As organizações brasileiras, como os institutos de pesquisas científicas e tecnológicas, hospitais públicos e privados de longa data e tantos outros progridem e procuram caminhos para integrar-se ao futuro, isso quando não são aparelhados para abrigarem correligionários e apadrinhados da lamentável política que se enraizou no país. Como sempre é preciso lembrar-se de tantos obstinados que tentam trabalhar e literalmente lutar para que tudo não desande de vez.


Apesar dos erros por falta dos necessários conhecimentos e possibilidades da época, mirando-nos na arquitetura dos centros mais antigos de São Paulo e do Rio de Janeiro, podemos observar as sutilezas que nem mesmo o tempo conseguiu devastar, pelo menos aqueles cujas edificações e arruamentos não foram invadidos ou demolidos em nome do ‘progresso’.

‘Primeiro mundo’

Os edifícios das primeiras décadas do século passado, que foram ocupados invariavelmente por órgãos públicos e museus, foram criados em momentos em que o país possuía uma visão futurista quanto ao progresso e às políticas, baseadas na própria evolução de países que ocupam hoje posições privilegiadas e são chamados de ‘primeiro mundo’. Esse era o lugar merecido também pelo Brasil, mas o infeliz comportamento da classe política (reservas sejam feitas) que emergiu gradativamente nas décadas que seguiram após a Proclamação da República, passou a priorizar a manutenção do poder e os interesses próprios.

Corrupção

Uma das mais bem sucedidas operações contra a corrupção no país, foi a Operação Lava Jato. Todavia, dela restou o exemplo, apenas. Seus componentes e ações foram desmantelados e os resultados obtidos – como provas que incriminavam os envolvidos –, anulados sombriamente. Porém, aos olhos de todos e aos que tudo podem ver.

Gradativamente, também, os mesmos personagens de outrora tomam conta novamente de uma das companhias que protagonizaram o maior escândalo de corrupção da história do Brasil. A nomeação da nova presidente da Petrobras, por indicação do atual presidente da República, Magda Chambriard, despertam o passado que deseja ser esquecido e não repetido.

Repercussão

O Antagonista e o Estadão repercutiram no dia 16 de maio, sobre os sinais da indicação – que ainda deve passar por aprovações para ser efetivada. “A indicação da ‘petista histórica’ Magda Chambriard para a presidência da Petrobras também foi apadrinhada pelo ‘ex-tesoureiro’ do PT João Vaccari Neto, a quem Lula respeita e confia e que segue tendo voz no atual governo nos bastidores”, registrou o Estadão.

O diretor de jornalismo de O Antagonista, observou: “Relembro o que escrevi em 6 de junho de 2022, a quatro meses da eleição presidencial: “O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, por exemplo, sempre foi afagado pelos pares. Tinha boquinha em Itaipu garantida por Dilma Rousseff enquanto era investigado e ganhou outra na CUT-PR após sair da prisão. Hoje atua nos bastidores da campanha lulista, assim como o ‘estrategista’ José Dirceu, mensaleiro condenado na Lava Jato até pelo STJ.”

Anulação de diversos processos

Apesar de as ações corruptivas na Petrobras e diversos valores substanciais terem sido devolvidos aos cofres públicos na casa dos bilhões de dólares pelos envolvidos graças ao trabalho desenvolvido pela Lava Jato, ao custo de exaustivas comprovações, ao longo dos anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) – maior instância da Justiça no país –, em síntese, firmou jurisprudência sobre “a incompetência da 13ª Vara Federal em Curitiba”, que foi chefiada pelo então juiz Sergio Moro e que condenou Vaccari, “para julgar o processo”. Firmado este ponto, a partir de diversas anulações de processos, dentre outros o atual presidente brasileiro, criou-se essa jurisprudência, desencadeando uma série de anulações, como a de Vaccari.

Condenado a 24 anos de prisão, acusado pela força-tarefa de procuradores da Lava Jato, diante dessa decisão, caberá à Justiça Eleitoral do Distrito Federal avaliar se as provas obtidas poderão ser reaproveitadas após a anulação. A decisão do Ministro do STF, foi divulgada em 9 de janeiro de 2024.

Pobreza

Devido a tantos problemas com as questões políticas, o povo se afasta dessa categoria, vota obrigatoriamente e mal conhece ou lembra em quem votou. Essa instabilidade gera consequências. Dados publicados no dia 6 de dezembro de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constataram o seguinte: “Em 2022, havia 67,8 milhões de pessoas na pobreza e 12,7 milhões na extrema pobreza. Frente a 2021, esses contingentes recuaram 10,2 milhões e 6,5 milhões de pessoas, respectivamente.” A constatação pode até parecer distante dos casos de corrupção, mas um olhar mais abrangente perceberá que uma classe voltada para interesses particulares – guardadas as honrosas exceções –, dificilmente percebe as necessidades de quem as financia: o povo do Brasil e sua centenária pobreza.


Destaque – Fotos: Niemczewski (Belo Horizonte-MG) | Taylor (Rocinha-RJ) / Getty Images / + aloart


Publicação:
Domingo | 19 de maio, 2024


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