Domingo | 26 de fevereiro, 2023

Em síntese, as missões jesuíticas na América colonial também ficaram conhecidas como Reduções. Os aldeamentos indígenas foram sendo criados, organizados e administrados pela Ordem dos Jesuítas, durante o século XVII. O objetivo foi desenvolver um modelo civilizador e evangelizador, baseado nos costumes europeus, mas respeitando determinadas tradições dos nativos Há controvérsias sobre os métodos e os historiadores ainda debatem o tema.


“Havia um princípio nestas Reduções, selado como uma marca d’água no papel de manuscritos: fazer tudo com arte e harmonia. A confecção artesanal de manuscritos realizada por jesuítas e índios tornou-se arte de verdade. Este é poder simbólico que embelezou aquela imensa rede de gentes que alcançou em 1732 uma população composta por 141.182 habitantes, no mapa das trinta Reduções jesuíticas da Província jesuítica do Paraguai do século XVII-XVIII, cujas ruínas se encontram ainda hoje, no sul do Paraguai, no nordeste da Argentina, em parte do Uruguai e no sul do Brasil (noroeste do Rio Grande do Sul) – a expressão deste mundo de trinta Reduções inaugurou novo conceito cultural: helenismo sul-americano missioneiro”, descrevem o professor Édison Hüttner e sua equipe – Eder Abreu Hüttner, Fernanda Lima Andrade e Rogerio Mongelos – na introdução do artigo científico publicado no dia 28 de janeiro de 2023 nas revistas Visione LatinoAmericane da Università Degli Studi Di Trieste – Itália; Aventuras na História (AH) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Trinta Reduções

“As trinta Reduções se situavam no tempo e espaço graças a disseminação dos estudos de astronomia de Buenaventura Suárez, precursor da astronomia americana. Seus estudos foram referência para matemáticos e cartógrafos que projetaram os melhores mapas de seu tempo. Pelos mapas e coordenadas geográficas das Missões era possível a saída e entrada de pessoas de todo mundo nas Reduções. Quando uma Redução aumentava o número de habitantes, realizavam-se expedições com a finalidade de encontrar terras apropriadas para fundar novas Reduções. Unia-se a experiência ancestral dos índios que conheciam as matas e localização de fontes de água, com o conhecimento dos jesuítas, de sua astronomia, assim identificavam os melhores terrenos propícios para traçado de plano urbanístico, para plantar e fundir metais, etc., – ao mesmo tempo, como práxis, marcavam o território da Redução com uma cruz, batizando-a com o nome de um santo”, detalha o artigo científico.

 

Vista aérea do templo das ruínas de São Miguel Arcanjo, tombado como patrimônio da humanidade em 1983, localizado em São Miguel das Missões, RS. Foto: Portal das Missões / Divulgação.

 

Helenismo Sul-Americano Missioneiro

“Helenismo é um grande fenômeno existente na história da humanidade,” explica Édison Hüttner. Para ele, essa manifestação existiu e esse conceito é chamado de Helenismo Sul-Americano Missioneiro, determinado pelo “encontro da cultura grega com outras culturas”, expôs, comparando-o com o que ocorreu na Europa e Ásia menor. “Pois foi também um encontro de culturas: ocidental com mãos de jesuítas e guaranis. Helenismo ainda por que abrange trinta Reduções. Helenismo por que também existe arte, escultura e filosofia grega. E isto é único além dos mares. E é grande. Sul-americano para identificar o lugar: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Estas construções representam identidade americana e latino-americana. E forjou, por suas expressões culturais a personalidade de gerações.” Helenismo Sul-americano Missioneiro é um novo conceito cultural encontrado nas missões que compreende a Província Jesuítica do Paraguay (Séc. XVII-XVIII).

Saiba mais

São Miguel das Missões (foto) – visitado por mais de 134 mil pessoas em 2019 e numa expectativa de receber 150 mil turistas (dados Secretaria Municipal de Turismo local) em 2020, é um dos locais emblemáticos sobre o Helenismo Sul-americano Missioneiro. Leia mais sobre as abordagens dos pesquisadores, quanto aos temas relativos:
1. A Província jesuítica do Paraguai;
2. A redução;
3. A gênese da arquitetura jesuítica-guarani;
4. Guarani, sagrado e profano;
5. Identidade dos conceitos;
6. Helenismo sul-americano missioneiro.

 

Helenismo Sul-Americano Missioneiro: O tema escrito por Édison Hüttner, Eder Huttner e Rogério Mongelos repercutiu em âmbito internacional ao ser publicado em 2016 na Revista Visioni LatinoAmericane dis Centros de Estudos para América latina da Universidade de Trieste, Itália – antes da descoberta do Manuscrito. O artigo é endereçado à comunidade científica, bem como para capacitação de agentes de turismo, professores e escolas da rede pública e privada – que desejam saber profundamente e de modo didático a história missioneira. Foto: Templo das ruínas de São Miguel Arcanjo, tombado como patrimônio da humanidade em 1983, localizado em São Miguel das Missões, RS. Foto: Portal das Missões / Divulgação.


Fontes, citações e autores:
As devidas fontes, citações e autores mencionados nesta reportagem encontram-se no artigo científico “Manuscrito jesuíta do século XVIII descoberto no Brasil. Estudos de astronomia de Buenaventura Suárez” que pode ser lido clicando no link.


Saiba mais sobre a descoberta feita no sul do Brasil com destaque internacional:

:: Manuscrito jesuíta revela conhecimentos inéditos no século XVIII, conheça
:: As trinta Reduções Jesuíticas e o Helenismo Missioneiro na América do Sul
:: Buenaventura Suárez, primeiro astrônomo americano – nativos sabiam os seus signos
:: Considerações dos pesquisadores sobre o Manuscrito de Panambi