Quarta-feira, 25 de maio de 2016 às 20h11


A doença de Chagas é transmitida pelo inseto conhecido como “barbeiro” e a lesihmaniose pontencialmente disseminada pelo mosquito palha. No Brasil, essas doenças ainda afetam um número importante da população. A reportagem da Fapesp revela pesquisas inéditas.

Diego Freire | Agência FAPESP

Pesquisadores da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) obtiveram o registro fotográfico microscópico inédito de coinfecções pelos protozoários parasitas Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, e Leishmania amazonenses, responsável pela leishmaniose, dentro de uma célula infectada. Também foram registradas pela primeira vez na literatura científica formas vivas do Trypanosoma cruzi dentro de tecidos do intestino e do coração de camundongos.

 

Fotografias microscópicas de infecções são registradas pela primeira vez por pesquisadores da Unifesp e ilustram capas de revistas científicas. Foto: divulgação / Fapesp

Fotografias microscópicas de infecções são registradas pela primeira vez por pesquisadores da Unifesp e ilustram capas de revistas científicas. Foto: divulgação / Fapesp

 

A imagem da coinfecção foi escolhida para ilustrar a capa da edição de maio do periódico Infection and Immunity, publicado mensalmente pela American Society for Microbiology, enquanto a outra está na capa de junho da revista Cellular Microbiology.

As duas imagens foram obtidas em pesquisas conduzidas no âmbito do Projeto Temático “Biologia molecular e celular do parasitismo por Trypanosoma cruzi”, realizado com apoio da FAPESP, cujo objetivo é analisar diferentes linhagens do protozoário e de espécies de tripanossomos em mamíferos, contemplando estudos de evolução cromossômica.

O registro da coinfecção dentro do vacúolo parasitóforo, estrutura na qual o parasita se aloja dentro das células hospedeiras, foi possível graças a uma técnica utilizada durante o trabalho de mestrado “Formação de vacúolos quiméricos com Leishmania amazonenses e Trypanosoma cruzi e participação da subunidade D2 da ATPase vacuolar na biogênese dos vacúolos parasitóforos de Leishmania amazonenses”, de Carina Carraro Pessoa, realizado com Bolsa da FAPESP. O vacúolo contendo as duas espécies de protozoários parasitas foi aberto e seu conteúdo exposto pela ação de fita adesiva.

“Trata-se de uma técnica simples que se revelou bastante satisfatória. Uma fita adesiva colada na lâmina que continha a amostra, quando retirada, ‘rasgou’ o vacúolo e expôs seu conteúdo interno, permitindo que ele fosse fotografado por um microscópio eletrônico”, disse Renato Arruda Mortara, professor da disciplina de Parasitologia da EPM-Unifesp e coordenador do trabalho.

“A observação pode ampliar o conhecimento que se tem sobre processos de coinfecções, especialmente porque, como foi observado no trabalho, a diferenciação do T. cruzi pode ter lugar em vacúolos contendo Leishmania, sugerindo que isso ocorre antes da fuga do parasita para o citosol (líquido no interior das células dos seres vivos) da célula hospedeira”, explicou.

Já a capa da Cellular Microbiology traz imagens obtidas com a ajuda da proteína verde fluorescente (GFP, na sigla em inglês), introduzida nos parasitas por meio de transfecção – processo de introdução intencional de ácidos nucleicos nas células. Com capacidade de absorver e emitir luz, a GFP fica verde quando exposta a luz ultravioleta.

Após a infecção de tecidos do coração e do intestino de camundongos com os parasitas fluorescentes, as amostras foram seccionadas e os cortes, expostos a microscopia confocal, tecnologia utilizada para aumentar o contraste do registro microscópico e construir imagens tridimensionais.

As imagens foram utilizadas no trabalho de mestrado “Avaliação in loco da infecção aguda e crônica por tripomastigotas de Trypanosoma cruzi (TCI e TcVI) em camundongos isogênicos BALB/c e C57BL/6”, de Bianca Rodrigues Lima Ferreira.

“As imagens de determinadas cepas do protozoário vivo possibilitaram o estudo de diversas características do seu comportamento dentro dos tecidos do hospedeiro. Os resultados desses estudos forneceram informações moleculares importantes e que podem abrir novos caminhos para o desenvolvimento de novos fármacos contra o patógeno”, disse Mortara, que também orientou o trabalho.

Formado por nanopartículas de ouro, o dispositivo é impresso com jato de tinta e será capaz de medir vários processos biológicos associados a variações de potencial elétrico (E); nanopartículas de ouro dentro do eletrodo – Microscopia Eletrônica de Varredura (D). Fotos: arquivo de Felippe José Pavinatto

Formado por nanopartículas de ouro, o dispositivo é impresso com jato de tinta e será capaz de medir vários processos biológicos associados a variações de potencial elétrico (E); nanopartículas de ouro dentro do eletrodo – Microscopia Eletrônica de Varredura (D). Fotos: arquivo de Felippe José Pavinatto

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