Nosso trabalho foi desenvolvido nos bairros do Alto da Mooca, Carrão e Tatuapé. O acesso a Boletins de Ocorrência não é divulgado. Portanto, não é possível saber quantas pessoas reclamam. Mas, na internet, as reclamações alcançam milhares. Os acessos a este portal ultrapassam as dezenas de milhares anualmente.
Investigamos e conversamos com diversas pessoas na Vila Gomes, Vila Santo Estevão e Chácara Santo Antônio, onde há pelo menos 10 anos atuam os infratores que foram envolvidos no processo ao qual tivemos acesso.
O objetivo principal deste trabalho é saber se os vigias noturnos podem exercer essa função tocando sirenes com 120 decibéis de pressão sonora, como ficou comprovado. Porém, até hoje sem resposta das autoridades, se podem ou não. Bastaria dizerem que eles podem fazer esse uso à noite e à madrugada toda, diariamente, como fazem.
Obviamente, a autoridade que o disser irá se comprometer. Portanto, não o faz. Mas, ao mesmo passo, ninguém os pune. Por quê?
Ligações e contatos.
Devido às reportagens anteriores a este terceiro levantamento, recebemos discretas ligações e comentários de pessoas amedrontadas sobre o sofrimento e a crueldade desses vigias noturnos. Quem não paga ou reclama pode ser perseguido, ameaçado. Exatamente por isso, as pessoas não se envolvem, com medo de piorar a sensação de insegurança que já existe.
Todavia, essa insegurança criou uma brecha para pessoas que se tornaram vigias noturnos e adotaram sirenes para chamar a atenção dos seus contratantes. Existe uma lei que permite esse tipo de contratação, mas não especifica o uso de sirenes, o que seria absurdo. Qualquer pessoa pode contratar segurança privada, mas o uso de sirene é proibido.
Porém, um número gigantesco de pessoas não aguenta mais essa barulheira e a privação do sono. Em São Paulo, a lei foi assinada pelo atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, quando ainda era governador. As reclamações estão na mídia e nas redes sociais, mas não surtem efeito.
Privação do sono e impagáveis males à saúde.
Ao processá-los, a vítima no processo ao qual tivemos acesso – analisaremos detalhes no mínimo curiosos – imaginou estar fazendo um bem a si mesma e à coletividade. Além do que, a decisão de um juiz no processo poderia criar jurisprudência e significar o olhar mais atento das autoridades, beneficiando a sociedade. Por outro lado, o juiz poderia julgar que os vigias podem acionar sirenes com 120 decibéis durante as noites e madrugadas; uma hipótese surpreendente.
Não se trata de querer proibir a contratação de segurança privada, mas sim de fomentar esse formato arcaico, com sirenes que remetem a uma sensação de plena insegurança diariamente, provocam a privação do sono, distúrbios psicológicos e causam males diversos à saúde e até a morte, como veremos.
Leia todas as reportagens e tópicos, assista aos vídeos, desta 3ª série especial que mostra como as autoridades supostamente não fazem cumprir a legislação no caso dos vigias noturnos motorizados.
Destaque – Imagem: aloart G I