Quarta-feira, 14 de dezembro de 2016, às 13h35
Em um instante, o presidente da República, Michel Temer, é homenageado como líder político brasileiro; noutro, acusado de receber dinheiro do caixa2 da Odebrecht. O país passa por um scanner graças à Lava Jato.
Gerson Soares
Na noite desta segunda-feira (12), depois de receber um prêmio que o destaca como líder político brasileiro, o presidente Michel Temer, afirmou: “Vamos colocar o Brasil nos trilhos para aquele que vier depois. O Brasil vai vencer”. A fala é confortante e não há motivo para contrariá-la, está imbuída de senso de dever e patriotismo.
No dia seguinte ao seu discurso em São Paulo, onde foi homenageado, enfatizou também a coragem, “para fazer coisas aparentemente impopulares, mas que geram popularidade adiante”. A coragem é uma qualidade que também não têm faltado à força tarefa da Lava Jato que “hoje (14) ainda não prendeu ninguém”, comentou um jornalista da rádio Jovem Pan nesta manhã, referindo-se às diversas prisões que ocorreram nas últimas semanas.
Infelizmente para o Brasil, existe um número muito grande de políticos envolvidos com propinas e dinheiro de caixa2, destinado às suas campanhas políticas. A venda de medidas que favorecem seus padrinhos, prejudicam o país de forma direta ou indireta, por isso o distanciamento entre os anseios populares e as decisões parlamentares, que não se alinham na maioria das vezes.
De acordo com a edição desta quarta-feira (14) do jornal Folha de São Paulo, o delator Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, confirmou em sua delação o pagamento de 10 milhões de reais a pedido do então vice-presidente Michel Temer (PMDB), para a campanha peemedebista. Segundo ele, o pedido teria sido feito em um jantar no Palácio do Jaburu em 2014, onde também estava presente Eliseu Padilha, atual ministro chefe da Casa civil.
Temer terá direito a explicar esse caso, assim como Padilha. O jornal O Estado de São Paulo, publicou hoje que outro delator, Claudio Melo Filho, declarou à Lava Jato ter provas do suposto pedido de Temer. Segundo o jornal, as declarações dele preocupam o Palácio do Planalto.
A revista Veja, teve acesso à íntegra das 82 páginas da delação de Melo Filho. Conforme o Veja.com, nesse conteúdo ele conta como a maior empreiteira do país comprou, com propinas milionárias, integrantes da cúpula dos poderes Executivo e legislativo. Nesse relato, Temer é atingido, assim como outros deputados, senadores, ministros, ex-ministros e assessores da ex-presidente Dilma Roussef.
Os fatos se repetem ao que os políticos vão para a defensiva, usando o subterfúgio de que as doações são legais, estão previstas na legislação eleitoral. No entanto, a aceitação desse dinheiro – que apesar de legal é imoral - coloca o político como um defensor dos interesses de quem o apadrinha. A Lava Jato está desfigurando o cenário político conhecido por muitos líderes, que mantêm o Brasil há décadas distante de sua vocação, esta sim de líder mundial, em diversos setores.
A corrupção brasileira é um modelo para não ser seguido ou admitido em qualquer parte do planeta. Simbolicamente, ela existe em proporção descomunal sob cada tijolo que construiu Brasília e muito antes. Por outro lado, a opinião popular sobre os rumos do país e as intenções de voto choca o mais arguto dos analistas políticos.
Sob todas as denúncias que lhe pesam, o ex-presidente Lula aparece liderando a pesquisa divulgada nesta segunda-feira pelo Datafolha para as eleições presidenciais em 2018. Projetados alguns cenários, ele fica com 26% das intenções de voto, contra adversários como o governador Geraldo Alckmin (8%) e Marina Silva (17%).
Apesar de liderar o país e tentar tirá-lo de uma crise sem precedentes, Michel Temer está atualmente com 51% no índice de rejeição em julho era de 31%, divulgou o Datafolha. Ontem (13), seu governo obteve nova vitória com a aprovação da PEC 55/2016 que limita os gastos do governo, considerada essencial para a recuperação da economia.
No ritmo de prisões, delações e envolvimentos com a corrupção, quais parlamentares poderão erguer-se para governar 2018? Esta é a pergunta de muitos brasileiros.
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