Quinta-feira, 16 de abril de 2015 às 05h53 – Publicado originalmente no dia 11 de fevereiro de 2014
Apelo ao Excelentíssimo Governador do Estado de São Paulo
Gerson Soares
No dia 3 de janeiro de 2014, mais de 100 pessoas compartilhavam o mesmo ar pesado, no pequeno salão do Posto de Saúde da Vila Mariana, localizado na Av. Domingos de Moraes, 1947, na capital paulista.
Uma das que aguardavam era Zé Mauro, como se identificou para a reportagem do Alô Tatuapé por volta das 17h, literalmente um dos muitos pacientes – já que segundo ele, estava no posto da Vila Mariana desde as 12 horas. Ali estava um homem resoluto, a fim de retirar e levar para casa os remédios da filha. A conversa com ele, observando seus modos simples, nos fazia esquecer um pouco a indignação. O homem portava a senha nº 626, enquanto o mostrador estava no 520, às 17h30 de uma sexta-feira em que a temperatura chegava aos 40º graus no interior do posto de saúde. Ele esperaria por mais 2 horas ainda para ser atendido, seguindo a matemática informada por uma funcionária do posto, que indicou 50 atendidos por hora em média. Outro paciente portava a senha 720 e o horário em que seria atendido não é difícil de calcular, ou seja, mais de duas horas depois de Zé Mauro.

Calor insuportável: Mais de 150 pessoas se abanavam com pedaços de papel, enquanto aguardavam ser atendidas. Demora de até 7 horas. Foto: aloimage (celular)
Às 19h12, pedaços de papel serviam como abanadores improvisados aos valentes; homens e mulheres que como ele trocavam o ar de seus pulmões pela atmosfera irrespirável do lugar, onde todos se igualavam, não havia classes sociais que os diferenciasse. Ricos, pobres, humildes, resignados, sonolentos, dormindo encostados nos ferros expostos das cadeiras, todos os pacientes eram iguais. Ninguém é diferente quando a situação aperta.
Zé Mauro tem uma filha que foi atendida na UNICAMP, quando tinha 9 anos de idade, com problemas nos rins. Lá, no Hospital de Clínicas, a menina permaneceu internada até os 16 anos. E foi então que o bondoso pai pode lhe doar um dos seus rins e lhe devolver à vida, o mais normal possível.
“Neste mês de janeiro de 2014, ela completa 10 anos de transplante”. Disse-nos orgulhoso, o pai feliz, usando o dedo como um limpador de pára-brisa para enxugar o suor que insistia em brotar de sua testa. O calor era infernal e o suor não cessava. No semblante de Zé Mauro podia ser visto um sorriso resignado e ao mesmo tempo sofrido, muito mais difícil de brotar do que o suor. Ele nos ensinava, numa aula de humildade sem precedentes, que o desejo de garantir a saúde da filha, superava qualquer sacrifício.
Em pé, pois não havia lugares para comportar tanta gente, Zé Mauro aguentava firme depois de mais de 6 horas de espera. Às 18h36, o vimos sentado. Conseguiu um lugar numa das cadeiras sem encosto. Com os cotovelos apoiados no joelho ele olhava para o mostrador de senha que com um sinal sonoro anunciava o próximo paciente a ser atendido, número 557. A senha dele, apenas lembrando, era 626.
Senhor governador, senhor secretário da Saúde do grande estado de São Paulo, não chorem como nós, não derramem suas lágrimas como nós, tomem providências para amenizar o sofrimento dessa gente valente, nossos irmãos, seus irmãos. Os céus estão acima de todos e podem nos ver.
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