Sexta-feira, 26 de maio de 2017 às 11h41
O Estadão foi contundente e feliz ao mostrar o que é normal em uma cidade como São Paulo ou qualquer outra. Uma das fotos da capa de hoje, mostra crianças brincando na Rua Helvetia, centro da cidade, onde antes havia o caos da cracolândia. As críticas precisam levar em conta o fato de que o lugar havia se tornado algo indescritível e uma atitude precisava ser tomada.
Gerson Soares
Entre aquilo que pode ser considerado normal, como o cidadão podendo circular livremente, o anormal era a aglomeração de pessoas totalmente dependentes do vício, habitando a crocolândia. A droga é fornecida por traficantes que na verdade são mais do que isso, fazem parte de organizações criminosas que se apoderavam do local envilecendo a vida das pessoas, onde pais de família, estudantes, jovens, homens e mulheres em várias faixas etárias, passavam o dia como verdadeiros zumbis do crack. Essa denominação é utilizada entre eles próprios que reconhecem sua condição estranha.
Precisam de ajuda e as autoridades estaduais e municipais estão dispostas a ajudá-los. Juridicamente, e a lei é clara, podem ser conduzidos para a recuperação, por não poderem mais distinguir entre o estado normal e anormal de sua consciência. Existem os que já estão inconscientes, alucinados; o que lhes interessa é a próxima cachimbada.
Precisam de ajuda, para superarem essa fase da vida e de alguma forma tentarem recuperar sua condição normal saindo da letargia, deixando a condição de dependentes, o que não é fácil. Repetimos, a denominação “zumbi” é usada entre os próprios dependentes, que acham até engraçado, mas não é.
O prefeito de São Paulo disse ontem que a cracolândia acabou e agora toda aquela área será revitalizada, o projeto está sendo chamado de Nova Luz. As ações começaram com operações comandadas pela Polícia Militar no dia 10 de maio, novamente no domingo (21) e até quarta-feira (23) ainda era vista a presença dos militares. A demolição de um prédio na Rua Dino Bueno causou polêmica, quando três pessoas foram atingidas durante a operação de uma escavadeira.
Críticas à Prefeitura
A Prefeitura afirma que na verdade são infiltrados que tentaram conturbar a situação e causar polêmica. O assunto está sendo investigado, mas a confusão e os protestos causaram o pedido de demissão da secretária de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo, Patrícia Bezerra, que não concordou com os métodos. Ela já foi substituída interinamente e agora João Doria está enfrentando um problema diferente daquele, que consiste na dispersão dos dependentes químicos.
Dezenas estão acampados na Praça Princesa Isabel que fica ao lado da cracolândia. Antes, eles se concentravam no quadrilátero formado pelas ruas Helvetia, Barão de Piracicaba, Cleveland e Avenida Duque de Caxias, a chamada cracolândia que segundo o prefeito João Doria “não existe mais”. De acordo com as informações do órgão municipal, eles estão sendo monitorados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
O que houve na cracolândia foi uma providência que se fazia necessária há muito tempo, devolvendo aquela parte do centro de São Paulo aos cidadãos, prestando assistência àqueles que desejam e internando quem perdeu totalmente a noção da consciência. Estudem-se os efeitos do crack a longo tempo no cérebro humano e não será difícil entender esta afirmação.
O que precisa ficar claro é que normal, são as pessoas caminhando livremente sem as ameaças que existem nas imediações desses aglomerados, onde estão envolvidos dependentes químicos que podem ter sintomas paranoicos, cometerem crimes e até suicídio devido à abstinência da droga. O anormal é que eles tomem conta das vias e praças públicas para alimentarem seus vícios, incentivando o tráfico. Existem leis, órgãos e todas as condições para resolver o problema à disposição do estado e do município, seja para auxiliá-los na recuperação ou prender os traficantes. A cidade pertence à população, aos dependentes químicos ela oferece o tratamento.
Viaduto Bresser
No dia 10 de maio, noticiamos a criação do primeiro Centro Temporário de Atendimento pela Prefeitura na Avenida Alcântara Machado. Segundo informou o órgão, o projeto dos CTAs – criados para prestar acolhimento à população em situação de rua –, recebeu ontem (25) a doação de 20 mil cobertores, feita pela rede varejista Magazine Luiza, sem custos para o município.
A notícia da inauguração do CTA Brás, também alertava para o problema do tráfico de drogas ao lado do Viaduto Bresser e Radial Leste no bairro da Mooca. A cada dia aumentam os perigos e ameaças dos usuários e dependentes químicos, que vão além do crack, aos transeuntes. Os ataques também ocorrem nos pontos de ônibus que ficam em frente a um posto de gasolina e ao IBCC (Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer), onde trabalham enfermeiras e pessoas que se sentem vulneráveis e acabam entregando pequenos valores aos sem teto do local, isso quando não exigem os celulares das vítimas mais indefesas. Quem precisa pegar condução no local está sofrendo, lembrando que em frente a esse núcleo de moradores em situação de rua estudam centenas de alunos menores de idade e adultos, na escola SENAI “Theobaldo De Nigris” que funciona em três turnos diários.
Impossível não culpar as más gestões e a corrupção que grassa por toda parte, trazendo essas mazelas para uma sociedade combalida há décadas pela falta de atenção governamental que há muito tempo deixou de cumprir corretamente suas funções sociais, ocupando-se muito com obras grandiosas que projetam seus executores, mas esquecendo-se dos detalhes que envolvem a segurança, educação e saúde. Aí estão as consequências, aflorando não só em São Paulo, mas nas grandes capitais brasileiras, onde o crime organizado tomou conta daquilo que o Estado brasileiro se omitiu.
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