Sábado | 20 de agosto, 2022


Estudo publicado na revista Urban Forestry & Urban Greening aponta que os fatores que mais influenciam e aumentam o risco de queda de árvores na cidade de São Paulo são a altura dos prédios no entorno e a idade do bairro. Em seguida, estão a largura da calçada e a altura da árvore.

Por Luciana Constantino | Agência FAPESP


Segundo dados do artigo, a queda de árvores em ruas e avenidas com edificações de cinco ou mais andares é o dobro da média registrada na cidade. Também aumenta nos distritos criados há mais de quatro décadas. Além disso, o risco sobe para árvores acima de 9,58 metros e plantadas em calçadas planas. Por outro lado, regiões mais novas e com baixa altura de construção têm 37% menos casos.

Os pesquisadores analisaram 26.616 registros de quedas de árvores nos 96 distritos da capital durante oito anos. Entre 2013 e 2021, foram perdidas cerca de 4% das 652 mil árvores existentes na área urbana. Houve variação entre as regiões de 0,59% registrado no extremo sul a 17%, no centro.

Esse é o primeiro trabalho a avaliar um conjunto de dados abrangentes sobre o tema. A metodologia e as conclusões da pesquisa serão aplicadas em programas de manejo e planejamento de arborização urbana na capital.

“Usamos técnica de inteligência artificial com foco na aplicação prática dos resultados. Com isso, conseguimos apontar, por exemplo, a partir de qual altura das edificações e das árvores o risco aumenta, elevando o nível de atenção”, diz o autor correspondente do artigo, Giuliano Locosselli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP) e do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA).


Destaque - Pesquisa também mostrou que outros fatores decisivos são a largura da calçada e a altura da árvore; resultado será usado para manejo e planejamento da arborização urbana na capital. Foto: PMSP

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Podas

Para a assessora técnica da Divisão de Arborização Urbana da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, Priscilla Cerqueira, os critérios apontados no estudo vão contribuir para melhorar a avaliação da saúde das árvores. “É possível compartilhar os dados com servidores técnicos e com as empresas contratadas que fazem o manejo. Será possível aperfeiçoar a prioridade estabelecida nos distritos, sob competência das subprefeituras, com base nos fatores de risco de queda”, afirma à Agência FAPESP a assessora, que também é uma das autoras do artigo.

Desde 2020, com a Lei nº 17.267/2020, que excluiu a exigência de publicação da autorização de poda no Diário Oficial, as equipes técnicas têm ampliado a área de avaliação para quarteirões ou toda a rua ao fazer os atendimentos. “Estamos desenvolvendo um sistema único de arborização, previsto no Plano Municipal de Arborização Urbana, onde será possível disponibilizar essas informações”, complementa Cerqueira.

Impactos

São Paulo é a maior cidade da América do Sul e uma das cinco mais populosas no mundo, segundo o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos. Assim como outras megacidades, a capital sofre o efeito das mudanças climáticas devido às ilhas de calor, superfícies impermeáveis e poluição ambiental. Alterações nesse ambiente urbano podem ser obtidas por meio dos serviços ecossistêmicos, que compõem as soluções baseadas na natureza.

A vegetação contribui com o sequestro de carbono – ajudando a mitigar efeitos do aquecimento global e da poluição do ar –, além de reduzir a temperatura e os impactos negativos de inundações e enchentes, seja pelo aumento da área de solo mais permeável ou pela capacidade de interceptar parte do volume das chuvas.

Verticalização

No entanto, com a verticalização, as árvores enfrentam condições desfavoráveis dentro dos chamados “cânions urbanos”, ou seja, fileiras contínuas de edifícios altos que alteram a velocidade do vento local, a dispersão da poluição e os padrões de iluminação e microclima.

Essas alterações afetam os principais processos biológicos das árvores, contribuindo com a queda precoce, que leva a danos materiais, financeiros e até risco de morte para moradores. Esses efeitos dos cânions urbanos no crescimento e estabilidade das árvores ajudam a explicar o aumento do risco em áreas com edificações mais altas.