O professor Rodolfo de Carvalho, médico ginecologista e obstetra descreve o que a literatura e a prática ensinam sobre o tema.
De forma geral, muitas pessoas acreditam que a sexualidade muda durante a gestação e puerpério no sentido negativo, ou seja, que muitas mulheres se desinteressam em ter atividade sexual ou que a gestação ou puerpério são períodos nos quais se deve evitar a atividade sexual penetrativa.
A sexualidade é influenciada por diversos fatores, incluindo questões sociais, culturais, psíquicas e biológicas. Sendo assim, no ciclo gravídico-puerperal, período atravessado por diversas transformações físicas e emocionais, não é incomum que muitas mulheres tragam aos profissionais de saúde queixas relacionadas à vivência da sexualidade.
Ao longo dos meses de gravidez
Sabe-se que o interesse pela atividade sexual deve ser avaliado de um ponto de vista multifatorial. Na gestação, é bastante comum que durante o primeiro trimestre gestacional, tanto o desejo sexual quanto a prática diminuam por conta dos sintomas físicos (náuseas, vômitos, sonolência e indisposição em geral), emocionais (mudanças de humor, como a notícia da gestação está sendo recebida, relacionamento com parceria…) e por mitos de que a atividade sexual possa aumentar as chances de um aborto espontâneo.
No segundo trimestre, a literatura mostra (e vemos isso bastante na prática clínica) que pode haver uma oscilação entre aumento e declínio do desejo e prática sexuais. Nesse momento os sintomas desconfortáveis do primeiro trimestre já passaram ou diminuíram, os níveis de estrogênio estão altos, o medo de um aborto espontâneo já é menor e a pelve está fortemente vascularizada. Isso tudo promove uma sensação de bem-estar que favorece o engajamento em práticas sexuais. A vascularização pélvica aumentada facilita a lubrificação e o orgasmo, e assim, muitas mulheres não só referem maior engajamento nas práticas sexuais no segundo trimestre, como também referem uma resposta sexual mais prazerosa e satisfatória.
Já no terceiro trimestre, embora essas condições permaneçam, pode haver redução das práticas sexuais muito por conta dos desconfortos físicos decorrentes do avanço da gestação e da proximidade do parto.
Sexualidade no pós-parto
No pós-parto, além das questões hormonais envolvidas (queda brusca de estrogênio, predomínio de progesterona e aumento da prolactina), a atenção da mulher está totalmente voltada ao recém-nascido. O casal precisa, ainda, se adaptar à nova rotina e a todas as mudanças trazidas pela chegada do bebê. Naturalmente, o interesse pela atividade sexual fica diminuído nesse período, diante de tantas mudanças que essa mulher precisa assimilar e reorganizar (internamente e externamente).
Em relação à atividade sexual penetrativa ser contraindicada, trata-se de um mito muito comum. Não há razões para se contraindicar a atividade sexual penetrativa em mulheres com gestação de risco habitual; o casal deve se auto-regular com relação a isso e a conversa deve ser o ponto de referência mais importante para o casal. A penetração deve, no entanto, ser interrompida em casos específicos
Fonte: SOGESP / Rodolfo de Carvalho Pacagnella – Médico Ginecologista e Obstetra – Professor Livre-docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
Destaque – Imagem: aloart
Publicação:
Domingo| 11 de agosto, 2024