Sábado | 28 de maio, 2022
Pesquisa da Associação Paulista de Medicina, com 3043 médicos de todo o Brasil, confirma serem comuns pressões de planos de saúde, inviabilizando o melhor exercício profissional com consequentes prejuízos ao atendimento dos pacientes. São 53% os que já sofreram tentativas ou interferências para alterar tratamentos que prescreveram, incluindo exames e internação.
Por Antonio Carlos Lopes*
Tão grave quanto: a pesquisa mostra que 88,3% dos médicos já presenciaram pacientes abandonarem tratamentos por conta de reajustes das mensalidades no campo suplementar.
Fica cada vez mais evidente que parcela das empresas age à margem dos princípios éticos e morais, desrespeitando a autonomia médica e subtraindo assistência de nível adequado aos pacientes.
Lamentavelmente é um panorama que tende ainda a piorar, considerando que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está prestes a autorizar um reajuste de cerca de 18% aos planos, o maior em 20 anos.
O índice de majoração está longe da realidade do brasileiro que anda enfrentando toda a sorte de problemas financeiros, sendo obrigado a reduzir despesas, dada à caótica situação econômica do País.
Aumentos estratosféricos das mensalidades, todos os anos bem acima da inflação, penalizam aqueles que deveriam ser prioridade: os pacientes. Muitos se veem obrigados a abrir mão de investir na educação dos filhos, têm de abandonar o sonho da casa própria e cortar itens relevantes de seus orçamentos, para honrar as mensalidades da saúde suplementar. Outros simplesmente largam tratamentos no meio do caminho e engrossam as filas do Sistema Único de Saúde, subfinanciado e já insuficiente para um acolhimento digno.
Mesmo diante desse quadro, no qual não há equilíbrio econômico e favorece que certas empresas esfolem prestadores como os médicos, além dos pacientes, há um grupo de insaciáveis de planos de saúde. Exemplo: em São Paulo, neste momento, o Procon-SP está notificando uma administradora e uma cooperativa a explicar a aplicação de reajuste anual de até 80% aos seus “beneficiários”.
Todos estes pontos, somados, reforçam a necessidade de a sociedade no geral e, principalmente, da comunidade médica, se posicionar em defesa dos pacientes e do exercício da boa medicina.
Não admitimos que interesses financeiros de alguns grupos privados falem mais alto do que aquilo que deve ser garantido como um direito do cidadão: saúde e qualidade de vida.
*Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Nota da Redação:
Este artigo foi divulgado em 17 de maio, último. Após a publicação projetando 18% de aumento, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou na quinta-feira (26/5), por maioria de votos, o reajuste de 15,5% para os planos de saúde individuais e familiares. O índice é um dos maiores dos últimos 20 anos e terá validade pelo período de maio de 2022 a abril de 2023.