Domingo | 26 de fevereiro, 2023

Manuscrito que está sendo estudado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com cerca de 800 páginas escritas à mão por diversas pessoas e registro importante para a história do sul do Brasil.


“O Manuscrito abrange temas de diversas áreas do conhecimento, da cultura geral, como é típico de um almanaque. Não pode haver escassez, é claro, de ciência e temas de época, como astronomia, astrologia, bem como um conteúdo essencial para as missões: a teologia”, explicou o professor Édison Hüttner, em sua mensagem enviada ao portal @alotatuape. Graças a essa comunicação nossos leitores poderão conhecer esse valioso trabalho.

Considerações dos pesquisadores

Sob a coordenação do professor Édison Hüttner, os pesquisadores Eder Abreu Hüttner, Fernanda Lima Andrade e Rogerio Mongelos, nos deixam as seguintes considerações:

“O Manuscrito não é só uma ideia, mas uma obra de couro, tinta e papel, escrita por índios e jesuítas nas Reduções do século XVIII.

O Manuscrito codificou o conhecimento adquirido na Europa e nas Reduções em linguagem bilíngue espanhol/latim, com regras de escrita, espaçamento das linhas e margens, com boa caligrafia. Caligrafia e conhecimento tinham a mesma proposta: aprendizagem contínua, embelezamento em todas as áreas.

Os jesuítas e índios tinham em mãos um Manuscrito contendo as várias áreas do conhecimento que possibilitou a compreensão de seu mundo e de seu tempo. Tinham em mãos: altos estudos de teologia, cultura geral, missões dos jesuítas na China e Japão, sobre os santos católicos, os índios sabiam seu signo zodiacal (ocidental) e a localização de sua Redução (astronomia), em rede com as outras.

A astronomia identificada no Manuscrito se apresenta como ‘astronomia suarense missioneira’ elaborada por Buenaventura Suárez (americano), dentro de uma Redução, com um centro astronômico construído com materiais locais, com ajuda de índios. O astrônomo divulga nas Reduções a arte de observar estrelas, a arquitetura astronômica, os signos do zodíaco; em outras palavras, os índios tinham conhecimento de seu signo zodiacal. É fascinante. A astronomia ‘tocou’ em cada Redução, registrando as coordenadas geográficas que as localiza no mapa e na mente das populações missioneiras. E, assim como a astronomia, a arte de ler e escrever, de fascinar-se com a história, a religião e cultura de outros povos, tocou.

A visão do mundo depende do ângulo que escolhemos, da tradição com a ciência, e suas contínuas metáforas. A leitura do Manuscrito nos inspira a novas interpretações, a partir de cada tema e da astronomia de localização de uma Redução e seu contínuo significado em rede.”


Fontes, citações e autores:
As devidas fontes, citações e autores mencionados nesta reportagem encontram-se no artigo científico “Manuscrito jesuíta do século XVIII descoberto no Brasil. Estudos de astronomia de Buenaventura Suárez” que pode ser lido clicando no link.


Saiba mais sobre a descoberta feita no sul do Brasil com destaque internacional:

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