Quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016 às 20h28


Três meses depois do rompimento da barragem da empresa Samarco, ainda não é possível ter uma ideia formada sobre o assunto no que diz respeito ao diversos tipos de prejuízos irreparáveis à natureza, incluindo aí os próprios seres humanos que fazem parte dos diversos nichos extremamente prejudicados.

Gerson Soares

A responsabilidade pelo desastre sem precedentes na história do país inclui as controladoras da Samarco, a anglo-australiana BHP Billiton e a Vale, antiga estatal brasileira conhecida como Vale do Rio Doce, que agora destruiu o vale que lhe gerou tantas riquezas do qual extraiu também o nome.

De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) foram atingidos pela lama tóxica 663 Km de rios e 1.469 hectares de terras, inclusive provocando “a destruição de Áreas de Preservação Permanente que ocorreu no trecho de 77 quilômetros de cursos d’água da barragem de Fundão até o Rio do Carmo, em São Sebastião do Soberbo (MG)”.

 

Barragem do Fundão que ao romper-se em novembro do ano passado despejou pelo menos 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração de ferro no Vale do Rio Doce. Foto: Ibama

Barragem do Fundão que ao romper-se em novembro do ano passado despejou pelo menos 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração de ferro no Vale do Rio Doce. Foto: Ibama

 

Em nota o Ibama relatou os danos ambientais e sociais diretos, tais como morte e desaparecimento de pessoas; isolamento de áreas habitadas; desalojamento de comunidades pela destruição de moradias e estruturas urbanas; fragmentação de habitats; destruição de áreas de preservação permanente e vegetação nativa; mortandade de animais de produção e impacto à produção rural e ao turismo, com interrupção de receita econômica; restrições à pesca; mortandade de animais domésticos; mortandade de fauna silvestre; dizimação de ictiofauna silvestre em período de defeso; dificuldade de geração de energia elétrica pelas hidrelétricas atingidas; alteração na qualidade e quantidade de água, bem como a suspensão de seus usos para as populações e a fauna, como abastecimento e dessedentação; além da sensação de perigo e desamparo da população em diversos níveis.

Ainda de acordo com o documento divulgado no início de dezembro, a força do volume lançado com o rompimento da barragem pode ter revolvido e colocado novamente em suspensão os sedimentos de fundo dos rios afetados, que pelo histórico de uso já continham metais pesados.

Parque Nacional Marinho dos Abrolhos

No dia 7 de janeiro, o Ibama notificou a mineradora Samarco, que iniciou a coleta de amostras da água do mar para confirmar a suspeita de que a lama de rejeitos de mineração teria atingido o Parque Nacional Marinho de Abrolhos e as reservas extrativistas do Corumbau e Cassurubá, no sul da Bahia. Nesse mesmo dia, em sobrevoo realizado por analistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) verificaram a presença de sedimentos nas áreas de recifes de corais do arquipélago. A informação foi divulgada em entrevista coletiva concedida pelos presidentes do Ibama, Marilene Ramos, e do ICMBio, Claudio Maretti, em Brasília.

“O vento predominante na região nesta época do ano é o nordeste. Contudo, a partir do dia 4 de janeiro, uma frente subtropical entrou forte e provocou a formação de uma frente de baixa pressão perto da costa. Isso causou uma inversão do vento, que passou a ter predominância sul, carreando sedimentos na direção norte.

Nos dias 5 e 6 de janeiro, foi verificada, por meio da interpretação de imagens dos satélites Terra/Modis e Aqua/Modis, da NASA, mudança na orientação da pluma de rejeitos, até então com tendência de se manter ao sul da foz do rio Doce, localizada em Regência, no estado do Espírito Santo. Essas imagens indicaram que a pluma de menor concentração avançou mais de 200 km na direção norte.

Um novo mapa gerado pelo Ibama, com imagens da NASA dos dias 6 e 7 de janeiro, estima que a área da pluma atingiu cerca de 7 mil quilômetros quadrados: a de maior concentração com 772 quilômetros quadrados; e a de menor concentração com 6.360 quilômetros quadrados.

 

Lama tóxica que percorreu 663 km até se encontrar com o Oceano Atlântico provocando irreparáveis prejuízos. Agora suspeita-se que esteja chegando ao Parque Marinho de Abrolhos. O que irá acontecer ainda ninguém se atreve a precisar. Foto: Ibama

Lama tóxica que percorreu 663 km até se encontrar com o Oceano Atlântico provocando irreparáveis prejuízos. Agora suspeita-se que esteja chegando ao Parque Marinho de Abrolhos. O que irá acontecer ainda ninguém se atreve a precisar. Foto: Ibama

 

Ibama recusa Plano de Recuperação Ambiental da Samarco

No dia 27 de janeiro, o Ibama exigiu que a Samarco apresente um novo Plano de Recuperação Ambiental da região afetada, com as complementações e atualizações necessárias. A empresa havia protocolado no dia 18 de janeiro um plano que foi rejeitado pela equipe técnica do instituto, responsável pela análise, levando em conta que o levantamento dos impactos foi feito “de maneira genérica e superficial, sem considerar o imenso volume de informações produzidas e disponíveis até o momento”.

As ações propostas pela empresa que provocou a catástrofe foram classificadas como “pouco detalhadas e pouco fundamentadas do ponto de vista metodológico e científico”.

“O diagnóstico dos danos é extremamente superficial”, apontam os técnicos no documento. De acordo com a avaliação, a empresa “minimiza todos os impactos ambientais da ruptura da barragem”. “Em relação aos impactos sobre os organismos aquáticos, verifica-se a tendência a subestimar o problema, inclusive se omitindo completamente em relação ao volume e diversidade de peixes encontrados mortos ao longo da bacia do Rio Doce.”

A Nota Técnica produzida pelos analistas do Ibama ressalta que “a falta de prazos definidos impossibilita qualquer monitoramento das atividades a serem desenvolvidas por parte dos órgãos competentes”.

O prazo para entrega das complementações e atualizações exigidas é 17 de fevereiro.

Matéria especial sobre o Arquipélago de Abrolhos. Assista vídeos, saiba como visitar o arquipélago, com dicas dos próprios organizadores. Entenda como a lama tóxica da Samarco pode afetar a vida marinha e as pesquisas que estão sendo feitas no maior santuário marinho do Brasil.

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Região do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu. Foto: © WWF-Brasil

Região do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu. Foto: © WWF-Brasil

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