A atual Avenida São João já teve outros nomes. Primeiro ficou conhecida como Ladeira do Acú, depois Rua São João Batista.


A história da Avenida São João remonta a 1651. Naquele ano, os paulistanos Henrique da Cunha Gago e Cristóvão da Cunha solicitaram à Câmara Municipal a doação de terrenos na área delimitada pelos Ribeirões Anhangabaú e Yacuba. Nascia assim uma tosca trilha de terra batida que fazia a ligação dessas propriedades com a chamada colina histórica de São Paulo.

Com o passar do tempo, esse rústico caminho passou a ser conhecido como “Ladeira do Acú”, numa abreviação de Yacuba. A ladeira iniciava-se no antigo Largo do Rosário – atual Praça Antonio Prado – e terminava nas proximidades do Largo do Paissandú. Desse ponto em diante, ela transformava-se na “Estrada de Jundiaí”, caminho muito utilizado por tropeiros que seguiam em direção ao interior do Estado.

Para transpor o Ribeirão Anhangabaú, existia uma ponte conhecida como “Ponte do Acú”. Por isso, a Ladeira do Acú era também conhecida como “Ladeira da Ponte do Acú”. E como Ladeira do Acú, a São João permaneceu durante todo o século XVIII.

E por que São João?

De fato, trata-se de uma homenagem a São João Batista, considerado o “protetor das águas” na tradição católica. Buscando as raízes dessa homenagem, verificamos que os cursos d’água que cruzavam a antiga “Ladeira” eram considerados perigosos para os antigos paulistanos: Yacuba ou Acú, significam em Tupi “Água Envenenada”; esse córrego margeava o atual edifício dos Correios e desaguava no Anhangabaú que, também no Tupi, significa “Águas Assombradas”.

Não obstante a questão do perigo das águas, devemos nos lembrar de que as encostas do Vale do Anhangabaú, no final do século XVIII e início do século XIX, eram uma região de matas e local onde se escondiam assaltantes e escravos fugidos. Por tudo isso, as procissões em homenagem a São João Batista tinham como roteiro certo uma passagem pela Ladeira do Acú. Assim, a tradição tomou vulto e a Ladeira passou a ser conhecida como “Ladeira de São João Batista”.

No dia 28 de novembro de 1865, o vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra sugeriu que a ladeira “da ponte do Acú” fosse denominada como “Ladeira de São João”. Mais tarde, ela se transformou em Rua e, depois, em Avenida São João. Entre 1910 e 1937, sucessivas reformas, alargamentos e prolongamentos foram realizados.

Alargada a partir de 1911, a Avenida São João foi descrita, segundo Ernani Silva Bruno:

“A chácara que pertenceu ao comendador Luís Antônio de Sousa Barros foi loteada para que se abrisse parte da Avenida São João, o largo e a travessa do Paissandú, a Rua do Seminário e a Praça do Correio. A São João era uma rua de velhas quitandas e botequins ao lado do Teatro Polythema, com os seus fogareiros de lata de querosene na porta, assando castanhas. (…) Teve realmente dias de sucesso e foi o centro de toda uma zona da cidade quando a antiga ladeira do Acu começou a se tornar a sede da vida noturna de São Paulo.”

 

Intenso tráfego de automóveis na Avenida São João, visto das proximidades do cruzamento com a Rua Líbero Badaró, por volta de 1950. Foto: Fotolabor

 


Fontes de consultas e imagens:

— “Lembranças de São Paulo – A capital paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças.
— Arquivo Histórico Municipal.


Publicação:
Sábado | 25 de janeiro de 2025.


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