Sábado, 7 de maio de 2016 às 07h56


Ex-senador solicitou e recebeu pagamentos indevidos para interferir nos trabalhos de CPIs no ano de 2014.

Do Ministério Público Federal

A Força-Tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba apresentou à Justiça nesta sexta-feira, dia 6 de maio, denúncia contra o ex-senador da República, Gim Argello (Jorge Afonso Argello) e outras 10 pessoas pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e obstrução à investigação.

Ficou comprovado que o ex-senador e pessoas próximas, em conluio com dirigentes de empreiteiras envolvidas no megaesquema criminoso instalado na Petrobras acertaram e promoveram o pagamento de vantagens indevidas entre os meses de abril e dezembro de 2014 com o objetivo de obstruir os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada no Senado e da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Senado e na Câmara dos Deputados.

 

Senador Gim Argelo, em discurso na tribuna do Senado em 2014. Foto: Agência Brasil

Senador Gim Argelo, em discurso na tribuna do Senado em 2014: corrupção. Foto: Agência Brasil

 

As CPIs foram abertas para apurar fatos ilícitos cometidos contra a estatal petrolífera e, conforme se constatou, houve o acerto de pagamento de propina para evitar a convocação de empreiteiros para prestarem depoimento. A ideia era cobrar o montante de R$ 5 milhões de cada uma das empreiteiras envolvidas. Argello era membro da CPI do Senado e vice-presidente da CPMI.

As investigações apontaram o acerto de vantagem indevida realizado por, pelo menos, quatro empreiteiras: UTC Engenharia, OAS, Toyo Setal e Odebrecht. O político também solicitou vantagem indevida às empresas Andrade Gutierrez, Engevix e Camargo Côrrea, que não aceitaram o pedido.

De acordo com o MPF, a UTC Engenharia efetuou o pagamento de R$ 5 milhões em propina por meio de doações oficiais a partidos políticos que compunham a coligação ``União e Força´´, da qual a legenda de Gim Argello (Partido Trabalhista Brasileiro –PTB) também fazia parte, nas eleições de 2014. Deste total, o Democratas (DEM) recebeu R$ 1,7 milhão; o Partido da República (PR) R$ 1 milhão; o Partido da Mobilização Nacional (PMN) R$ 1,15 milhão e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), R$ 1,15 milhão.

Já a para dissimular a origem e a natureza criminosa dos recursos escusos a empreiteira OAS depositou R$ 350 mil na conta bancária da Paróquia São Pedro, localizada no município de Taguatinga-DF, e que era frequentada pelo ex-senador. O pagamento à paróquia é associado a uma pessoa identificada como “Alcoólico”, que seria o apelido de Gim Argello, por ser trocadilho com a bebida “Gim”. O apelido foi identificado em troca de mensagens de celulares que foram apreendidos em fases anteriores da Lava Jato.

A empresa Toyo Setal realizou o pagamento de R$ 2 milhões por meio de doação oficial ao PR com a finalidade de dar aparência lícita à vantagem indevida e, Júlio Camargo, representante da empresa, por duas vezes, fez pessoalmente repasses em espécie, totalizando R$ 200 mil e 200 mil euros que foram entregues ao ex-senador. Também há indícios concretos que a empreiteira Odebrecht pagou R$ 200 mil para evitar a convocação de seus executivos como doação oficial ao PR.

Na denúncia apresentada nesta sexta-feira, os procuradores também pedem o confisco deR$ 7.550.000,00 (sete milhões e quinhentos e cinquenta mil reais) e EUR 200.000,00 (duzentos mil euros) e, cumulativamente, o valor de R$ 70.000.000,00 (setenta milhões de reais), correspondente ao dobro dos valores totais de propina solicitada e exigida.

10 Medidas – O combate à corrupção é um compromisso do Ministério Público Federal. Por esta razão, o MPF apresentou ao Congresso Nacional um conjunto de dez medidas distribuídas em três frentes: investigação e punição efetivas da corrupção; implementação de controles internos, transparência, auditorias, estudos e pesquisas de percepção; e educação, conscientização e marketing. Saiba mais em 10 medidas contra a corrupção

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O procurador da República Deltan Dallagnol, que integra o núcleo da Operação Lava Jato,  participa de lançamento, no Rio, do projeto 10 Medidas Contra a Corrupção, do MPF. Foto: (arquivo) Vladimir Platonow/Repórter da Agência Brasil

O procurador da República Deltan Dallagnol, que integra o núcleo da Operação Lava Jato, participa de lançamento, no Rio, do projeto 10 Medidas Contra a Corrupção, do MPF. Foto: (arquivo) Vladimir Platonow/Repórter da Agência Brasil

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