Sábado | 20 de agosto, 2022


Reduzir o consumo de proteínas pode ajudar a controlar a síndrome metabólica e alguns de seus principais sintomas, como obesidade, diabetes e hipertensão. Foi o que mostrou um estudo feito por pesquisadores brasileiros e dinamarqueses com o objetivo de comparar os efeitos das dietas com restrição proteica e calórica em seres humanos. Os resultados foram publicados na revista Nutrients.

Por Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP


A síndrome metabólica é um conjunto de condições – entre elas hipertensão, nível elevado de açúcar no sangue, acúmulo de gordura em torno da cintura e colesterol alto – que aumenta o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes.

“O estudo mostrou que diminuir o consumo de proteínas para 0,8 grama [g] por quilo [kg] de peso corporal foi suficiente para atingir quase os mesmos resultados clínicos de uma dieta com restrição calórica, mas sem a necessidade de reduzir as calorias ingeridas. Os resultados sugerem a possibilidade de a restrição proteica ser um dos principais fatores que levam aos efeitos conhecidamente benéficos da restrição alimentar. Com isso, a dieta de restrição de proteínas pode ser uma estratégia nutricional mais atrativa e relativamente mais simples de ser seguida por indivíduos com síndrome metabólica”, afirma Rafael Ferraz-Bannitz , doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e primeiro autor do artigo.

O estudo foi financiado pela FAPESP por meio da bolsa de doutorado de Ferraz-Bannitz e de um Projeto Temático coordenado pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcelo Mori, cujo objetivo é mimetizar, por meio de diferentes estratégias, os efeitos da restrição calórica. A investigação envolveu uma equipe multidisciplinar e internacional com cientistas da USP, da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Unicamp.

Dieta controlada

Durante 27 dias, os pesquisadores acompanharam 21 pacientes diagnosticados com síndrome metabólica. Os voluntários foram divididos em dois grupos e permaneceram por todo o período internados no Hospital das Clínicas da FMRP-USP, para que a dieta pudesse ser monitorada e seguida à risca.

Mesmo com os resultados promissores é preciso atentar para o fato de o estudo ter contado com a utilização de dietas individualizadas. Mori ressalta ainda que a pesquisa foi realizada com uma população específica: pacientes com síndrome metabólica que apresentavam diabetes, obesidade, hipertensão e colesterol alto.

“No entanto, fica difícil não pensar em extrapolar esse resultado. Sabemos que uma dieta vegana tem se mostrado positiva para casos de síndrome metabólica e também já foi verificado que o excesso de ingestão proteica, como é o padrão ocidental, pode ser um problema. Por isso, é preciso avaliar caso a caso. Não se pode esquecer que a carência de proteína pode levar a problemas graves – algo que já foi bem descrito no caso de gestantes, por exemplo”, diz.


Destaque: Ensaio clínico randomizado foi feito por pesquisadores brasileiros e dinamarqueses com 21 pacientes com síndrome metabólica. Perda de peso, controle da pressão arterial e melhora do perfil glicêmico e lipídico foram observados tanto nos voluntários que restringiram calorias quanto nos que reduziram apenas o teor proteico da dieta. Foto: Pixabay