Sábado | 23 de janeiro, 2021 | 17h09


Com a ascensão do jornalismo partidário dos últimos tempos a capa do periódico deste final de semana é um exemplo, péssimo.

Gerson Soares

O jornalismo experimenta uma fase decadente. O acirramento por audiência e dados para gerar verbas está levando aquilo que conhecemos há 50 anos como credibilidade da imprensa ao fundo do poço. Está em jogo, nestes tempos de notícias on demand e fake news, qual o verdadeiro papel da imprensa, que a meu ver deveria ser informar com isenção.

As jogadas de marketing do governador de São Paulo, João Doria, estão ultrapassando os muros do Palácio dos Bandeirantes há muito tempo. Parece que nada o satisfaz, sua sede de poder dá a impressão de ser infinita. Talvez, fosse interessante entregar-lhe agora mesmo a presidência da República, que provavelmente deixaria na metade do terceiro ano para se dedicar a alguma outra forma de exercer seu poderio, se é que existe algo que o sacie.

 

Governador João Doria, durante coletiva de imprensa para anunciar a nova fase vermelha no Estado de São Paulo. Foto: divulgação / GESP

 

Nesta sexta-feira, 22, seu governo anunciou a volta de medidas restritivas à circulação de pessoas e além das tribunas, onde faz seus anúncios diariamente, o Brasil seria surpreendido com mais uma capa de revista que o exalta como o “salvador da Pátria”.

Inversamente a isso, comerciantes se manifestaram na manhã deste sábado (23) ao lado do Palácio dos Bandeirantes contra a volta do estado à fase vermelha. “A partir de segunda-feira (25), as regiões de Barretos, Bauru, Franca, Marília, Presidente Prudente, Sorocaba e Taubaté estarão na fase vermelha do Plano São Paulo, com fechamento de comércios e serviços não essenciais. As demais, incluindo a Grande São Paulo, ficarão na etapa laranja, mas com restrições da vermelha em dias úteis, após as 20h, e integralmente aos finais de semana,” divulgou o governador. As medidas devem vigorar até o dia 7 de fevereiro.

Capa da IstoÉ

Apesar do slogan dizer que é “Independente”, a população está perguntando: quanto o governador João Doria pagou pela capa e reportagem da IstoÉ deste final de semana com data de 27 de janeiro de 2021? No velho jargão jornalístico isto é chamado de “jabaculê” – ou jabá que genericamente indica a publicidade velada paga a um veículo de comunicação. Tudo leva a crer que até as palavras usadas na chamada da capa são muito parecidas com as que o governador costuma se dirigir à população quase diariamente. Só faltou colocar o número com que ele irá se candidatar, os demais requisitos e devidos ataques ao Governo Federal e ao presidente Jair Bolsonaro foram feitos com apurada devoção.

Pelo Twiter, sentindo-se homenageado, Doria agradeceu ao veículo: “Honrado com a homenagem que recebi pela Revista IstoÉ desta semana. Reconhecimento do esforço do Governo de SP e do Instituto Butantan para garantir uma vacina segura e eficaz para a imunização dos brasileiros. Seguiremos pautando nosso trabalho no respeito à ciência e com senso de urgência para salvar vidas”, publicou na sua página.

Hipocrisia e cinismo a parte, não ousamos repercutir nem os dizeres que constam na capa da revista, não podemos concordar com o conteúdo da reportagem, legando a um só homem todo esforço feito por cientistas, técnicos e um rol de pessoas envolvidas para que as primeiras vacinas produzidas pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac chegassem aos braços de quem necessita.

Sem contar que o financiamento foi feito pelo Governo Federal através do Ministério da Saúde, além disso, denegrir a imagem do presidente da República a todo custo, elevando seu mais obstinado rival para o pleito de 2022, deixa margem para muitas questões sobre quanto o jornalismo se partidarizou, contrariando seus mais básicos princípios.

Aumentos expressivos de impostos e taxas no início deste ano assustam paulistas. Ilustração: aloart / freeimages

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