Domingo | 10 de julho, 2022

Desprovido de edifícios, neste ponto o bairro proporcionava visão panorâmica na direção norte. Em dias chuvosos, os moradores arregaçavam a barra das calças por causa do barro que se acumulava nas ruas.

Por Gerson Soares


Até meados dos anos 1960 o bairro Tatuapé possuía aspectos bem interioranos. Em pouco tempo, com os loteamentos das chácaras existentes e as mudanças nas atividades, abriu-se espaço para a instalação da indústria, do comércio e naturalmente a construção de casas para a acomodação das famílias dos trabalhadores. Esse processo se inverteu posteriormente e aonde haviam os galpões das fábricas, agora existem condomínios.

Hoje podemos observar essas mudanças confrontando com as raras imagens existentes e os depoimentos de pessoas que na época viveram naquele cenário ainda bucólico. “A minha mãe era costureira e a situação bem difícil. Em 1939 meu pai veio de Rio Claro, interior do Estado, para a cidade de São Paulo. Ele trabalhava como Guarda-livros (Contador) na José Velasco, fábrica de chapéus e camisas para crianças, que ficava na Rua Antonio de Barros, número 216”, lembra Sylza Cristofani.

As características do bairro remetiam às cidades interioranas, como podemos observar nesta imagem da Rua Serra de Japi. Ao fundo vemos a Serra da Cantareira, não havia prédios, nem asfalto ou calçadas, a água corria pelas valetas existentes (observe no canto esquerdo abaixo). Como referência temos o sobrado mais alto à direita da foto, ainda existente, que fica quase na esquina da Rua Serra de Bragança.

A construção que pode ser vista à esquerda, ficava na Rua Cantagalo com a Serra de Japi, note ao lado da casa uma cerca de estacas com arame e o mato que crescia próximo às casas. Veja que apesar de o tempo parecer chuvoso e frio, as crianças estão descalças e para não se sujarem com o barro os homens arregaçaram as barras das calças.


 

1947 – Serra de Japi (da direita para a esquerda): Sylvio Cristofani (de chapéu). Agachados (descalços), seus filhos Nelton e Iriarte. A criança sentada no capô do carro é Ronaldo, ao seu lado o fabricante de bonecas Amilcar Castelo Branco e um senhor cujo nome não pôde ser lembrado. (Foto doada ao acervo particular do Portal Alô Tatuapé, para uso educativo).

 


Informações e foto:
Da obra “Memórias do Tatuapé – A história contada por quem viveu”, de Gerson Soares. Revista Alô Tatuapé, São Paulo: dez. 2007, p. 30. Depoimentos e foto: Sylza Maria Cristofani Leite e Omar Gonçalves Leite. (Foto doada ao acervo particular do Portal Alô Tatuapé, para uso educativo).