Domingo | 12 de maio, 2019 | 11h46
O papel da pesquisa científica e da comunidade do conhecimento na promoção do desenvolvimento sustentável foi o tema de uma videoconferência realizada pelo economista e analista político norte-americano Jeffrey Sachs no dia 3 de maio, durante a 8ª Reunião Anual do Global Research Council (GRC).
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
A palestra ocorreu no último dia do encontro internacional que reuniu, em São Paulo, dirigentes de agências de fomento à pesquisa de meia centena de países dos cinco continentes. A reunião do GRC foi organizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo Consejo Nacional de Investigaciones Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina, e pela German Research Foundation (DFG), da Alemanha.
Autor do best-seller The End of Poverty (O Fim da Pobreza), entre outras obras de impacto, Sachs é uma das maiores autoridades mundiais na área do desenvolvimento sustentável, tendo atuado, sucessivamente, como consultor especial de três secretários-gerais da Organização das Nações Unidas (ONU): Kofi Annan, Ban Ki-Moon e António Guterres. Além de governantes de diversos países da América Latina, África, Ásia e Leste Europeu.
Atualmente com 64 anos, dirigiu o Earth Institute da Columbia University, onde detém o título de University Professor, a mais alta qualificação que as instituições de ensino superior dos Estados Unidos concedem aos integrantes de seus corpos docentes.
Na apresentação por videoconferência, Sachs definiu desenvolvimento sustentável como desenvolvimento econômico com justiça social e sustentabilidade ambiental.
Conforme afirmou, essa tríade forneceu o quadro de referência para o Acordo de Paris, formulado no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima em 2015, e subscrito por todos os países-membros da ONU no ano seguinte.
“A razão pela qual o desenvolvimento sustentável tornou-se referencial para a ONU é a crise. E a crise decorre de que a economia mundial não atende a objetivos econômicos, sociais e ambientais de maneira holística. Em vez disso, a economia mundial tornou-se eficaz em produzir crescimento econômico, mas é ineficaz em produzir justiça social e desastrosamente contrária à sustentabilidade ambiental”, disse.
O resultado, segundo o analista, é que o sistema econômico mundial cresce, mas cresce desigual e insustentavelmente. Para Sachs, isso requer uma mudança nas políticas públicas, mas também uma mudança nas tecnologias, que precisa ser guiada pelas ciências básicas. E integrar essas três áreas – ciências básicas, engenharias e ciências políticas –, de modo a poder responder às grandes questões da atualidade, constituiria um enorme desafio para o que ele chamou de “comunidade do conhecimento”. A esta caberia liderar o processo, uma vez que os governos estariam intelectualmente despreparados e politicamente desinteressados em enfrentar problemas tão graves como o das mudanças climáticas globais.
“Necessitamos de ciência para tornar evidente quais são as restrições ambientais e as soluções necessárias. Se a ciência for completamente perdida, não iremos sequer saber que o planeta está se aquecendo, não entenderemos a climatologia e as dimensões do desafio, e não teremos ideia de como mapear o caminho para a segurança”, disse.
De acordo com Sachs, mesmo o melhor cenário vislumbrado no Acordo de Paris, de um aquecimento global menor do que 1,5º C, seria muito perigoso. E não impediria o derretimento das calotas polares. O analista insistiu na necessidade de uma “descarbonização” total do setor energético, com a redução a zero das emissões até meados do século. “Então, precisamos dos engenheiros para nos dizer como isso pode ser feito. De fato, os caminhos para a descarbonização profunda estão atualmente sendo elaborados por engenheiros especialistas”, afirmou.
Na visão de Sachs, a descarbonização profunda constitui o primeiro e o mais premente tópico de uma lista de seis desafios que apresentou na videoconferência. Os demais são, pela ordem: o uso sustentável da terra e a produção de alimentos, preservando os últimos bolsões de biodiversidade do planeta, como a floresta amazônica; saúde e bem-estar, com o controle de doenças transmissíveis e não transmissíveis; educação; urbanização sustentável, considerando que cerca de 2,5 bilhões de pessoas serão incorporadas às cidades nas próximas décadas, compondo com os habitantes urbanos atuais e seus descendentes 70% da população mundial em meados do século; e tecnologia de informação, com ênfase na governança das grandes corporações do setor, de modo a preservar a liberdade e a privacidade dos usuários.
Para enfrentar tais desafios, Sachs enfatizou a importância da integração do conhecimento, apoiada no tripé ciências básicas, engenharias e ciências políticas. “Necessitamos de todas estas três aproximações disciplinares, trabalhando de maneira integrada”, disse.
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