Essas duas características em particular, somadas a um passado marcante, deram o tom da visita ao casal que vive no Tatuapé. “Guardar momentos como este e registrá-los para que outras pessoas compartilhem dessa felicidade é muito especial,” descreveu o jornalista Gerson Soares que os visitou ontem, 24 de janeiro, véspera dos 470 anos de São Paulo.
Unidos em um casamento que perdura por 62 anos, Armando Francisco Marengo e Níobe Amaral Souza Marengo são companhias agradabilíssimas nas conversas sobre diversos temas pelos quais discorrem com interesse e avidez, respectivamente aos 91 e 92 anos. Em suas memórias, as lembranças das viagens ao exterior, exposições constantes à cultura – óperas, música, teatro, cinema – e a herança do nome familiar. As horas, de uma tarde que adentrou o início da noite, passaram rapidamente e a sensação é de que ainda havia muito para ser dito. O nome da musa desse encontro provém da Mitologia Grega. Níobe era filha de Tântalo, filho de Zeus; e sua mãe, filha de Atlas.
Convivendo com a Cultura
Vivacidade é a característica que denota vitalidade; de quem consegue compreender com facilidade, esperteza, ímpeto. “É uma raridade ter alguém para conversar”, referiu-se Marengo à possibilidade de encontrar pessoas interessadas no conhecimento amplo, com as quais se acostumou conviver desde a infância. Uma delas o patriarca da família, Francisco Marengo, notório admirador de arte e cultura, frequentador assíduo do Teatro Municipal. O anfitrião, seu neto, transporta essa marca aos nossos dias pela convivência e afinidade com o avô. Apaixonado por cinematografia é dele o vídeo que pode ser assistido ao final desta matéria. Talvez, sua paixão tenha influenciado o filho Francisco Armando Marengo, proprietário de uma produtora de vídeos.
Aproveitar bons momentos
Francisco Marengo, avô de Armando, chegou ao Brasil em 1.885 – se casaria com Emília em 1898 –, empreendeu e tornou suas chácaras famosas, fincando raízes no interiorano Tatuapé. Enquanto a família de Genésio e sua esposa Auda, pais da Níobe, moravam no bairro vizinho e não menos aprazível, Belenzinho. O corre-corre atribulado destes anos 2020 está muito distante da pacata São Paulo dos anos 1930, onde cresceram os dois protagonistas. Nessa época, na qual cresceram seus filhos e logo os netos, era possível admirar a natureza e as coisas belas, aproveitar as boas companhias. “A oportunidade de viver o momento”. A frase foi dita por Níobe, nos ensinando sobre admirar as ocasiões satisfatórias que a vida nos apresenta e aproveitá-las intensamente.
Astronomia
Sentada em um dos sofás, proximamente, Níobe apressou-se em nos acompanhar à mesa que fica ao lado da varanda onde estávamos. O assunto agora era astronomia. “Qual o interesse que os ETs teriam na Terra?,” questionou Marengo que também transformou suas indagações em vídeo. Na continuação começaram a verificar com despertada curiosidade as ‘aventuras’ da NASA e seus telescópios, como o Hubble e o James Webb, que têm trazido à luz da humanidade descobertas fantásticas sobre o espaço, que antes só podiam ser imaginadas.
Tatuapé
Quando falamos como é viver nos dias atuais, Marengo diz que ele e a esposa dirigem automóveis, são pessoas independentes e ativas. No entanto, a influência das lembranças está presente. Localizando as chácaras da família – tendo como referências as atuais vias do Tatuapé, a principal ficava na Rua Serra de Bragança, outra na Rua Francisco Marengo e havia mais duas –, o ancião conta sobre o Riacho que descia a atual Rua Monte Serrat, uma das divisas da propriedade principal. “Eu quase me afoguei, era pequeno; meus primos me salvaram. Na chácara da fonte, brotava uma água muito pura, quase mineral e meu avô com o Antônio Camardo a comercializavam.” Essa propriedade ficava na Rua Euclides Pacheco e os sócios a vendiam com o nome de “Água Brilhante”.
Revolução de 1924 passou pelo bairro
Ao confrontar o então governo de Artur Bernardes, São Paulo enfrentou dias difíceis quando tropas federais invadiram os bairros da cidade, dentre eles o Tatuapé, Mooca e Brás. “Meu pai que já tinha carro levou meus avós para o Guarujá, a uma propriedade da família. Ao voltar encontrou as tropas do governo em nossa casa. Eles amarravam os cavalos nos pés das mesas. Quando saíram deixaram tudo destruído.” Aquartelados na casa de Francisco Marengo, os morteiros disparados do Tatuapé atingiam o Alto da Mooca, mas foram direcionados para errar os alvos. Porém, esta história vai ficar para outra oportunidade. Armando Marengo é filho de César Marengo que assumiu o lugar do pai nos negócios da família.
Destaque – Visita a Níobe e Armando Marengo na tarde que antecedeu o aniversário de São Paulo. Foto: aloimage
Publicação:
Quinta-feira | 25 de janeiro, 2024