São Paulo completa hoje 470 anos de uma história que sem dúvida alguma poderia ser transformada com grande pompa em uma superprodução de Hollywood.


A história da cidade brasileira que mais se assemelha aos grandes centros mundiais já foi pesquisada por diversos autores. Quanto à sua fundação há fatos e cenários fantásticos, como a íngreme Serra do Mar e Paranapiacaba. “O vencimento da muralha paranapiacabana exigia ingentes esforço dos primeiros povoadores. No trilho angusto, cortado de resvaladouros, marginal de profundos despenhadeiros, subiam e desciam os homens ‘com trabalho e às vezes de gatinhas’, informava Anchieta ao Geral da sua Companhia em 1585. Por tal estrada ‘podiam subir nenhuns animais’,” descreveu Afonso d’Escragnolle Taunay, consagrado historiador brasileiro (1876–1958), em sua obra “História da Cidade de São Paulo”.

João Ramalho

Há historiadores que creditam a fundação de São Paulo a João Ramalho, genro do cacique Tibiriçá, pai da índia Bartira. Sem a contribuição dele, os primeiros colonizadores enfrentariam dificuldades muito acima do poderio dos canhões e das espadas, do metal e da engenhosidade europeia. O litoral paulista era coalhado de habitantes indígenas contrários aos portugueses. Mesmo com a ajuda de João Ramalho, um dos primeiros habitantes estrangeiros de São Vicente – sua chegada é estimada por volta de 1508-1510 –, que ganhou a simpatia dos nativos, os ataques foram inevitáveis.

 

(E) João Ramalho e Filho – Obra que integra o acervo do Museu Paulista da USP. Coleção José Wasth Rodrigues (1891 – 1957) – CJWR – 1934. Via: Wikicommons
(D) Cacique Tibiriçá e neto – Obra que integra o acervo do Museu Paulista da USP. Coleção José Wasth Rodrigues (1891 – 1957) – Cerca 1932. Via: Wikicommons

 

Cacique Tibiriçá

O poderoso Tibiriçá tinha sua oca próxima ao Rio Anhangabaú, hoje canalizado. Ele vivia onde hoje está o Mosteiro de São Bento. “Por este tempo reinava em Piratininga Tibiriçá, que conservava amizade com os portugueses das vilas de Santo André, de Santos e S. Vicente, e este rei (vulgarmente chamado cacique) existia no lugar onde depois de muitos anos se fundou o mosteiro do patriarca S. Bento.” Nesta explanação sobre a fundação de São Paulo, extraída do livro “História para a Capitania de São Vicente”, o célebre historiador Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714–1777), deixa clara a intervenção do chefe nativo para viabilizar o trânsito dos padres jesuítas entre o litoral e o planalto.

Fundação de São Paulo

Na continuação dessa mesma obra, Pedro Taques descreve o que ocorreu depois da chegada dos padres Leonardo Nunes, José de Anchieta, Manoel de Paiva e o fundador Manoel da Nóbrega. “Por conta desta amizade e antiga paz deste rei saíram do colégio da Vila de S. Vicente, no princípio do mês de janeiro do ano de 1554, treze ou quatorze jesuítas, e por superior deles o padre Manoel de Paiva, a fundar uma casa de residência em Piratininga, cujos campos, por sua admirável e apreciável vista, fertilidade e abundância, descreve o padre mestre Simão de Vasconcelos na Crônica do Brasil, livro 1º pág. 129. ‘Em uma casinha coberta de palha se celebrou a primeira missa no dia 25 do mesmo mês de janeiro, que por ser dedicado ao apóstolo e doutor das gentes ficou dando o seu nome a terra chamando-se S. Paulo de Piratininga’.”

 

Pateo do Colégio, 1858 – Obra que integra o acervo do Museu Paulista da USP. Coleção José Wasth Rodrigues – CJWR – 1918. Via: Wikicommons

 


Fonte: Livro “Memórias do Tatuapé – Uma viagem às origens nos séculos XV a XVII”, autoria de Gerson Soares.


Destaque – Imagem: aloart


Publicação:
Quinta-feira | 25 de janeiro, 2024