Sexta-feira, 12 de maio de 2017 às 16h12

 

Veja uma comparação do mapa elaborado pelo método Nistri de Aerofotogrametria e o atual mapa do Google, na região próxima à Vila Maria Zélia, no bairro do Belenzinho, e a antiga configuração do Rio Tietê no local.

 

Avião italiano modelo FIAT AS.1. Foto: Wikipedia

 

por Fundação Energia e Saneamento de São Paulo

Mais de 300 cursos d’água correm pela cidade de São Paulo. Um deles é o rio Itororó, tamponado sob a Avenida 23 de Maio e que, na altura da Praça das Bandeiras, encontra o Rio Saracura, encoberto pela Avenida 9 de Julho. O destino dos dois cursos é desaguar no Tamanduateí, hoje canalizado e que passa sob o Parque D. Pedro II. Dos vales que formavam estes rios, restam apenas fotografias antigas. Mas como visualizar o percurso original destes e de outros cursos d´água paulistanos, hoje encobertos pelo crescimento de São Paulo?

 

“A importância da obra executada colocava a bela e florescente metrópole sul-americana à frente de todas as demais cidades pela precisão e perfeição de suas plantas”, ficaria registrado nos anais do 4º Congresso Internacional de Fotogrametria, realizado em Paris em 1934. Imagem: acervo Fundação Energia e Saneamento de São Paulo

 

Uma das preciosidades do acervo da Fundação Energia e Saneamento é a coleção de mapas SARA Brasil. Encomendados pela Prefeitura de São Paulo no final da década de 20, os mapas precedem, em questão de anos, a construção das Avenidas 23 de Maio e 9 de Julho. Neles é possível ver os vales do Saracura e Itororó, como também do Tietê. No entanto, a “impressão digital” dos recursos hídricos paulistanos é apenas uma das valiosas informações da coleção. O trabalho de elaboração dos mapas topográficos foi considerado pioneiro na época, tornando São Paulo a primeira cidade do mundo a possuir uma coleção de plantas articuladas, em escala grande, e com precisão incomparável.

Método Nistri de Aerofotogrametria

Fundada em 1921, pelos irmãos italianos Umberto e Amedeo Nistri, a empresa SARA (Società per Azioni Rilevamenti Aerofotogrammetrici), sediada em Roma, foi a responsável por realizar o levantamento topográfico da capital paulista, utilizando a aerofotogrametria (uso de aeronaves para a tomada fotográfica métrica). O trabalho teve início em 1929, no governo de José Pires do Rio, sendo utilizado um aparelho fotogramétrico elaborado pelos próprios irmãos Nistri, acoplado em aviões vindos da Itália, entre eles os monomotores FIAT AS.1 e o CA. 97. No total, foram executadas 4 mil fotos no formato 13 x 18 cm, que seriam utilizadas para a elaboração das cartas topográficas. O material foi impresso no Instituto Geográfico de Agostini, em Novara, Itália.

 

Apesar da retificação do Tietê ter se concretizado na década de 40, o impacto no vale original do rio já havia começado na década de 20, como registra o mapa. Imagem: acervo Fundação Energia e Saneamento de São Paulo

 

Interrompido durante a Revolução Constitucionalista de 1932, o levantamento foi entregue à municipalidade em 1933 e resultou em 132 mapas e 20 fotocartas. Entre os diversos dados da São Paulo antiga, apresenta as estradas de ferro, linhas de bonde, o arruamento, pontes, matas, rios e até mesmo depressões que sofriam inundações em determinados períodos do ano. As plantas, nas escalas 1:1.000, 1:5.000 e 1:20.000, abrangem uma área de 100 mil hectares, e serviriam como base aos projetos urbanísticos da cidade que estariam por vir, e que, ironicamente, transformariam a configuração da São Paulo da década de 20, eternizada na coleção SARA Brasil.

 

Compare o mapa antigo, acima, com o mapa atual na mesma região. Imagem: reprodução / Google Maps

Várzea do Carmo. Fonte: Livro “Lembranças de São Paulo – A capital Paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças”. Publicado sob autorização dos autores.

Várzea do Carmo. Fonte: Livro “Lembranças de São Paulo – A capital Paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças”. Publicado sob autorização dos autores.

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