Sábado, 10 de dezembro de 2016, às 06h59


Lançamento de documentário sobre uma das obras mais controversas do mundo conta com a presença de diversos povos indígenas ameaçados pela construção de hidrelétricas.

Do Greenpeace Brasil

“Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. Então nós vamos levar Belo Monte para o conhecimento de todos”. Esse é Todd Southgate, diretor do documentário Belo Monte: Depois da Inundação, lançado no dia 5 de dezembro em Brasília, na presença de seus protagonistas: os povos indígenas do Rio Xingu, barrado pela infâme construção. Também participaram outros povos ameaçados pela produção de energia, que habitam os rios Madeira, Tapajós, Teles Pires e Juruena.

 

Foto: divulgação / Greenpeace

Foto: divulgação / Greenpeace

 

Antes do início do filme, que explora a história e consequência de uma das obras mais violentas e controversas do mundo, foi apresentado um estudo de impactos econômicos caso a Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Rio Tapajós, fosse construída. No total, R$1,9 bilhão seriam perdidos em impactos não avaliados pelos estudos do governo, como perda de renda de subsistência, piora da qualidade d’água e aumento de gases de efeito estufa com a criação do reservatório.

Com a exibição do documentário, foi provado que nenhuma dessas perdas é novidade para aqueles que moram da região da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Muitos vieram às lágrimas vendo a triste realidade que se instalou ao redor de todo o Rio Xingu. “Eu não tinha noção da amplitude dessa tragédia. Todo brasileiro tem que saber disso”, disse, emocionada, a atriz e comediante Maria Paula Fidalgo.


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Seguiu-se então um debate com a presença de Antônia Melo e Raimunda Silva, do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, cacique Gillard Juruna, do Xingu, cacique Juarez Munduruku, do Tapajós, Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, Felício Pontes, procurador da República, Todd Southgate e Philip Fearnside, cientista.

“Esse é um projeto sem fins lucrativos, feito para não deixar Belo Monte cair no esquecimento. Não é entretenimento, é uma ferramenta de resistência para todos os impactados pela obra e também para quem vai ser impactado por outro projeto semelhante”, defendeu Southgate.

Para Antônia Melo, Belo Monte é um crime, que além de tudo agora está atraindo a mineração para o local. “É muita falta de informação. E o filme ajuda com isso. Não há dinheiro que domine um povo consciente”.

Segundo Sônia Guajajara, a resistência contra Belo Monte não é apenas regional, mas nacional e também mundial. “Precisamos fortalecer ainda mais essa aliança que foi criada entre índios, ribeirinhos, organizações, advogados e cientistas”, disse ela.

Por sua vez, o cacique Gillard Juruna contou como perdeu seu irmão pescador recentemente por conta de equipamentos de péssima qualidade da Norte Energia e o cacique Juarez Munduruku chamou atenção para as recentes investidas do poder público: “o governo está vindo com tudo. A usina de Tapajós foi suspensa, mas pode voltar a qualquer momento. Eles não sabem que os Munduruku não têm divisão com a floresta, os animais ou o rio. Nós somos o Tapajós”.

O procurador da República, Felício Pontes, ressaltou: “Belo Monte tem que servir de exemplo do que não pode mais acontecer”.

Com produção da International Rivers, Amazon Watch e Todd Southgate, e narração de Marcos Palmeira, o documentário foi premiado como melhor filme no júri popular do Festival Cine Amazônia.

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