrutura, como, por exemplo, a inexistência de banheiros públicos nas praias. A fiscalização e educação ambiental quanto a resíduos também são falhas. Ainda há turistas que deixam seus dejetos nas areias, como bitucas de cigarros, garrafas pet, latas, plásticos, embalagens de salgadinhos, entre outros.

Animais marinhos, como as tartarugas que comem algas e corais, confundem os plásticos e embalagens – que são levados ao mar pelas ondas – com seus alimentos prediletos, os engolem e morrem asfixiadas.

Comentário sobre a Praia do Lázaro, publicado em 2017. “Visualmente é Bonita, mais você desanima quando vê os Canos de esgoto saindo das mansões, uma pena, Autoridades deveriam tomar uma providência.” Há comentários da alta temporada de 2025, ainda mais decepcionantes.

 

Tartaruga marinha encontrada na areia da Praia Vermelha do Norte na manhã do dia 27 de fevereiro. Resgatada já sem vida pelo Projeto Tamar de Ubatuba, depois de a entidade ter sido avisada pelos moradores que a encontraram, passou por autópsia. Ainda não é possível saber o motivo da morte. Foto: aloimage

 

Turismo

Na área social, os desníveis se acentuam, com parte da população local vivendo como prestadores de serviços, voltados ao atendimento das casas e apartamentos de veraneio que, por sua vez, também proliferam graças ao aumento do turismo, mas o lucro maior não chega aos mais necessitados.

Recentemente, até a Prefeitura resolveu tirar o seu quinhão, cobrando uma taxa por veículo que não esteja registrado na cidade, a TPA – Taxa de Preservação Ambiental. Além dessa taxa, quase em todas as praias é cobrado estacionamento dos turistas, por meio da zona azul. A velocidade controlada garante mais alguma renda, paga pelas multas aos motoristas apressados, já que a velocidade máxima é de 40 km por hora em alguns trechos.

Ocupações irregulares

A ocupação irregular de morros, antes intocados, ou o cercamento de praias e suas imediações também preocupa. Há alguns anos, praias como a Vermelha do Norte não ostentavam cercas; na atualidade, quase toda a orla está cercada e dominada pela especulação das áreas de estacionamento.

Particularmente, uma grande área dessa praia já havia sido ocupada há mais de 30 anos, onde foi construído um toboágua e um restaurante que deu lugar a outros. Na atualidade, o que parece ser uma grande pousada ou hotel está sendo construído no local, ou seja, na areia.

Os caiçaras da região de Ubatumirim travam uma longa batalha para conter o avanço imobiliário que também quer fechar uma parte da área de acesso à praia.

Estes são apenas alguns pontos que fogem aos olhos dos turistas, mas afligem a população local, acostumada à natureza e suas dádivas que parecem estar desaparecendo, apesar da proximidade ao Parque Estadual da Serra do Mar.

A cada período aparecem clarões onde só havia a mata. Recentemente, em Ubatuba, estão surgindo uma infinidade de “proprietários de terras”, porteiras são colocadas em meio à mata. Na verdade, o norte da cidade parece estar sendo loteado ou invadido aos poucos, rendendo-se aos interesses imobiliários e particulares, contando com certa permissividade ou falta de fiscalização apropriada.

Uma dessas áreas é o Sertão de Itamambuca, um paraíso ecológico, motivo principal desta série de reportagens (leia todas aqui), onde uma gama de fatores está afetando a vida da população.


Destaque – Praia do Estaleiro – um dos recortes mais deslumbrantes de Ubatuba: suas águas calmas e a natureza exuberante precisam ser preservadas continuamente, afastando o perigo da cobiça e das falhas administrativas. Foto: aloimage


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