Quinta-feira, 20 de outubro de 2016, às 12h05
Há anos existem promessas de que o bairro terá sua própria Subprefeitura. Reeleito, o vereador Toninho Paiva é um dos que prometem e demonstra que está tudo aprovado na Câmara Municipal, mas cadê o órgão? O motivo maior desta reportagem é demonstrar alguns fatos que ocorrem com frequência no Tatuapé é Jardim Anália Franco para que as autoridades, caso não saibam, tomem conhecimento e ajam em nome da comunidade. Estamos falando de uma área da cidade, mas basta uma conta simples para imaginarmos o tamanho da má administração nas demais zonas.
Gerson Soares
Começando por um semáforo instalado ao contrário na Rua Apucarana, passando pelas ciclovias sem uso, pela falta de fiscalização quanto aos batidões – o cidadão que liga para a PM, único recurso contra a barulheira noturna, tem de ficar aguardando para ser atendido, algo que nem sempre acontece – e terminando na coleta de lixo, o bairro sempre fica à margem de uma administração mais coesa, seja nas ações municipais que se referem a órgãos como a Subprefeitura ou ao aparelhamento estadual, que por sua vez receberia as questões mais prementes através de uma administração local. Apesar de existirem os Consegs, no que tange à segurança, a morosidade, políticas distantes dos interesses reais da população, ainda estão longe de serem abrangentes na proporção que o bairro atingiu.
Gestão, esta é a palavra que elegeu o novo prefeito da cidade, João Doria (PSDB), que veio ao bairro angariar votos. Os fatos aqui apresentados podem ser uma das pautas iniciais de sua administração como gestor, encurtando a distância entre o Tatuapé e as autoridades – o que tem deixado brechas para todo tipo de delito, entre eles a venda de drogas ilícitas e lícitas como o álcool em excesso e a criminalidade.
Lixo
Dejetos caseiros ou provenientes do comércio despejados fora do lugar e horário não podem atribuir culpa a Prefeitura ou às empresas contratadas, mas depois do fato consumado e da falta de fiscalização para que isso não ocorra, cabe aos órgãos públicos fazer a coleta, certo? Pelo jeito, não. Pessoas desonestas, sem educação, denigrem a imagem do bairro e de quem tenta manter a limpeza, depositando seu lixo fora de hora e local. Na Rua Antonio João Fiore, bem debaixo de uma placa de aviso da Prefeitura, o lixo se acumula há semanas e a coleta não faz sua parte. Os despejos foram feitos ao lado do muro de um condomínio e é de se imaginar que não merece ser coletado por ninguém, já que na mesma rua a coleta e varrição são feitas normalmente, mas ao pé de uma árvore a sujeira permanece, bem ao lado de uma placa instalada pela Subprefeitura Carrão/Aricanduva. O fato se repete em vários locais, como flagrado no Belenzinho pela nossa reportagem na esquina da Rua Saldanha Marinho com a Avenida Celso Garcia.
Barulho
A PM está voltada para a segurança e quem deveria garantir o cumprimento das leis de silêncio, por exemplo, é a Prefeitura e órgãos capacitados, como o PSIU, que há muito deixou de realizar seu trabalho, como afirmou há alguns meses o vereador Gilberto Natalini (PV), denotando a repartição como decadente e sem efeito prático: “A poluição sonora é gravíssima e piorou por causa do afrouxamento da lei do PSIU”. O que se comprova é a ampliação de batidões e baladas que abusam da altura do som durante toda a madrugada até às 7h, 8h da manhã, continuando no dia seguinte, normalmente iniciando na sexta e só terminando na manhã de domingo. E como ficam os trabalhadores que moram no entorno? E os estudantes (aqueles que realmente estão se preparando para vestibulares, por exemplo)? E os doentes, convalescentes, idosos? Mas, principalmente, como fica a lei?
Ao ligar para o 190 da Polícia Militar, os atendentes acabam tendo de se tornarem consulentes, psicólogos e muitas vezes ouvir impropérios de quem já não aguenta mais tanto barulho, na hora que deveria haver silêncio para o descanso e a recuperação das forças de quem produzirá no dia seguinte. Inclusive lembrando que São Paulo não para, trabalho e estudos continuam, todos os dias, inclusive sábados, domingos e feriados, sendo o descanso primordial para o desempenho das funções. A lei do silêncio prevê tudo isso, mas é preciso fazer cumpri-la.
