Sábado | 20 de agosto, 2022


O título ilustra a publicação da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, sediada no Rio Janeiro e o alerta foi feito por cientista brasileira, considerada autoridade no assunto.

Dilene Raimundo do Nascimento é assistente social, médica, sanitarista, historiadora e professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). No artigo, a estudiosa da história da Aids no Brasil apontou que parte da comunidade médica, além de autoridades sanitárias, também contribuiu para a discriminação de determinados grupos. Romper com o estigma em torno da infecção pelo vírus HIV, segundo ela, é um processo gradual e ainda inconcluso.

“Esse trabalho não está terminado, não há um momento exato a partir do qual o preconceito e a discriminação tenham sido desconstruídos e o HIV/Aids passado a ser visto como um problema de todos”, afirma. Em entrevista, ela ressalta que a atuação de ONGs lideradas por homens soropositivos foi fundamental no combate ao preconceito e na busca de respostas para a epidemia. “Homens homossexuais, que estavam sendo mais afetados [no início da epidemia], resolveram não morrer em silêncio”.

Monkeypox (varíola dos macacos)

Hoje, as memórias sobre a desinformação e os estigmas do início da epidemia de Aids, há mais de 40 anos, voltam à tona diante da mais recente emergência de saúde pública de importância internacional, a monkeypox. Embora a doença não seja uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), a alta prevalência entre homens que fazem sexo com homens nos primeiros diagnósticos motivou manifestações de autoridades que chegaram a aconselhar a redução do número de parceiros sexuais para esse grupo.

A recomendação, em torno da qual há ampla divergência, é questionada por Dilene. Na avaliação da historiadora, pronunciamentos nessa linha podem acabar por reforçar estigmas em torno de homens que fazem sexo com homens e disseminar o entendimento de que outros grupos estão imunes à doença. “Todos viram o que aconteceu com o HIV/Aids, como foi difícil lidar com isso para as autoridades sanitárias, para a população em geral e particularmente os próprios afetados pelo vírus. Isso não pode se repetir de forma alguma”, diz.

Referência na área de História das Doenças

A doutora Dilene possui um histórico que dispensa apresentações, mas é importante mencionar o trecho de uma entrevista publicada pelos doutores em História das Ciências e da Saúde, Eliza Vianna e Gabriel Lopes. Para realizar essa entrevista com a pesquisadora Dilene, Eliza e Gabriel foram recebidos na sua residência que fica no Rio de Janeiro, onde ela narrou os percursos de sua complexa formação e “nos contou um pouco de sua história, que se confunde com a própria formação do campo de estudo”, relatam.

Conforme o documento “Fronteiras & Debates”, publicado pela Universidade Federal do Amapá, “entre as principais doenças a cujo estudo histórico se dedicou, destacam-se a tuberculose, a Aids, a poliomielite, a hanseníase e a peste. Do ponto de vista teórico, são importantes suas reflexões sobre a representação social das doenças. Suas principais publicações são a coletânea, “Uma história brasileira das doenças” - que já está em seu 8º volume; “Pestes do século XX: tuberculose e Aids no Brasil (2005)”; “Hanseníase: a voz dos que sofreram isolamento compulsório (2011)”; e “A história da poliomielite (2010),” escreveram os autores.


Com informações da Agência Fiocruz de Notícias


Acesse o artigo: “Entrevista com Dilene Raimundo do Nascimento - Dossiê História da Saúde e das Doenças: experiências e perspectivas”.


Destaque: Fiocruz Amazônia faz primeiros sequenciamentos de monkeypox na região Norte. As duas amostras sequenciadas fazem parte da mesma linhagem do vírus em circulação em vários países, incluindo o Brasil. Foto: Fiocruz Amazônia. Em destaque na imagem, Dilene Raimundo do Nascimento: alerta sobre a possibilidade dos erros cometidos no enfrentamento da Aids se repetirem com a monkeypox. Pesquisadora da COC/Fiocruz, explica que associação equivocada de doenças a determinadas orientações sexuais dificulta seu enfrentamento. Foto: Fiocruz / RJ