Domingo | 3 de maio, 2020 | 13h20


Com a decretação do estado de emergência em São Paulo pela Prefeitura e a quarentena pelo Governo, desde março é permitida à governança local ditar diversas ações para conter a epidemia de coronavírus. O problema está na falta de credibilidade que norteia os comportamentos impostos.

Gerson Soares

O Prefeito Bruno Covas decretou estado de emergência no dia 16 de março, publicado no Diário Oficial do dia seguinte. “Com a publicação do decreto, a Prefeitura poderá requisitar bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, com posterior indenização. Também haverá dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços destinados ao enfrentamento da emergência.”

 

Hospital de campanha no Ibirapuera para tratamento de COVID-19 erguido em tempo recorde, sem licitação devido ao estado de emergência atual. Custo informado de 12 milhões, mais 10 milhões por mês para manutenção. Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

 

Uma série de postagens e vídeos nas redes sócias e na mídia (alguns fake), com covas prontas para sepultamentos no Cemitério da Vila Formosa, pessoas apontando sinais de manipulação de dados por morte diferente das informadas pelos órgãos públicos que não lhes permitiram sepultar devidamente seus entes queridos e uma série de desencontros administrativos, além do uso político das informações ao público, levaram as autoridades paulistas a um descrédito perante a opinião pública diante da epidemia.

Hospitais públicos e rede privada

Essa falta de credibilidade dos órgãos municipais, estaduais e o coronavírus, demonstram claramente e expõem as mazelas das administrações que ditam regras à distância da população, neste caso no que tange à saúde. É fato que o serviço público de saúde melhorou, mas ainda deixa a desejar faz muito tempo. Há críticas quanto à vontade política de acelerar obras em hospitais existentes em detrimento dos hospitais de campanha instalados sem licitação devido ao estado de emergência decretado, favorecendo os desvios de verbas de saúde para facções políticas.

Diante da necessidade de uma parceria com a rede privada para utilização de leitos, durante a coletiva de imprensa do dia 1º de maio, o coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, David Uip, ditou protocolos de tratamento para a COVID-19. Segundo ele, o serviço público de atendimento às vítimas é o parâmetro a ser seguido “rigorosamente”. Por sua vez, o prefeito Bruno Covas disse que se os hospitais particulares não negociarem com a Prefeitura serão forçados a ceder os leitos.

Conforme divulgou o Governo do Estado, foram gastos 12 milhões com a obra do hospital erguido no Ibirapuera (Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães) em parceria com a Secretaria de Estado de Esportes. O funcionamento teve início no dia 1º de maio e o custo mensal de manutenção será de 10 milhões por mês. Não é necessário licitação devido ao atual estado de emergência.

Calamidades unidas

Não é só o coronavírus que atormenta a vida do paulistano. Enquanto outras avenidas de São Paulo mereceram o aumento máximo das velocidades, a Radial Leste – alvo de blitz educativa nesta segunda-feira (4) – continua amargando os 50 km/h. Por ali nada mudou, nem com o ex-prefeito Doria ou na gestão Covas. As multas continuam alimentando os cofres públicos e o dinheiro não se sabe exatamente para onde vai.

Em época de coronavírus, que irá passar, não custa lembrar a calamidade das multas de trânsito que afetam o bolso dos paulistanos. Na Avenida Celso Garcia, que recentemente foi aberta – não era sem tempo – aos motoristas da zona Leste que se dirigem ao Centro e região do Largo da Concórdia, a velocidade é de 40 km/h. Certeza de multas para os incautos e aumento do volume de verbas para esse vergonhoso flagelo diário.

A busca incessante por verbas para destinações questionáveis, sem que o retorno seja vislumbrado pelos paulistas, proporciona dúvidas e falta de credibilidade ao governo.