É preciso realmente gestão que começa no município com o prefeito e termina no âmbito federal, e os três poderes, como por exemplo, a lei de contravenção que prevê até pena de prisão para aqueles que em nome de sua profissão perturbam o sossego alheio, caso de seguranças noturnos que estão agindo impunemente no bairro, há pelo menos dois longos anos, apesar dos boletins de ocorrência e um inquérito, que segundo o 30º Distrito Policial foi aberto para apurar esse caso, mas até agora nada foi feito. E a barulheira noturna continua diariamente, mesmo sendo uma contravenção federal e tendo os indivíduos seu cadastro na delegacia mencionada, mantido em sigilo desta reportagem, no entanto podendo ser usado como prova de idoneidade perante os moradores que alimentam com suas verbas a suposta segurança, que enquanto proporciona “tranquilidade” aos que se sentem desprotegidos pela Segurança Pública, traz a insônia e a desordem aos que precisam do descanso diário e mais poluição sonora, cuja discussão acaba de se tornar lei municipal.
Placas de trânsito e semáforo instalados ao contrário!
A falta de sensatez é tamanha que no Tatuapé foi instalada uma placa de rua que indicava exatamente a contramão no sentido oposto, ou seja, os acidentes só não aconteceram pelo próprio conhecimento dos motoristas e o local ser pouco movimentado, mas isso não evitou confusões e discussões entre vizinhos. Enquanto uma parte acreditava que a rua havia mudado para duas mãos, os outros mais sensatos – pela própria configuração da via que impossibilita mão dupla –, reclamavam do perigo.
Flagrada pela nossa reportagem, que alertou o GET-3 e a CET, a placa foi removida um mês depois.
No dia 5 de julho, descobrimos outra inexplicável obra da Prefeitura, sob a responsabilidade da CET: um semáforo instalado recentemente, ao contrário – no local já havia a sinalização semafórica completa há muito tempo. Em contato com a Secretaria Municipal de Transportes e CET, fomos hostilizados e de maneira desdenhosa, avisados de que o semáforo seria retirado, que “foi um erro de projeto”. O dinheiro público não é respeitado, como vimos, por isso falta para determinadas necessidades essenciais, como nos serviços de saúde e distribuição de remédios. Ao mesmo tempo, as verbas públicas parecem sobrar para que se cometam erros absurdos como este.
O semáforo continua instalado ao contrário na esquina das ruas Apucarana e Euclides Pacheco até hoje, data da publicação, portanto há quase quatro meses. A indústria da multa progride e arrecada sem parar. Enquanto o Ministério Público quer saber para onde o dinheiro foi, buracos e ruas danificadas pela falta de manutenção proliferam.
Sugerimos que ao invés de a lei obrigar o Prefeito investir somente em política nacional de trânsito – de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, o dinheiro arrecadado com multas deve ser empregado exclusivamente em sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito –, porque não flexibilizá-la para financiar investimentos em pavimentações e recapeamentos, já que estes itens também influenciam na qualidade do trânsito? Observe-se a morosidade diante dos buracos e valetas mal acabadas.
Má administração do dinheiro público
Falando em surgimento de buracos, acompanhamos esse assunto há anos no Tatuapé e até já criamos personagens como os “tatus” que estavam voltando às suas origens no bairro. Um deles, surgiu a pouco tempo na Rua Tuiuti quase esquina com Rua Isidro Tinoco, um afundamento espetacular que certamente abrigaria uma “família de tatuzinhos”. A costela de vaca, cujo conserto foi celebrado pela nossa redação depois de anos aguardando uma solução, foi tão mal executada que já ressurgiu em frente à Escola Estadual Professor Ascendino Reis, colocando alunos, motoristas e pedestres em perigo. Na Rua Euclides Pacheco esquina com o Largo Nossa Senhora do Bom Parto, duas semanas depois de ser consertado, o mesmo buraco ressurge ao lado de um bueiro. Incrível, falta de administração dos impostos pagos pelos contribuintes e motoristas que precisam desviar da “bela obra”, colocando os frequentadores da Praça em sobressalto, assim como os demais motoristas que ali mesmo precisam vencer uma das maiores valetas do bairro, aonde o carro chega a ficar sobre três rodas ou ralar a parte dianteira.
