Os prejuízos causados pelos apagões e as constantes quedas de energia chegam à casa dos bilhões em São Paulo, estado que não deseja a continuidade da concessão à companhia, conforme deixou claro o prefeito da cidade.
Durante reunião na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, que ocorreu na terça-feira (10), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, desabafou dizendo que não existe a menor chance de a Enel SP continuar suas atividades no Estado.
A respeito da renovação da concessão à empresa, segundo ele, existe uma articulação “vergonhosa” para antecipar a renovação do contrato de concessão da Enel SP, atribuindo ao governo federal essa irresponsabilidade, já que comprovadamente o serviço prestado é muito ruim. “Foram fazendo expurgos, para que mesmo com todos os expurgos implantados eles pudessem fazer uma avaliação do serviço, que é de péssima qualidade.”
O prefeito de São Paulo comentou sobre os critérios mencionados pelo diretor da Aneel, Fernando Mosna (leia aqui), para a renovação de contratos com as empresas fornecedoras de energia elétrica no Brasil.
Conforme esses critérios, as empresas devem se manter em um nível de 140% de tolerância. A Enel SP atingiu 149,16% e a Enel RJ chegou à faixa de 167,17%.
“É você ter uma concessionária que preste ou não um serviço de qualidade”, avaliou sobre os critérios técnicos. “Deus nos livre, conviver por mais 30 anos com essa empresa, fazendo o povo sofrer sem energia”, disse Nunes sobre a Enel SP.
Compensações e multas
A Aneel aplicou mais de 700 milhões de multas e compensações financeiras à Enel Brasil entre 2018 e 2024. “Em fevereiro de 2025, de acordo com a Aneel, a Enel Brasil conseguiu suspender um total de 603 milhões na justiça”, divulgou Nunes, durante a audiência pública em Brasília, dizendo que essa não a empresa parceira que vai trazer desenvolvimento econômico.
Ele lembrou que no dia 3 de novembro de 2023, passadas 24 horas após a tempestade, cerca de 2,1 milhões de pessoas ficaram sem luz na região metropolitana de São Paulo.
Um estudo técnico, encomendado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio) e divulgado durante a reunião na Comissão de Minas e Energia, mostrou que durante aquele apagão, houve um impacto financeiro negativo de 1,3 bilhão de reais para esses setores, devido à falta de energia elétrica.
“A Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo, afirmou que o setor levou um prejuízo de cerca de 500 milhões de reais com a falta de energia”, contabilizou Nunes e disse que é preciso considerar todo o montante de perdas por consequência das falhas no abastecimento.
Se voltarmos o olhar à área da saúde, uma das mais impactadas, encontraremos problemas gravíssimos: os doentes que tinham cirurgias marcadas, remédios que precisam de refrigeração e podem ter sido perdidos. É possível elencar uma infinidade de consequências, tais como a impossibilidade de realizar exames, doentes em UTIs, dentre outras.
Ônibus elétricos
“É muito bacana dizer que vai fazer. Mas não fizeram nada. Eles têm a característica histórica de não cumprir o que falam. Estou com centenas de ônibus elétricos nas garagens e não podem ir para a rua porque a Enel SP não liga a energia.”
A reclamação foi direcionada às explanações do CEO da Enel SP, Guilherme Lancaster, presente ao evento como convidado, quando disse que desde 2024 foram conectadas 17 garagens de ônibus elétricos da capital e mais 17 serão entregues até o final de 2025.
Sempre enfatizando a falta de parceria da Enel SP, disse que os serviços são caros e mesmo assim não são feitos, como no caso das conexões para os ônibus ou o aterramento da fiação na Avenida Santo Amaro, que custou 29 milhões.
O prefeito de São Paulo encerrou suas explanações pedindo discernimento e consciência aos prefeitos, deputados, vereadores presentes e demais autoridades envolvidas na concessão de serviços de energia elétrica, com relação às suas responsabilidades em “manter uma empresa que infelizmente não tem atendido as necessidades da população”.
Destaque – Imagem: aloart / G I