muda brasil vc n e mudoEsta reportagem especial do Alô Tatuapé foi publicada originalmente em Setembro de 2011. Portanto, deve-se levar em conta a atualização de alguns dados, tais como:

Presidente da CBF – Ricardo Teixeira, citado nesta reportagem por denúncias de corrupção, realmente renunciou ao cargo em Março de 2012. Em seu lugar assumiu José Maria Marin, que também já se indispõe com o Governo Federal, devido a problemas da mesma ordem. (Ainda atualizando, em 24 de maio de 2017, sabemos que Marin está em prisão domiciliar em Nova York, e Teixeira atualmente é investigado por corrupção pelo FBI. Há dois a revista Veja informou que ele busca um acordo com o departamento de justiça americano).

As citações sobre saúde e educação continuam atuais ou ainda piores, já que em dois anos e meio não avançaram as condições de melhoria, ao contrário. O governo promove a contratação de médicos estrangeiros, como se isso resolvesse o problema. Mais um engôdo, pois hoje mesmo, dia 03 de Outubro de 2013, reportagem do Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, mostrava a situação em hospital da capital paulistana, onde a espera por um atendimento chegava a 6 horas. Algo impensável para quem tem dor ou busca um médico em emergência.

A diferença neste texto de 2011, que a despeito de sua publicação pode ser considerado atual, é que em Junho deste ano, o povo brasileiro deixou perplexos os políticos que ainda imaginavam que a situação tranquila em que transitam iria durar para sempre. Milhões de pessoas se manifestaram contra a bagunça em que se transformou a administração pública, onde as notícias de corrupção e a falta de sensibilidade para com aqueles que os colocaram no poder não cessam.

A situação econômica favorável ao Brasil de 2011, piorou em 2013. Tanto é que a presidente Dilma, sua frio quando houve a palavra inflação, e afirma com todas as letras que o seu governo não perderá o controle econômico. Só quem já viveu os tempos de inflação na casa dos três dígitos sabe o que temer. Torcemos para que a presidente esteja certa.

Por outro lado, o Brasil ainda ocupa uma posição confortável, diante do cenário europeu, na questão dos empregos. Portanto, a situação melhorou entre 2011 e 2013. Porém, é preciso frisar que existe uma demanda de mão-de-obra especializada no país. Pode-se atribuir esse dado, também, ao baixo nível de ensino e qualificação, entre outros fatores.

Ao invés de concentrarem-se em medidas sérias sobre diversos setores, os congressistas desperdiçam o tempo com propostas incríveis. Uma proposta estapafúrdia, que está prestes a ser votada é a PEC 37 que tira poderes do Ministério Público. Roberto Gurgel reiterou que a participação ativa do Ministério Público na investigação criminal, inclusive praticando diretamente atos de investigação quando necessário, é indispensável ao cumprimento do seu dever constitucional de proteção dos direitos fundamentais de toda a sociedade. “Negar ao Ministério Público a possibilidade de investigar será incapacitar não a instituição, mas a sociedade brasileira para o exercício pleno do direito à efetividade da tutela penal, notadamente contra a criminalidade de colarinho branco”, afirmou. (Fonte: Procuradoria Geral da República).

Acompanhe a reportagem:

capa158aJOGO DE ESPELHOS
O refletido Brasil do real que esconde a realidade

Publicado em Setembro de 2011

Absolutamente nada contra o futebol, particularmente o que foi praticado nos campos de várzea e profissionais até a década dos anos 70 – para não errar a data, pois a partir daí as coisas mudaram, é o que diz a história. Até essa época imperava a manha, a ginga e amor à camisa, era um esporte sem firulas, sem mumunhas, com mais honradez.

O país do futebol se volta para a Copa do Mundo de 2014, mas o Brasil não deveria sediar nenhum evento mundial dessa grandeza, enquanto não cuidasse do seu povo, sobre o qual ainda impera a dor e o descaso com os doentes, desamparados. Está tão despreparado que a grande maioria das obras estão atrasadas, segundo as notícias dos meios mais confiáveis de comunicação. Acredita no seu grande potencial e por isso se dá ao luxo de cometer erros. As notícias concretas são de corrupção em torno do evento e esquemas montados por quadrilhas para transferir parte das verbas aos bolsos dos espertalhões instalados confortavelmente entre as coxias das esferas governamentais brasileiras, em vários níveis de corrompidas estruturas hierárquicas.

