Quarta-feira | 17 de junho, 2020 | 15h39
A Universityof Oxford divulgou, nesta terça-feira (16), mais uma boa notícia que traz alento aos pacientes e àqueles que cuidam das pessoas acometidas pelo coronavírus. No dia 4 de junho, a universidade iniciava com sucesso a 3ª fase de uma vacina contra a doença (leia aqui). Agora os ingleses adiantam um novo protocolo de tratamento contra a COVID-19 à base de dexametasona. Se as previsões desses pesquisadores se concretizarem, pode ser o fim do uso da polêmica cloroquina.
COMBATE AO COROVANÍRUS
Dexametasona reduz a morte em pacientes hospitalizados com complicações respiratórias graves de COVID-19
Gerson Soares
com as informações da University of Oxford, UK
Em março de 2020, o estudo RECOVERY (Randomized Evaluation of COVid-19 thERapY) foi estabelecido como um ensaio clínico randomizado para testar uma variedade de tratamentos em potencial para o COVID-19, incluindo baixas doses de dexametasona (um tratamento com esteroides). Mais de 11.500 pacientes foram matriculados em mais de 175 hospitais do NHS no Reino Unido.
Em 8 de junho, o recrutamento para a linha de testes com a dexametasona foi interrompido, pois, na visão do Comitê Diretor dos ensaios clínicos haviam sido inscritos pacientes suficientes para estabelecer se o medicamento tinha ou não um benefício significativo.
Um total de 2104 pacientes foram escolhidos para receber dexametasona 6 mg uma vez por dia (por via oral ou por injeção intravenosa) durante dez dias e foram comparados com 4321 pacientes selecionados apenas para os cuidados habituais. Entre os pacientes que receberam os cuidados usuais isoladamente, a mortalidade em 28 dias foi mais alta naqueles que necessitaram de ventilação (41%), intermediária nos pacientes que precisaram apenas de oxigênio (25%) e menor entre aqueles que não necessitaram de intervenção respiratória (13%).

Ingleses adiantam um novo protocolo de tratamento contra a COVID-19 à base de dexametasona. Foto: divulgação / University of Oxford
A dexametasona reduziu as mortes em um terço nos pacientes ventilados (razão de taxa 0,65 [intervalo de confiança de 95% 0,48 a 0,88]; p = 0,0003) e em um quinto em outros pacientes recebendo apenas oxigênio (0,80 [0,67 a 0,96]; p = 0,0021). Não houve benefício entre os pacientes que não necessitaram de suporte respiratório (1,22 [0,86 a 1,75]; p = 0,14).
Com base nesses resultados, foi evitada 1 morte a cada 8 pacientes ventilados ou em cerca de 25 pacientes que necessitavam apenas de oxigênio.
Dada a importância desses resultados para a saúde pública, os pesquisadores estão trabalhando para publicar todos os detalhes o mais rápido possível.
Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes do Departamento de Medicina de Nuffield, da Universidade de Oxford, e um dos principais pesquisadores do ensaio clínico, disse: “A dexametasona é a primeira droga a se mostrar eficiente para melhorar a sobrevida na COVID-19. Este é um resultado extremamente bem-vindo. O benefício de sobrevida é claro e grande nos pacientes que estão doentes a ponto de necessitarem de tratamento com oxigênio; portanto, a dexametasona deve agora se tornar padrão de atendimento nesses pacientes. A dexametasona é barata e pode ser usada imediatamente para salvar vidas em todo o mundo”.
Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia do Departamento de Saúde da População de Nuffield, da Universidade de Oxford, outro dos principais pesquisadores, disse: “Desde o surgimento da COVID-19, há seis meses, estamos em busca de tratamentos para melhorar a sobrevida, principalmente dos pacientes mais doentes. Esses resultados preliminares do estudo RECOVERY são muito claros – a dexametasona reduz o risco de morte em pacientes com complicações respiratórias graves. A COVID-19 é uma doença global – é fantástico que o primeiro tratamento demonstrado para reduzir a mortalidade esteja disponível instantaneamente e acessível em todo o mundo.”
O principal conselheiro científico do governo do Reino Unido, Sir Patrick Vallance, também se manifestou nesta terça-feira: “Hoje, esta é uma tremenda notícia sobre o estudo Recovery, mostrando que a dexametasona é a primeira droga a reduzir a mortalidade pela COVID-19. Isto é particularmente excitante, por ser um medicamento barato e amplamente disponível. Esta é uma descoberta inovadora em nossa luta contra a doença, e a velocidade com que os pesquisadores progrediram na busca de um tratamento eficaz é realmente notável. Isso mostra a importância de realizar ensaios clínicos de alta qualidade e basear as decisões nos resultados desses estudos”.
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