Domingo | 26 de fevereiro, 2023
A descoberta foi feita pelo professor da Escola de Humanidades, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Édison Hüttner, em 2017. Desde então ele lidera uma equipe de pesquisadores formada por Eder Abreu Hüttner, Fernanda Lima Andrade e Rogerio Mongelos.
Uma importante revelação que já foi publicada pelas revistas Visione LatinoAmericane da Università Degli Studi Di Trieste – Itália; Aventuras na História (AH) e pela PUCRS no final de janeiro deste ano, chega aos conhecimento dos nossos leitores. Esta história começa em 2017, quando o professor Édison Hüttner recebeu uma ligação que conforme declarou em entrevista à AH “definiria seus próximos cinco anos de estudo acadêmico”. De acordo com a entrevista do pesquisador, “do outro lado da linha, estava Andréa Sinnemann Geh, uma moradora da cidade de Panambi, no Rio Grande do Sul. Ela conheceu o trabalho do professor através de uma aparição dele na televisão e dizia ter acesso a um livro antigo. A obra em si pertencia à sua tia, Liane Janke, tendo sido passada a ela como herança de família”, declarou àquela publicação.
Autenticidade
Hüttner foi à casa de Liane, cuja família possui origem teuto-brasileira, residente no Município de Panambi, interior do Rio Grande do Sul. Ela então relatou que quando residente no Município de Posadas (Provincia de Missiones, Argentina), recebeu o Manuscrito de herança da família de seu esposo falecido. Depois dos longos estudos e ao constatar a autenticidade do Manuscrito ele e sua equipe apresentaram um artigo à revista Visione LatinoAmericane, um dos periódicos científicos mais importantes da Europa. “Os autores ilustram sua originalidade, descrevendo e comentando seus conteúdos interdisciplinares persistentes nos estudos de astronomia de Buenaventura Suárez”, diz o artigo que destaca a versão bilíngue do lunário – espanhol e latim – escrito por jesuítas e indígenas Guarani em papel fabricado em Gênova, na Itália.
Conhecimentos inéditos de astronomia e cultura
As pesquisas sobre a obra, realizadas pelo pesquisador Édison Huttner e sua equipe, representam a identidade de indígenas e jesuítas que viveram nas trinta Reduções da Província do Paraguai. Escrito por várias mãos com caligrafia elegante e bem legível, o Manuscrito apresenta várias temáticas e se destaca por sua perspectiva didático-pedagógica e de aprendizagem, destinado para estes leitores: a) os mestres jesuítas que utilizavam o conteúdo para sua formação teológica, de magistério e de estudos como astronomia para a localização da Redução; b) os índios das escolas das missões em sua formação de cultura geral.
Buenaventura Suárez
O Manuscrito é uma obra rara escrita entre os anos de 1730-1740 em alguma Redução da Província jesuítica do Paraguai (século XVIII). Nas páginas 505-506 do Manuscrito está escrita a cronologia dos papas. No número do Registro 249 aparece Clemente XII (1652-1740), Papa que governou a Igreja católica durante o período em que o almanaque foi escrito. Os estudos de astronomia de Buenaventura Suárez – jesuíta argentino que nasceu em 1678 – estavam na mira dos militares portugueses para demarcar com precisão o território pertencente aos Sete Povos das Missões, e assim, definir uma vez por todas as fronteiras de cada estado colonial. Baseados nos estudos de Suárez, Portugal abriu mão aos espanhóis da Colônia de Sacramento (Uruguai) em troca dos Sete Povos das Missões (Brasil).
Fontes, citações e autores:
As devidas fontes, citações e autores mencionados nesta reportagem encontram-se no artigo científico “Manuscrito jesuíta do século XVIII descoberto no Brasil. Estudos de astronomia de Buenaventura Suárez” que pode ser lido clicando no link.
Saiba mais sobre a descoberta feita no sul do Brasil com destaque internacional:
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