Até mesmo o Rei Pelé, Edson Arantes do Nascimento – que há algum tempo admitia o fato de que o país não estava preparado para sediar uma Copa do Mundo de Futebol – mudou de ideia. Talvez, o rei do futebol cansasse de esperar que seu pedido e suas palavras a respeito desse assunto, ditas em 19 de novembro de 1969 no dia em que marcou seu milésimo gol, refletissem o volume necessário e o Brasil ali tivesse começado a avançar: “Pensem no Natal. Pensem nas criancinhas”, pediu. Em 2009 afirmou, após quatro décadas: “A situação está pior. A educação das crianças não melhorou”.

Agora (em 2011), ele aceitou ser Embaixador Honorário do Brasil para a Copa do Mundo de 2014. Pode ser que sua presença traga um pouco de luz sobre esse cenário cinzento. Mas, o escândalo de corrupção colocando sob suspeita o presidente da CBF, somada à prisão de 36 pessoas – pela Polícia Federal na Operação Voucher – que se imiscuíam para surrupiar verbas destinadas à copa, sendo oito delas ligadas ao Ministério do Turismo, e as montanhas de dinheiro que serão gastas para a construção de obras babilônicas, deixa dúvidas sobre a decisão do Rei ter aceitado o convite e aparecer em propaganda do governo, afirmando que estaria ao lado de todos os brasileiros, porque agora o país ocupa a sétima posição na economia mundial.

Caro Pelé, muitas das criancinhas do final dos anos 60, hoje estão com 40, 50, 60 anos. Como a realidade mostra e você admite, não foram bem cuidadas. Tiveram filhos, e mais criancinhas que continuam não tendo as condições viabilizadas para se orgulharem do seu país. A bola de neve criada pelo descaso dos governantes para com a educação, habitação e saúde não é como a bola de futebol, ela aumenta ao ser rolada, assim como as recém-renomeadas Comunidades, que nos seus áureos tempos de reinado eram chamadas apenas de favelas.

Os investimentos em educação demoram gerações para surtirem efeito e por aqui temos que tirar o atraso de séculos. Sim séculos! Portanto, os investimentos bilionários que brotam dos cofres públicos para a execução de obras faraônicas e projetos mirabolantes visando a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 – que estão nutrindo mais e mais corruptos e corruptores – deveriam ser ou ter sido destinados há muito tempo e em primeiro lugar à habitação, saúde e educação, estes sim a base de todo o progresso necessário para alcançar outros objetivos como sediar copas e olimpíadas, deixando esse prêmio, essa exposição aos olhos do planeta, à concorrência dos países que podem se orgulhar daquilo que já oferecem ao seu povo, ou seja, as condições para uma vida digna.

Logicamente que para governantes deslocados das verdadeiras atribuições, às quais se propuseram quando ocuparam cargos públicos, isso não interessa. A massa populacional dependente, que ainda espera meses para obter uma simples radiografia na rede pública, é muito mais fácil de manipular e conduzir. Porque nessas condições pouco podem falar ou reclamar, já que sem o governo morreriam de dor. E, mesmo assim, sem reclamar, suportando humilhações as mais variadas, ainda morrem nas filas e nos corredores dos hospitais públicos, à espera de médicos que nunca chegam ou simplesmente por falta de leitos.

Diante disso, propagar aos olhos do mundo um país de araras azuis, papagaios verdinhos, matas virgens e borboletas coloridas; povoado com pessoas alegres, sadias e criancinhas sorridentes se alimentando nas escolas é um disfarce, engôdo, porque a realidade é bem outra e praticamente qualquer pessoa que já recorreu ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou tenha filhos frequentando escolas públicas nos rincões e até nas grandes cidades brasileiras sabe disso.

