Setembro Amarelo é uma campanha nacional de prevenção ao suicídio, que tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância de discutir abertamente questões relacionadas à saúde mental, especialmente a depressão, que é um dos principais fatores de risco para o suicídio.

Por Débora Macedo*


O número de suicídios tem crescido de forma alarmante em todo o mundo, e o Brasil não é exceção. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de acidentes de trânsito. No Brasil, estima-se que cerca de 14 mil pessoas tiram suas próprias vidas a cada ano, o que representa uma média de 38 suicídios por dia.

A depressão é uma doença complexa e multifacetada, que afeta não apenas o humor, mas também a maneira como a pessoa pensa, sente e se comporta. É comum que pessoas com depressão grave experimentem sentimentos de desesperança, isolamento e desamparo, o que pode levá-las a acreditar que o suicídio é a única saída para seu sofrimento.

Nesses 27 anos de vivência como psicóloga, posso dizer que aproximadamente 90% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais, sendo a depressão o mais prevalente. Entretanto, é crucial destacar que a depressão é tratável e a intervenção precoce pode evitar que a pessoa chegue ao ponto de considerar o suicídio.

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo na busca por terapia psicológica. Esse movimento reflete uma mudança positiva na forma como a saúde mental é vista e abordada. Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) mostram que a procura por atendimento psicoterapêutico aumentou em cerca de 50% durante a pandemia de COVID-19, um período marcado por elevado nível de estresse, ansiedade e depressão.

Parece antagônico o aumento de atendimento psicológico e ao mesmo tempo ter o suicídio como o segundo motivo de morte no país. Mas eu tenho um outro olhar em relação a isso: se não houvesse esse aumento de consciência da importância da terapia, talvez estivéssemos em uma situação muito pior.

A psicoterapia é uma ferramenta essencial no tratamento da depressão, ajudando os indivíduos a entender e gerenciar seus pensamentos e sentimentos, a desenvolver estratégias de enfrentamento e a reconstruir sua autoestima. Terapias baseadas em evidências, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), têm mostrado eficácia significativa na redução dos sintomas depressivos e na prevenção de recaídas.

Além da terapia, o apoio de familiares e amigos é fundamental no processo de recuperação. Muitas vezes, a pessoa com depressão não percebe a gravidade de sua condição ou não tem forças para buscar ajuda por conta própria. Nesse contexto, é importante que aqueles ao redor estejam atentos aos sinais de alerta, como mudanças abruptas de comportamento, isolamento social, perda de interesse em atividades antes prazerosas e falas sobre morte ou suicídio.

Se você ou algum conhecido está passando por um momento difícil, não hesite em buscar ajuda. A depressão é uma doença silenciosa que pode levar a morte. Por isso, mesmo que não tenha recursos para contar com o apoio de um profissional, tente uma organização como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional gratuito e sigiloso, disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, pelo telefone 188 ou pelo site. Depressão tem cura e pode evitar que mais pessoas resolvam tirar a própria vida!


*Débora Macedo é psicóloga clínica, social, do desenvolvimento e cognitiva, com especialização em psicologia do esporte e neurociência. Organiza workshops para educadores e treinadores, e oferece terapia de casal e familiar, focando na resolução de conflitos e na melhoria das relações interpessoais.


Destaque – Imagem: aloart


Publicação:
Sábado | 5 de outubro, 2024


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