Limpeza pública
Outro absurdo é a contratação feita pela Prefeitura com as empresas de limpeza ou no mínimo o tipo de serviço que está sendo executado. Os garis, que geralmente vemos em duplas pelo bairro, têm ordem expressa de varrer exclusivamente o meio fio e recolher o lixo daí proveniente. A conservação das calçadas, de acordo com a Prefeitura e suas atuais Subprefeituras, é obrigação dos moradores. Estes, além de pagarem um IPTU caríssimo, devem varrê-las e limpá-las. Caso um pedaço de papel esteja na calçada ou um cocô de cachorro – fato comum que acontece alheio às obrigações de moradores ou órgãos públicos e sim devido à falta de moral e limpeza de quem produz através dos pets esse tipo de sujeira – o gari passará por ele, como já flagramos, e caberá ao morador retirar a porcaria da frente de sua casa. Esse tipo de contrato é digno de quem nunca varreu a porta de casa, a calçada ou a rua.
Fatos são fatos
Estamos relatando pequenos fatos que se avolumam pela cidade, mas como não é possível afirmarmos com certeza plena e sim confiarmos nas notícias que não faltam, temos por amostragem o que está ocorrendo no Tatuapé, onde as imagens e links desta reportagem comprovam as nossas afirmações. Outra mostra contundente da falta de presença das autoridades é o uso de drogas em praças públicas a qualquer hora do dia, assim como em ruas tranquilas espalhadas pelo bairro, onde o policiamento ostensivo da PM raramente é visto. Autoridades declararam que se prenderem os usuários, poucas horas depois eles estarão soltos. Fica a pergunta: por isso não vale a pena coibir?! Vamos formar uma geração de drogados e fazê-los acreditar que tudo pode?
E as famílias que trabalham arduamente para que seus filhos tornem suas horas mais produtivas do que simplesmente ficar usando álcool e drogas? E aqueles jovens que precisam de exemplo para suas formações de caráter em pleno desenvolvimento? Alguém acha mais produtivo fumar maconha e crack do que praticar um esporte e estudar para melhorar a própria vida contribuindo para o país? Drogas, lícitas ou não, estão em discussão flamejante atualmente, até agora não se chegou a nenhum consenso. Espaços para os usuários estão sendo criados pelo mundo, segregando-os do convívio com a sociedade. O debate continua, mas cada um pode ser orientado e depois escolher o seu futuro. No entanto, cabe às autoridades protegerem os cidadãos que já optaram por uma vida mais saudável e que não desejam ter de compartilhar o cheiro de crack e maconha no interior de suas próprias casas com os usuários dessas drogas.
Subprefeitura do Tatuapé, quando será vereador Toninho Paiva?
Há mais de 20 anos, o Alô Tatuapé reclama por uma administração exclusiva para o bairro, apoiando a ideia de pioneiros que compartilharam e muito trabalharam para que isso ocorresse através de abaixo-assinados, reuniões e palestras, primeiro como Regional do Tatuapé e depois como Subprefeitura do Tatuapé. Alguns dos mais arraigados defensores dessa ideia já faleceram, mas seu sonho persiste. O vereador Toninho Paiva, reeleito no início do mês de outubro, há anos apresenta diversas documentações a respeito para a nossa redação (ver matéria) quando trazemos a tona essa questão, mas até agora nada de concreto aconteceu. Os interesses mesquinhos até hoje – sejam eles de partidos, forças políticas ou da própria Câmara Municipal – não deixaram que a visão muito mais ampla dos pioneiros do bairro, que previu o crescimento assustador do Tatuapé, tivesse êxito. Torcemos para que a nova administração, executada de forma gestora pelo prefeito eleito no mesmo pleito pelos paulistas, sob os signos da boa gestão administrativa – atualizada, informada, criativa e eficiente – traga de volta valores perdidos com mais ação e menos falácia.
Todas as questões aqui descritas estão disponíveis aos interessados, assim como as imagens que detalham os fatos. E só para completar: alguém acredita no cumprimento da promessa de inauguração do CEU Carrão até o final deste ano, feita pelo atual prefeito Fernando Haddad?
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