Se queremos nos enganar com a situação econômica favorável deste momento (2011) e aceitamos que podemos ter a ousadia de sediar eventos dessa magnitude por estarmos entre os países em crescimento, isso é uma outra história. O desenvolvimento observado em vários setores da economia brasileira, não é sentido na mesma proporção pela grande maioria da população. Isso é fato e habita a consciência nacional. As notícias nas emissoras de TV, mostram principalmente o desamparo dessa massa populacional, que em suas famílias possuem pessoas doentes, sem emprego, sem educação, sem esperança. A morte chega prematuramente para esses seres humanos por motivos fúteis.

Demonstrando diariamente ao mundo e aos próprios governantes o que a sua improbidade administrativa produz, a imprensa noticia as filas matinais nos postos de saúde, como são tratadas as pessoas por funcionários públicos de má vontade, a insegurança, falta de médicos nos hospitais e tantos outros fatos degradantes. Divulga-se a realidade do que é ensinado e o quanto se aprende nas escolas, a desqualificação do ensino, a falta de respeito com os professores e quanto falta para o Brasil oferecer um ensino público de valor.

Propaga-se na imprensa, o tempo perdido no Congresso Nacional com a cartilha gay, com novas regras para o idioma, lei que dispõe sobre a guarda do animal de estimação no caso de separação do casal, entre tantas outras propostas que de tão estapafúrdias não merecem comentários. Divulga-se e indgna-se com as mudanças inúteis adotadas no país, como a das tomadas e conectores elétricos – utilizados de forma universal em todo o mundo, mas no Brasil obriga-se a um padrão irreconhecível que só vem causando transtornos para a maioria e a alegria de poucos.

O pior, é imaginar às vezes, que a situação parece não ter volta, que mostrar tudo isso de forma realista não leva às devidas providências e ajustes necessários por parte das autoridades. Muito melhor é continuar negociando com o Brasil das lindas araras azuis, o reflexo criado com efeitos especiais que atrai visão e turistas de todos os tipos, inclusive os interessados em sexo – mais uma história absurda.

A comparação pode parecer exagero, mas não somos direcionados a outros países por agências de turismo ao encontro de meninas que são levadas à prostituição na mais tenra idade, aos 12, 13 anos ou menos. À perda de tempo dos congressistas com futilidades, muitos turistas para cá vêm com esse objetivo. Vergonha nacional.

Sanar o país é tarefa árdua. Dedicando-se a projetos não prioritários os legisladores lesam o erário público e deixam escapar o precioso tempo para a evolução do Brasil. Rios de dinheiro estão sumindo e ainda sumirão para que o país sedie a Copa Mundial de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016. O que está sendo divulgado e difusamente refletido ao mundo é o Brasil do real, aquele que só existe porque a economia anda bem.

Sediar eventos desse porte são compromissos de primeira grandeza para as nações que podem ver seus filhos amparados e bem tratados, motivo de satisfação imensa, que não se retrata com jogos de espelhos ou efeitos especiais. Sorrir para as bandeiras tremulando e encher o peito como atleta, cantar o hino representante de uma terra distante em outro país transborda o coração de honra e traz mais energia ao corpo.

O Brasil como sede desses eventos, vai proporcionar momentos e jogos de aparências novelescas aonde só aparecem as belezas, deixando as mazelas insustentáveis e inenarráveis – como brasileiros ainda se alimentando de lixo – para o aço do espelho, onde o reflexo pode ser manipulado como num jogo. Um jogo de espelhos.

jogo de espelhos

Montagem artística mostrando a torcida com a camisa da Seleção Brasileira e as lindas araras azuis num dos lados do espelho: O Brasil do crescimento devido principalmente à sua própria grandeza, riquezas naturais e esforços do empresariado, apesar da maior e mais injusta carga tributária do planeta. Do outro lado do espelho, a realidade nacional, que não reflete a medonha arrecadação e sim a má administração desses recursos, permitindo que brasileiros se alimentem de lixo disputando seu alimento com os bandos de urubus. Quando ficam doentes vão para as filas dos hospitais e pronto socorros e caso consigam atendimento, muitas vezes devem se submeter aos procedimentos médicos nos corredores ou até no chão dos hospitais. É o Brasil sendo visto no jogo de espelhos, como num truque utilizado pelos mágicos.