Sexta-feira, 29 de julho de 2016, às 15h57
Palmas e gritos podem ajudar ou atrapalhar – mas fazem parte do espetáculo.
Rio 2016 | Por Denise Mirás e Thiago Minete
Jogos Olímpicos Atlanta 1996. Numa partida decisiva da semifinal individual, o tenista erra o primeiro saque e, quando se prepara para o segundo, ouve um grito vindo das arquibancadas: “Vai errar!” É o suficiente para ele se desequilibrar mentalmente e perder o set – e o jogo.
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A cena, que mostra a que ponto um torcedor pode acabar com o jogo de um atleta, ocorreu de verdade com o brasileiro Fernando Meligeni. Depois daquela derrota para o espanhol Sergi Bruguera, ele foi para a disputa de bronze e, no fim, perdeu a medalha para o indiano Leander Paes. “O tênis é um esporte de muita concentração, e qualquer coisa pode mudar o rumo de uma partida”, explica Meligeni. Embora afirme que não existam regras para a conduta do torcedor nas quadras, ele recomenda que se use, claro, o bom senso. Diz que, entre os pontos, não há problema em vibrar, cantar ou gritar. “Só não pode virar ofensa pessoal, atingir diretamente o atleta”, conclui.
Muitos espectadores, sem dúvida, estão nas arenas para encorajar seu time ou esportista preferido. E algumas federações internacionais, como as de ginástica e tiro esportivo, acabaram até quebrando antigos modelos para entrar na era da interação com a plateia. Onde havia silêncio, hoje vale a empolgação.
Desde o início de 2015, a Federação Internacional de Tiro Esportivo não só incentiva a participação da torcida como passou a colocar músicas animadas durante as provas. Atleta da equipe brasileira que competirá na pistola de ar 10m e na pistola 50m no Rio 2016, Julio Almeida conta ter incorporado a música à sua prática depois de perder a concentração na etapa carioca da Copa do Mundo. “Tocou Rock’n’roll all night, do Kiss, e comecei a cantar junto”, lembra. “Agora, uso fones de ouvido ou os alto-falantes dos estandes para treinar com barulho”.
Segundo Yumi Sawasato, dona de academia que será árbitro da ginástica artística feminina pela quinta vez no Rio 2016, a Federação Internacional de Ginástica recomenda às atletas que interajam com o público e com os juízes. “Eles querem as meninas com os olhos focados nas pessoas”. Algumas têm mais dificuldade, já que o esporte exige concentração total. Outras, como Flavia Saraiva, encaram isso com naturalidade. Durante sua apresentação no evento-teste do Rio Janeiro – que valeu a classificação Olímpica da seleção brasileira –, ela chamou a arquibancada com as mãos, sempre sorrindo muito. A plateia reagiu com palmas que marcavam o ritmo da música.
A mesma tática é frequentemente usada por velocistas e outros praticantes do atletismo, que “convocam” a torcida. A paulista Maurren Maggi fez isso no salto em que garantiu a medalha de ouro em Pequim 2008. “Para o esportista, tecnicamente não ajuda em nada, é mais uma maneira de valorizar as pessoas que estão ali”, diz. “Mas eu adoro palmas. Puxando a vibração do público, você se diferencia e marca seu momento”.
Oposto da seleção brasileira de voleibol, Wallace de Souza conta que alguns jogadores preferem silêncio na hora do saque. “Eu, particularmente, não ligo para o barulho”, afirma. Mas Carlos Rios, presidente da Confederação Brasileira de Voleibol, explica que, apesar de o assunto não constar das regras, os árbitros são orientados a não permitir qualquer perturbação extrema que possa interferir no andamento da disputa.
Assim como o saque – no voleibol e no tênis –, a largada de uma prova de natação também pode ser sensível. Da mesma maneira que Meligeni, o ex-atleta Ricardo Prado, medalha de prata dos 400m medley em Los Angeles 1984 e gerente de esportes aquáticos do Comitê Rio 2016, recomenda bom senso. “É preciso respeitar o momento de concentração dos nadadores”, fala. “Mas esperamos muita energia e vibração das arquibancadas brasileiras”. E será que mesmo debaixo d’água dá para sentir o calor da torcida? “Dá, sim, e ajuda muito”, completa Prado. “Ganhamos gás extra”.
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