Homenageando o Patriarca da Independência do Brasil, foi palco de arrecadações dos paulistas durante a Revolução de 1932, concentração de políticos e passou por remodelações. Tal como outras áreas do ‘Centro Velho’ esteve em processo de degradação, infelizmente. Mas viveu tempos áureos quando São Paulo ainda mantinha sua originalidade e beleza. O avanço do projeto da nova sede administrativa do Governo de São Paulo nos Campos Elíseos deve incentivar a revitalização da área central da cidade (leia aqui) e a esperança de que o centro de São Paulo possa voltar a ter uma paisagem a altura de sua história. 


Esta é uma das mais recentes praças do centro velho da cidade, uma vez que começou a ser aberta, aos poucos, por volta de 1912 com a demolição de antigos casarões localizados entre as ruas São Bento e Líbero Badaró, na continuidade das ruas Direita e da Quitanda. Antes disso, o cruzamento das Ruas Direita e São Bento era o conhecido como “Quatro Cantos”, ponto muito frequentado pelos antigos paulistanos. Em pouco mais de três décadas adiante, a praça entraria no longo processo de degradação que se arrasta até hoje. As imagens que vemos aqui mostram esses dois momentos.

Almeida Júnior

Segundo José B. Almeida Júnior, por volta de 1940: “A Praça do Patriarca, urbanisticamente, tem importante função na vida metropolitana, alimenta, por assim dizer, o coração da cidade. É ponto de irradiação, que atrai e distribui os transeuntes que se dirigem para os grandes escritórios e lojas. Também, logradouro de ampla e forçada concentração popular, onde constantemente formam-se meetings políticos, mais frequentes às vésperas de eleições”.

 

Intenso fluxo de carros e pedestres em direção à Praça do Patriarca neste postal da década de 50. À esquerda, os tapumes da construção do Edifício Conde de Prates.

Movimento intenso

Projetada em 1906 para dar vazão ao imenso fluxo de pedestres e veículos do Viaduto do Chá, foi aberta em 1913 como parte do Plano Bouvard de remodelação da cidade e concluída em 1926. Em 1922, a Praça estava praticamente aberta e recebeu o nome de Praça Patriarca José Bonifácio, nome este simplificado para Praça do Patriarca em 1953, porque assim a população a chamava. A praça era ponto de bondes e posteriormente de ônibus que se dirigiam a vários pontos da cidade.

Galeria Prestes Maia

Inaugurada em 1940, pelo então prefeito Francisco Prestes Maia, ela tem um espaço de seis mil metros quadrados batizado de Salão Almeida Júnior, onde, logo na inauguração, deu-se o Salão Paulista de Belas Artes, com a presença de artistas como Anita Malfatti. Durante a inauguração, o então presidente Getúlio Vargas preparava-se para fazer um longo discurso, mas o locutor do evento apresentou-o com a frase “Atenção, brasileiros, para as breves palavras de sua excelência, o presidente Getúlio Vargas”, e Vargas limitou-se a dizer: “Tenho a honra de declarar inaugurada esta galeria.”

 

Intenso fluxo de carros e pedestres em direção à Praça do Patriarca neste postal da década de 50. À esquerda, os tapumes da construção do Edifício Conde de Prates.

El País

Em reportagem, intitulada “Desigualdade, vitalidade e decadência: o que aconteceu com o centro de SP”, o El País, conversou com urbanistas sobre o tema. Para a urbanista Regina Meyer, especialista em espaço público, e professora da FAU-USP, os motivos que resultaram na saída de determinados setores do centro físico de São Paulo é anterior à década de 1960 e remontam aos anos 1940, quando a Prefeitura começou a discutir a substituição do sistema de bondes, então principal meio de transporte de massa da cidade, pelo ônibus.

Degradação

“O centro, adaptado ao sistema de bondes, que servia a uma área muito menor, teve de alojar um fluxo cada vez mais intenso de pessoas e de ônibus”, diz a urbanista. “A degradação física de praças e espaços abertos a partir disso foi intensa. Em pouco mais de dez anos, uma série de locais, como a praça da Bandeira, o parque Dom Pedro II e a praça Princesa Isabel, transformaram-se em verdadeiras praças-terminais”, completou. Muitos locais públicos do centro, assim, perdiam o caráter de serem pontos de encontro e passavam a ser locais de passagem, assinalou o El País.

José Bonifácio

A sua denominação homenageia o “Patriarca da Independência”, José Bonifácio de Andrada e Silva. Nascido em Santos no dia 13 de junho de 1763, faleceu em Niterói no dia 6 de abril de 1838. José Bonifácio foi o autor intelectual do processo da Independência do Brasil que culminou no dia 7 de Setembro de 1822.

 

Praça do Patriarca em meados de 1920. Foto: Theodor Preising / Lembranças de São Paulo.


Fontes:
– Arquivo Histórico Municipal. Dicionário de Ruas. Praça do Patriarca.
– “Lembranças de São Paulo – a capital paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças”. João Emílio Gerodetti. Carlos Cornejo. São Paulo.
– El País (Brasil). Cultura. Urbanismo. Desigualdade, vitalidade e decadência: o que aconteceu com o centro de SP. São Paulo. 12, maio. 2018.
– Wikipedia. José Bonifácio de Andrade e Silva.


Destaque – Imagem: Praça do Patriarca em meados de 1920. Foto: Theodor Preising / Lembranças de São Paulo.


Publicação:
Domingo | 21 de abril, 2024

Atualização:
Sábado | 21 de junho, 2025


Leia outras matérias desta editoria

Os 100 anos da Ponte Pênsil

A popularização do futebol pelos clubes de fábrica

Em 14 de abril de 1895, em um descampado da Várzea do Carmo, região central de São Paulo, ocorreu o pontapé inicial da prática desportiva que é, hoje, a maior paixão nacional: o futebol. Fundação Energia e Saneamento de São Paulo O primeiro jogo realizado...

Imigração na São Paulo do século 20 – o acervo da Light

A chegada da companhia de energia The São Paulo Tramway, Light & Power Co. Ltd à Capital, em 1900, ocorreu em um período de grandes mudanças demográficas. Fundação Energia e Saneamento de São Paulo     Entre as décadas de 1890 e 1920,...

Dia do Patrimônio Histórico – 17 de agosto, conheça histórias sobre as estações ferroviárias

A criação do Dia Nacional do Patrimônio Histórico marca a importância da preservação da memória nacional – material e imaterial. A data também homenageia o advogado, jornalista e escritor brasileiro, Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898 – 1969). Ele foi...

Memória de São Paulo: a Luz – cartão-postal da cidade

Um dos bairros mais antigos da capital, a Luz preserva alguns dos edifícios mais importantes do patrimônio arquitetônico da cidade de São Paulo. O nome “Luz”, que pode parecer uma referência ao período áureo do bairro, marcado pela construção de edifícios...

Luz: foi o primeiro bairro a receber água encanada

Somente em 1892, a rede começou a ser ampliada em São Paulo. Fundação Energia e Saneamento (FES) Na capital, o primeiro bairro a ser atendido por um sistema de água encanada foi a Luz, em 1883. Os beneficiados foram os moradores de 71 prédios (no sentido...

As ruas do Velho Triângulo: Rua Direita

“Fazer o triângulo”, poderia ser comparado, de forma livre, a atual expressão “vamos pra balada”. O Centro Velho ou Centro Histórico de São Paulo, confinado à colina central, margeada pelo Vale do Anhangabaú e a Várzea do Carmo, encerrava o “Triângulo”,...