A antagônica posição da economia brasileira é devida aos seus líderes. Se tomarmos como base os últimos 60 ou 70 anos, período anterior e pós ‘ditadura militar’, a competência de colocar o país entre as grandes economias mundiais se depara com a mais completa incompetência de garantir às gerações um país melhor.
Salvas abnegadas exceções, enquanto os responsáveis pela gerência dos anseios do país permanecem na ânsia de atender aos interesses partidários, egoísticos; na promoção de ‘acordos’, corrupção entre autoridades e empresas – vice-versa –; uma parcela muito significativa da população continua em plena distância da ascensão social, educacional e profissional. Os mais pobres recebem comida para sobreviver, isso quando conseguem; outros com sorte podem conseguir uma moradia em programas sociais governamentais que geralmente se tornam eleitoreiros.
As eleições no Brasil ocorrem a cada dois anos e a política de forma geral parece orbitar em torno delas. Como tudo nessa órbita deve ser planejado com antecedência, a pobreza do povo parece ficar em segundo plano. Vejamos alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo o órgão em um ano a situação melhorou 5,1% para os mais pobres, lamentavelmente um número nada entusiasmante.
Síntese de Indicadores Sociais
A síntese é uma análise das condições de vida da população brasileira 2023. Tem como objetivo sistematizar e apresentar um conjunto de informações relacionadas à realidade social do país, a partir de temas estruturais de grande relevância para a construção de um quadro abrangente sobre as condições de vida da população brasileira.
Destaques:
:: O percentual de pessoas em situação de pobreza caiu de 36,7% em 2021 para 31,6% em 2022, enquanto a proporção de pessoas em extrema pobreza caiu de 9,0% para 5,9%, neste período.
:: Em 2022, havia 67,8 milhões de pessoas na pobreza e 12,7 milhões na extrema pobreza. Frente a 2021, esses contingentes recuaram 10,2 milhões e 6,5 milhões de pessoas, respectivamente.
:: De 2021 a 2022, a extrema pobreza e a pobreza recuaram em todas as regiões, em especial no Norte (-5,9 p.p. e -7,2 p.p., respectivamente) e no Nordeste (-5,8 p.p. e -6,2 p.p.).
:: Em 2022, entre as pessoas com até 14 anos de idade, 49,1% eram pobres e 10,0%, extremamente pobres.
Vivendo com R$ 200 reais por mês
O percentual de pessoas em extrema pobreza, ou seja, que viviam com menos de R$ 200,00 por mês, no Brasil, caiu para 5,9% em 2022, após alcançar 9,0% em 2021. Já a proporção de pessoas em situação de pobreza, que viviam com até R$ 637,00 por mês, caiu de 36,7% em 2021 para 31,6% em 2022. Em termos de contingente, em 2022, havia 12,7 milhões de pessoas na extrema pobreza e 67,8 milhões na pobreza, com queda de cerca de 6,5 e 10,2 milhões de pessoas, respectivamente, nessas situações de um ano para o outro. Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada no dia 6 de dezembro de 2023.
Rendimento do trabalho impacta a pobreza e programas sociais impactam a extrema pobreza
A participação dos benefícios de programas sociais no rendimento domiciliar das pessoas em situação de extrema pobreza chegou a 67,0% em 2022. Já a renda do trabalho foi responsável por apenas 27,4% do rendimento deste grupo. No Nordeste, os benefícios de programas sociais representaram 72,4%, caindo para 48,2% na região Sul, enquanto a participação da renda do trabalho foi de, respectivamente, 23,7% e 38,6%.
Entre os domicílios considerados pobres, o rendimento de benefícios de programas sociais chegou a 20,5% do total do rendimento. A renda do trabalho, por sua vez, foi responsável por 63,1%. No Sudeste, a proporção é ainda maior, com a renda do trabalho chegando a 70,2% do rendimento dos domicílios, enquanto no Nordeste, o percentual foi de 54,3%, em 2022.
Antagonismo
O Brasil continua sendo uma controvérsia mundial na questão da pobreza. O fato é que quase a metade da população é pobre ou extremamente pobre, segundo os dados do IBGE. Baseando-nos em R$ 200 e R$ 637 mensais, respectivamente, é possível deduzir que haja muito mais pessoas pobres, sendo o salário mínimo R$ 1.412, um valor muito baixo se comparado aos preços praticados nos mercados, supermercados, feiras livres e açougues, onde a população compra seus gêneros alimentícios, sem contar os materiais de higiene, etc.
Com base nos valores atuais do dólar e do euro, façamos algumas comparações. No ano 2023, nos Estados Unidos, um trabalhador recebeu em média US$ 4.949 mensais, equivalentes a R$ 25.230. No mesmo ano, na Itália, onde a economia é menor do que a americana, um trabalhador ganhou em media EUR$ 1.611, algo em torno de R$ 10.800. A média paga aos trabalhadores brasileiros em 2023, segundo divulgado pelo IPEA com base na PNAD Continua do IBGE, foi de R$ 3.100.
Nessas comparações há diferenças de custos de vida, onde também poderíamos incluir educação, saúde e alimentação, aspectos que como vimos, são impossíveis de alcançar de maneira adequada por praticamente metade da população brasileira se nos basearmos no rendimento.
Refletindo sobre as seis ou sete décadas que ficaram para trás, a manutenção desse comportamento socioeconômico, por consequência ou responsabilidade por parte dos responsáveis pela Nação – no sentido de encontrar soluções adequadas que visem à ascensão da população e a distancie da necessidade constante de programas sociais –, eternizam a pobreza, apesar da grande riqueza gerada no país.
Com informações e dados do IBGE
Destaque – Imagem: aloart. Fotos: Getty Images
Publicação:
Segunda-feira | 20 de maio, 2024