A saúde da garganta, como em todos os outros temas envolvendo saúde, há muitas crenças sobre o que faz bem ou mal a esse órgão. Especialista do Hospital CEMA esclarece o que tem ou não fundamento, baseada em dados científicos.

Esfriou um pouco e lá vem uma sequência de espirros, tosses e narizes entupidos por aí. Nesse caso, muitos acreditam que as temperaturas mais baixas deixam as pessoas mais doentes. Mas será que isso é verdade? Nessa mesma linha, há quem jamais misture gelado com quente, pois esse choque térmico certamente só pode dar em resfriado. Existem muitas crenças envolvendo a saúde da garganta, mas nem todas procedem. A otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Nancy Choi, explica abaixo o que é mito e verdade sobre esse tema.

É verdade que tomar gelado faz mal para a garganta?

Mito. A ingestão de alimentos gelados não faz mal à saúde, pelo contrário, pode ser benéfica em alguns casos. “Em diversas situações, quando medicações analgésicas são insuficientes no controle da dor, utiliza-se crioterapia (temperaturas muito baixas com aplicação local ou sistêmica) como opção terapêutica”, explica a otorrinolaringologista. Ela lembra ainda que a ingestão de sorvete/picolé nos dias posteriores à cirurgia de amígdalas e adenoides reduz a dor de garganta, pois o frio alivia a sensação de queimação da inflamação.

É verdade que pastilhas de eucalipto são boas para a garganta?

Verdade. O eucalipto possui funções antibacterianas, anti-hiperglicêmicas e antioxidantes. “Já é comprovado por pesquisas científicas que o uso pré-operatório de pastilhas contendo cúrcuma, menta ou eucalipto reduz a dor de garganta decorrente da intubação orotraqueal”, detalha a médica. Com isso, pode-se usar o eucalipto como anti-inflamatório natural em situações de dor de garganta. “Tenha cuidado ao verificar os ingredientes nos produtos industrializados: muitas opções do mercado, na forma de balas e pastilhas, possuem em sua composição aromas artificiais do eucalipto e não as propriedades medicinais da planta”, diz a especialista.

É verdade que tomar chá com mel e limão ajuda a curar a dor de garganta?

Verdade. Limão e mel possuem propriedades antibacterianas, antioxidantes, anti-inflamatórias, sendo uma boa opção para alívio da dor de garganta e da tosse secundária à irritação da garganta. Eles são ricos em minerais, vitaminas, fitoquímicos e outros nutrientes benéficos à saúde, e estimulam a imunidade e o combate aos micro-organismos nocivos. “Pode-se consumir esses itens na forma de sucos, chás e extratos. É importante ter cuidado com formulações industrializadas, que podem conter presença em excesso de conservantes, aditivos e açúcares adicionados”, recomenda Nancy.

Outra observação importante é que crianças menores de 1 ano não devem consumir mel, pois trata-se de um produto in natura, sem pasteurização, e que pode fazer mal para essa faixa etária.

É verdade que misturar gelado e quente faz mal para a garganta?

Mito. Não existem evidências científicas que apontem que misturar alimentos gelados e quentes possa fazer mal à saúde. A médica, no entanto, faz uma ressalva: “De modo geral, recomenda-se que pessoas mais sensíveis ou em estado de maior vulnerabilidade evitem o choque térmico alimentar”.

Toda dor de garganta precisa ser tratada com antibiótico?

Mito. Existem inúmeras causas que provocam o sintoma da dor de garganta, sendo que as irritativas, inflamatórias e infecciosas são as mais comuns. A especialista explica que, na ausência de sinais de alarme, como imunodepressão, comorbidades ou infecção sistêmica, a dor de garganta costuma ser autolimitada, resolvendo-se em até 7 dias, em média.

“Pode-se utilizar medicamentos, como anti-inflamatórios e analgésicos comuns, e terapias não farmacológicas, como ingestão de alimentos ricos em antioxidantes e vitaminas”, completa. “Os antibióticos ficam reservados para uma minoria de casos, na suspeita de infecção bacteriana ou risco de complicações.”

Mudanças bruscas de temperatura fazem mal à garganta?

Parcialmente verdade. A médica esclarece que não há muitos estudos científicos que respondam a essa questão. No entanto, mudanças climáticas podem contribuir para o aumento das doenças respiratórias: basta olhar para o número de pessoas gripadas ou resfriadas nessa época do ano.

“Situações de temperaturas mais altas, com umidade relativa do ar maior que 70%, podem reduzir a emissão de bioaerossóis (partículas que ficam dispersas no ar), que contêm partículas virais e bacterianas. A maior quantidade de poluentes no ar, maior nos dias frios e secos, também leva ao aumento da abundância de patógenos no ar”, diz a especialista. “Por esse motivo, é comum o aumento da incidência de doenças respiratórias nos dias mais frios e secos, como outono e inverno.”

Nesse período, é recomendado o uso de máscaras nas pessoas que estão doentes e nos mais vulneráveis às doenças respiratórias graves, como idosos e imunossuprimidos, toda vez que estiverem em ambientes fechados ou com aglomeração de pessoas. “Lavar as mãos com água e sabão ou higienizá-las com álcool em gel é um ato que ajuda a diminuir o risco de transmissão da infecção respiratória. Mantenham-se conscientes quanto à prevenção, reduzindo a disseminação de vírus e bactérias pelos aerossóis”, finaliza a otorrinolaringologista.


Destaque – Imagem: aloart / G I


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