Estamos analisando o arquivamento de um processo que poderia ter mudado a forma de agir de vigias noturnos motorizados ou pelo menos amenizar o sofrimento das vítimas dessa atividade. Mas o que aconteceu após a decisão no processo foi exatamente o contrário.
Apesar de apresentar provas, a vítima foi taxada de “pouco colaborativa” pelo promotor de Justiça substituto, David Vasquez. Por sua vez, a Promotora de Justiça Elisa Vodopives pediu que fossem feitas diligências policiais na rua onde a vítima reside para constatar se outros vizinhos também se sentiam incomodados. Estes disseram ao policial que não se incomodam com a barulheira dos vigias noturnos (leia aqui).
Zelosos com sua segurança, ao que parece, já que compactuam com a barulheira que deve lhes garantir a segurança, não se importaram em denunciar às autoridades um veículo que ficou estacionado nessa rua entre o mês de maio e novembro de 2024, quando foi guinchado. Não é possível saber quem o extraiu do local e nem exatamente por que estava lá.
Desova de carros.
O veículo, no valor aproximado de 30 mil reais, ficou estacionado ao lado das casas dessas testemunhas durante 6 meses. Teoricamente, deveria ter sido averiguado pelas rondas policiais que deveriam existir no local ou pelos eficientes vigias noturnos – um alegou exercer vigilância há 13 anos e o outro há 16 anos. Afinal, suas placas de publicidade vistas nas fachadas das casas afirmam: “Contato com o 30º DP” (leia aqui).
Outro carro desovado na área dos vigias? O carro preto desta imagem, feita pela nossa equipe, da marca Audi Q5, ficou parado na Rua Henrique Dumont, próximo ao final da Rua Emílio Mallet, no bairro Tatuapé, por onde trafegam diariamente os vigias noturnos motorizados acionando suas tormentosas sirenes.
O veículo que alcança valores entre 250 e 300 mil reais foi encontrado durante estas reportagens com partes amassadas e pneu dianteiro vazio ou estourado devido à colisão, como mostra a foto.
Estacionado desde o dia 4 de fevereiro, quando o fotografamos, permaneceu no local até o final de março de 2025.
Imagina-se que os vigias deveriam ter avisado a polícia com a qual têm contato. Por sua vez, a ronda da Polícia Militar, contra a qual existem argumentos de falhas na região, também deveria ter percebido o veículo rapidamente.
Vários crimes.
Diversos crimes já aconteceram na rua onde os vizinhos testemunharam a favor dos vigias, dizendo que não se importam com o barulho.
Fomos informados de que só nesse lugar houve três invasões de residências e a um comércio – logo depois que este abriu as portas no local. A empresa não pagava os vigias noturnos, depois pagou durante um tempo e hoje conta com vigilância própria para funcionar.
Conversamos com outros empresários que, obviamente, não quiseram se identificar. Estes, apesar de procurados, se recusam a pagar pelo serviço dos vigias por não acreditarem que isso possa lhes trazer segurança. Essa missão é da ronda policial.
Há até mesmo comentários de furtos de fiação no local, durante as supostas rondas dos vigias.
Programa Vizinhança Solidária (saiba mais aqui)
Aproximadamente 80% das ruas onde existiam contratantes desses vigias, os moradores aderiram ao Programa Vizinhança Solidária da Polícia Militar, após o início das reportagens divulgando o programa. Hoje esses moradores se conhecem melhor e compartilham quaisquer informações. Há câmeras nas ruas que também favorecem a vigilância de forma atualizada e eficiente.
Nossa equipe demonstrou e continua demonstrando que o barulho incomoda muita gente. Há uma amplitude de vídeos e reportagens a respeito na internet. Mas para a Promotoria Criminal do Tatuapé, a vítima deveria obter mais provas. Apesar de os fatos aqui narrados serem do conhecimento policial e da população.
As pessoas têm medo de se manifestar contra os vigias que perambulam pelas madrugadas, não querem confusão e, obviamente, não querem envolver suas famílias.
Autoridades policiais e judiciárias que deveriam coibir, fiscalizar ou apurar os fatos que estamos relatando nestas reportagens, continuam provendo-os de total liberdade. De fato, sem explicação. Essa atitude lhes permite fazer ameaças, atormentar a vida e a saúde de quem precisa acordar cedo e trabalhar duro para ganhar o pão de cada dia.
Continue lendo e compartilhe para que mais pessoas possam debater sobre o tema.
Destaque – Foto: aloimage / + aloart / G I