A liberdade, a justiça e a democracia em dissonância

O Brasil vive um de seus momentos mais distantes no que se refere à democracia, confiança na economia, educação, segurança pessoal e jurídica. A liberdade de expressão também é alvo de trágicos acontecimentos.

“A pior ditadura é a do Judiciário. Contra ela não há a quem recorrer.” — Rui Barbosa (1849 – 1923).

Por Gerson Soares

O Brasil se tornou um país atolado em corrupção. Esse sistema criou raízes. Esse tipo de comportamento leva a vantagens e crimes em diferentes níveis de gravidade, mas a grande diferença é a forma como a Justiça enxerga cada um e sua importância no contexto de interesses e poderes.

Ainda alarmante, a forma como a Lava Jato, maior operação contra a corrupção já vista no país, que levou o atual presidente à prisão – seguido antes e depois por outros envolvidos em atos corruptivos –, depois de ter o trabalho de seus membros plenamente reconhecido em território nacional e internacionalmente, foi totalmente desmoralizada e seus componentes perseguidos. Como brincam os brasileiros em seu eterno bom humor: “Os bandidos prenderam os mocinhos”.

As nuances de um país que parece ser ingovernável, ainda passam por diversos setores, como a Política, Economia, Educação, Segurança pessoal e jurídica, Saúde, entre outros – que se apresentam sem solução há décadas. A maior parte da população sobrevive graças aos favores governamentais e o assistencialismo.

Maior evento maçônico de 2024 (leia aqui)

Uma das mais importantes instituições mundiais, a Maçonaria tem e já teve em seus quadros os mais importantes e destacados personagens, desde que se tem notícia de seu desenvolvimento perante os olhos das sociedades mundiais. No mundo, ao longo dos tempos, os membros dessa irmandade já presenciaram a justiça e foram vitimados pela injustiça. No Brasil, desde o império, decisões importantes foram tomadas através de personagens maçônicos.

Tendo como referência a redemocratização do país – culminada oficialmente em 1985 –, há cerca de 15 anos tivemos a chance de levar a um membro do mais alto grau maçônico questão que norteia mentes que imaginam um país melhor. Buscávamos uma resposta sobre a atuação da entidade. Pensávamos nos grandes vultos, cujas decisões mudaram o rumo dos acontecimentos.

A resposta foi para que tivéssemos mais empenho nos estudos sobre o tema que ainda nos esforçamos para decifrar. Infelizmente esse maçom já faleceu sem que pudéssemos dar-lhe conta do nosso esforço. No entanto, já adquirimos o mínimo conhecimento sobre a complexidade que é governar o Brasil, um país onde a ‘corda’ pende para os lados que não convergem com os anseios da grande maioria do seu povo, que vive na pobreza, trabalhando como pode pelo ‘pão’ de cada dia, enquanto sonha com uma vida melhor…

Ponto de vista

Todavia, diante do evento realizado no bairro Tatuapé em São Paulo pela ACAOL – “A Maçonaria e sua contribuição para o mundo contemporâneo” –, durante a XXIX Jornada Maçônica do Brasil, a questão adormecida nos veio novamente açoitar. Assim, a levamos ao organizador e presidente da ACAOL, José Renato dos Santos, que expôs seu ponto de vista, como reproduzido a seguir.

Alô Tatuapé – Repetindo a mesma pergunta de 15 anos atrás a um membro de alto grau maçônico: O Brasil está assim porque a maçonaria continua trabalhando ou porque parou de trabalhar?

Irmão José Renato dos Santos – A situação do Brasil, como a de qualquer país, é resultado de uma combinação complexa de fatores políticos, sociais, econômicos e históricos. A Maçonaria é uma organização fraternal com raízes em princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, e tem uma longa história de envolvimento em diversas questões sociais e políticas, mas não há um único ou principal fator que explica a realidade do país.

É importante salientar que as instituições, movimentos e até mesmo correntes de pensamento que moldam a sociedade são multifacetados e interdependentes. Penso que afirmar que a situação do Brasil se deve apenas à atuação ou à falta dela da Maçonaria simplifica demais uma questão muito mais complexa. A realidade do país resulta de uma interação de muitos elementos, incluindo governança, políticas públicas, participação cidadã e outros fatores sociais e econômicos.

A Maçonaria, como uma organização fraternal com princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, teve influência, sim, em vários aspectos da história e política brasileira. Exemplos são a Proclamação da República e a Abolição da Escravidão. Ao longo da história, também se envolveu em questões sociais, como a educação, e apoiou causas que buscavam justiça social e igualdade.

Porém, a ideia de que a Maçonaria está “parada” pode não refletir a realidade. A Maçonaria continua a existir e a operar em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, onde mantém suas atividades. No entanto, a influência e o papel que ela desempenha na sociedade contemporânea podem ter mudado. Separei alguns pontos de destaque sobre essa atuação atual:

:: Muitas Lojas Maçônicas continuam promovendo atividades sociais, filantrópicas e culturais. Elas frequentemente se envolvem em obras de caridade e em projetos comunitários;
:: A participação de maçons em posições de liderança em diferentes setores da sociedade ainda é uma realidade, embora o grau de influência possa variar;
:: A Maçonaria está se adaptando a novas realidades sociais e políticas, buscando formas de se envolver que estejam mais alinhadas com os desafios contemporâneos. A XXIX Jornada Maçônica do Brasil, um evento híbrido que busca reflexão e união para fomentar ações positivas, é um exemplo.

Destaque – Imagem: aloart

Publicação:
Sábado | 5 de outubro, 2024

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