Reportagem especial sobre a Revolução Constitucionalista de 1932
O patriotismo está em desuso no Brasil, mas os paulistas enfrentaram a morte certa para mostrar que das entranhas da terra dos bandeirantes não saíam homens, mulheres e crianças sem valor.
Gerson Soares
São Paulo completou 460 anos [atualmente 470 anos] e recebeu inúmeras homenagens, merecidas e importantes. Na torrente que se precipitou com o patriotismo que ainda era latente há pelo menos 80, 90 anos, esta cidade e o próprio estado, viram escrever-se um capítulo da história recente do Brasil. Para homenagear São Paulo e sua gente, nada melhor do que relembrar a história, seus valorosos homens e mulheres, que eternizaram seus feitos nomeando ruas, avenidas, praças e tantos lugares que por singela homenagem receberam seus honrosos nomes. Nesta história não podemos deixar de citar as crianças dos Batalhões Infantis, que empunharam a bandeira: “Se precisar também iremos”, dizendo à Ditadura que São Paulo não permaneceria inerte, que o Estado lutaria até o fim por suas convicções, por uma Constituição.
“Movidos em determinado instante por um só impulso, os paulistas despertaram com súbita energia para uma fulgurante campanha de dignidade e de civismo”, escreveu num de seus discursos sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, Armando Sales de Oliveira, revisitado por Ruy Martins Altenfelder Silva, no artigo “Exemplo para os tempos de hoje”, transcrito do “Digesto Econômico” da Associação Comercial de São Paulo, editado em julho de 2002, sob a presidência de Alencar Burti. Uma edição comemorativa aos 70 anos da Revolução de 1932.
Nesta pesquisa, renasce o orgulho de ser paulista, de ser brasileiro e a convicção de que o povo não pode se amedrontar, deve conhecer a sua história, pois nem só de corrupção e desmandos foram escritas as páginas da história do Brasil.
Impressa em pouco mais de 70 páginas, o “Digesto Econômico” traça um perfil dos homens e das instituições, após a Revolução de 1930, de onde emergiu Getúlio Vargas, com a promessa de uma nova Constituição, que só seria cumprida anos depois, para ser novamente rasgada. A publicação, um raro documento histórico, teve sua segunda edição publicada em 2003, em papel couchê, durante a gestão de Guilherme Afif Domingos.
Na tentativa de dissuadir São Paulo de suas convicções, a Ditadura não fazia nenhum esforço para acalmar os ânimos nas reuniões para discutir o chamado “caso paulista”, pois o propósito permanente era manter São Paulo – que despontava como o mais desenvolvido dos estados – como terra conquistada.
Em um dos depoimentos, citados no livro “Lembranças de Velho” – de Eclea Borges – colhidos na época junto às mulheres, que tempos antes da luta armada já se rebelavam contra os opressores, temos o seguinte: “A gente andava na Rua Direita com gaúcho arrastando esporas acintosamente na calçada, e de poncho (…) O Getúlio chegou prometendo uma Constituição, e se instalou em outubro de 1930. Passou 31 todo e a Constituição não veio. Quando chegou 32, houve a revolução. São Paulo se levantou”.
Em 25 de janeiro de 1932, no Largo da Sé, a cidade parou para exigir a “libertação e a autonomia da Terra de Anchieta”, devido ao intervencionismo imposto pelo ditador, através dos desmandos de seus representantes. São Paulo e seus líderes eram a favor do caráter, do civismo, do patriotismo, deixando claro que isso deveria estar implícito nos homens que decidem o destino da Nação, como estava no coração e na bravura daqueles que lutaram e morreram por acreditar num país melhor.
Publicação:
Terça-feira, 8 de julho de 2014
Atualização:
Terça-feira, 9 de julho de 2024