Especialistas do Conselho Federal de Odontologia esclarecem sobre terapias, lesões e prevenção. Uma das questões abordadas é a má higiene bucal.
Pacientes com aftas recorrentes, profundas ou muito doloridas devem procurar atendimento odontológico. Existem diversas opções de tratamento que garantem aos pacientes menor tempo de cura das lesões e alívio da dor. Confira abaixo as principais abordagens terapêuticas a serem utilizadas pelo cirurgião-dentista:
:: Tratamento das doenças sistêmicas – algumas patologias estão ligadas a maiores índices de surgimento de aftas, como é o caso da colite ulcerativa, doença celíaca, doença de Crohn e doença de Behçet. Dessa forma, pacientes com diagnósticos dessas doenças devem fazer o tratamento médico adequado para garantir também o controle do surgimento das lesões. Além disso, a associação de terapia de reposição de ferro, vitamina B12 e folato pode resultar na melhora da EAR.
:: Terapias tópicas – O cirurgião-dentista poderá receitar medicações de uso tópico que vão ajudar na cicatrização e alívio da dor. O composto de ação tópica considerado mais seguro é a combinação de orabase com corticosteroide forte, como fluonamida, clobetasol ou halbetasol. Uma alternativa eficaz é o elixir de dexametasona, corticosteroide líquido que é útil quando há presença de múltiplas úlceras ou quando elas são localizadas no palato mole ou na orofaringe, podendo ser também usado em gargarejos ou bochechos. Podem ainda ser utilizados analgésicos de uso local, como gel de lidocaína, pastilhas de cromoglicato de sódio, antisséptico bucal com carbenoxolone de sódio e alguns agentes tópicos imunomoduladores.
:: Terapias sistêmicas – A imunossupressão sistêmica algumas vezes se faz necessária para tratamento da EAR em vista da eficácia limitada dos agentes tópicos, quando a dor é intensa e/ou quando a permanência da úlcera é longa. O agente de uso mais comum é o corticoide. Outras drogas que são utilizadas incluem a ciclosporina, a colchicina, a pentoxifilina, a dapsona, e a talidomida. O uso destes agentes nos períodos iniciais da lesão pode abortar a formação das úlceras, porém deve-se considerar que seus efeitos colaterais sistêmicos podem ser mais agressivos do que o ganho terapêutico local.
:: Laserterapia – Os lasers de baixa intensidade (não cirúrgicos), em virtude das baixas densidades de energias e comprimentos de onda, são capazes de atuar de forma eficaz na cicatrização mais rápida e menos dolorosa das aftas. À aplicação da luz atribui-se uma reparação tecidual mais rápida, assim como a obtenção de analgesia. Desta forma, o uso da tecnologia de fotobiomodulação é um tipo de terapia utilizada pelos cirurgiões-dentistas de forma eficaz e rotineira.
Evolução das lesões
Os estágios da evolução natural das lesões podem ser divididos em iniciais, pré-ulcerativo, ulcerativo e cicatricial. As aftas se iniciam como pequenas pápulas endurecidas, podendo ser solitárias ou múltiplas e de formato circular ou oval, dependendo da localização.
O estágio ulcerativo tem duração de um a 16 dias. Desde o início, as lesões são dolorosas e atingem o tamanho máximo entre o quarto e o sexto dia após o início do quadro. Em dois a três dias, a dor cessa abruptamente, restando apenas um desconforto residual. O quarto e último estágio evolutivo, chamado de cicatricial, pode durar de quatro a 35 dias.
Relação entre má higiene bucal e aftas
A cirurgiã-dentista Celi Novaes Vieira destaca que não há uma relação direta entre maus hábitos de higiene oral e o aparecimento de aftas, porém, eles podem contribuir para agravamento das lesões na boca.
“Não há correlação direta associada, no entanto, pacientes com dificuldade de controlar a carga microbiana bucal podem sentir mais dor e dificuldade de cicatrização das aftas devido à maior colonização nas lesões”, complementa a especialista em periodontia.
Formas de prevenção
Não há uma receita certa para prevenção das aftas, mas a adoção de determinadas medidas pode contribuir para a redução dos riscos. Entre elas estão, por exemplo, uma higiene oral cuidadosa que possa ser eficaz e, ao mesmo tempo, evitar traumas de gengiva e mucosa que possam evoluir para lesões. Pelo mesmo motivo, também é importante que seja feita a manutenção adequada de dispositivos como próteses, aparelhos ortodônticos, entre outros.
Além disso, é recomendável que o paciente mantenha controle de doenças sistêmicas instaladas e tenha uma alimentação balanceada, evitando alimentos que podem desencadear as lesões, como os ácidos, picantes, salgados ou crocantes. Hábitos de prevenção ao estresse e à ansiedade também são importantes meios de combate às aftas. Além disso, mulheres com quadros de lesões persistentes também devem realizar investigações de possíveis descompensações hormonais.
“A partir da anamnese e avaliação clínica, o cirurgião-dentista terá condição de determinar o melhor tratamento. Também poderá avaliar se a abordagem terapêutica será unicamente no âmbito da Odontologia ou, no caso de pessoas com doenças associadas, se também haverá necessidade de encaminhamento para outras áreas da Saúde. O importante é que o paciente procure o atendimento odontológico para que possa ser orientado adequadamente e tratar as aftas de forma correta”, conclui o secretário do CFO, Roberto de Sousa Pires.
Destaque – Imagem: aloart / G. I.



