TSE negou o registro do partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade, nesta quinta-feira.   Foto: Nelson Jr. / STF / Divulgação

TSE negou o registro do partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade, nesta quinta-feira.
Foto: Nelson Jr. / STF / Divulgação

 

Registro do Partido Rede Sustentabilidade foi barrado ontem por seis votos contra. O único a favor foi do ministro Gilmar Mendes. A situação de Marina Silva é delicada. Se quiser disputar a presidência deve registrar sua candidatura até amanhã.

A decisão de Marina Silva é difícil e a conjunção dos fatos é também dos mais humilhantes, já que outros partidos conseguiram seus objetivos e foram aprovados pelo TSE. Independente das atitudes e origens da fundadora do Rede Sustentabilidade, é aviltante ver que a inscrição desse partido é perdida pelo excesso de burocracia. Uma praga que assola o país de maneira mais nociva do que foi a peste bubônica para o velho continente, ao varrer um terço da população da Europa no século XIV. Aliás, pelas mostras que deixa, a burocracia brasileira ainda está encalacrada na Era Medieval, quando aos reis era atribuída divindade, dando a impressão de que os burocratas também assim se sintam.

Esta drástica comparação não se faz apenas pelo esforço em barrar o registro do Rede Sustentabilidade, mas por todos os males que a prática burocrática já causou e continuado, principalmente no que diz respeito aos interesses da população, proporcionando brechas para a decantada corrupção brasileira. É um beco sem saída, onde vivem os burocratas; encontrados nas profundas nuances da síndrome do pequeno poder.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), convocado para substituir o ministro Dias Toffoli do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deixou claro que a burocracia cartorial impetrada no Brasil é arcáica. “Essa contagem de assinaturas e verificação de firma é de um Brasil do passado. Nos obriga a dizer: vamos atualizar essa Justiça e informatizar esses cartórios”, afirmou ontem (03/10/2013), sendo seu o único voto a favor do registro do partido da candidata à presidência, que decide hoje se vai concorrer ao cargo por outro partido. Os outros seis ministros sustentaram as regras dispostas em lei.

Casuísmo vergonhoso

Gilmar Mendes destacou que assinaturas de apoio ao Partido Rede Sustentabilidade de pessoas públicas foram rejeitadas e relembrou ainda que foi ele a conceder liminar que suspendeu a tramitação de um projeto que inibia a criação de novos partidos. “Essa votação só não ocorreu, o que seria uma vergonha para este país, por uma liminar por mim concedida. O tribunal indeferiu o mandado de segurança. O próprio debate que se travou no tribunal inibiu, envergonhou a desfaçatez dos que queriam aprovar. É preciso contextualizar a discussão que estamos fazendo”, exaltou-se.

O texto tentava impedir que parlamentares que mudassem de partido no meio do mandato transferissem para a nova legenda parte do Fundo Partidário e do tempo de propaganda no rádio e na TV da sigla de origem. O projeto, que acabou sendo derrubado após a liminar, foi apelidado de anti Marina Silva.

As atitudes da ex-ministra lhe valeram tal preferência que as projeções levam seu nome para o segundo turno das eleições do ano que vem, talvez disputando com Dilma Rousef que deve concorrer à reeileição. Marina teve mais de 20 milhões de votos na eleição passada para o cargo de Presidente da República.

Leia um pequeno resumo biográfico de Marina Silva

Maria Osmarina Marina Silva de Lima nasceu em 8 de fevereiro de 1958 em uma pequena comunidade chamada Breu Velho, no Seringal Bagaço, no Acre.

Na adolescência sonhava em ser freira. “Minha avó dizia: ‘Minha filha, freira não pode ser analfabeta’”, lembra. O desejo de aprender a ler passou então a acompanhá-la. Aos 16 anos, contraiu hepatite, a primeira das três que foi acometida. Seu histórico de saúde ainda inclui cinco malárias e uma leishmaniose. Essas fragilidades a levaram a Rio Branco em busca de tratamento médico.

Aproveitou a oportunidade para também se dedicar à vida religiosa e, ao mesmo tempo, estudar. Obteve a permissão do pai e deixou a floresta.

Na capital acriana, para se sustentar, passou a trabalhar como empregada doméstica. Revia as lições durante as madrugadas. O progresso nos estudos foi rápido. Entre o período de Mobral, no qual aprendeu a ler e a escrever, até a formação em História transcorreram apenas dez anos. Sua formação foi complementada posteriormente com a pós-graduação em Psicopedagogia.

A vocação social se revelou quando deixava a adolescência. Marina se inscreveu em um curso de liderança rural e conheceu o líder seringueiro Chico Mendes. Passou a ter contato com as idéias da Teologia da Libertação e a participar das Comunidades Eclesiais de Base. Em 1984, ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre. Chico Mendes foi o primeiro coordenador da entidade e Marina a vice-coordenadora.

Ambos se tornaram conhecidos líderes nacionais e sua história é reconhecida internacionalmente. Anos depois, em 1988, Chico Mendes foi assassinado. Nesse mesmo ano, Marina Silva seria eleita a Vereadora mais votada de Rio Branco, Acre. Uma de suas primeiras manifestações foi devolver o dinheiro de gratificações, auxílio-moradia e outras mordomias que os demais vereadores recebiam sem questionamento.

Na imagem em destaque: Em 2007, a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a então Chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff. Agência Brasil / Fabio Rodrigues Pozzebom / ABr

Gerson S. S.