O submundo brasileiro onde a lama emerge, rompe e volta a submergir

Quarta-feira, 25 de novembro de 2015, às 20h21

O Brasil dá mais um espetáculo de incompetência, onde a pura lama se espalha por toda parte e a impureza não se registra em proporção de tamanha grandeza no mundo.

Gerson Soares

Com boias de brinquedo perante a tragédia anunciada, os responsáveis ainda deploram a própria, e a imagem do já desacreditado Brasil, perante o mundo. A empresa irresponsável pelo desastre causado, tido como sem precedentes no mundo, conduz o país novamente ao pódio. Outra vez o Brasil é campeão, agora da lama. A medalha será enquadrada ao lado de outras como a da corrupção e da incoerência.

Creia, diante das ameaças que vive o mundo, participante das associações de investigação e inteligência mundiais, a presidente do Brasil abre as fronteiras e exclui o visto para quaisquer cidadãos que desejarem entrar no país. Seu intuito, neste momento, é o de faturar com o turismo. A medida foi adotada dias depois do atentado na França e enquanto as polícias da Europa estão em alerta máximo, sob a ameaça do terrorismo; ou temos muita coragem ou somos extremamente imprevidentes.

O momento nos leva a tantos trocadilhos e insinuações, remete a tanta ironia. Após o desastre do lamaçal causado pela Samarco, está garantida a limpeza da sua própria sujeira, através do Rio Doce e do Oceano Atlântico, onde dejetos que se espalham por incontáveis quilômetros, cidades e estados brasileiros, são despejados a custo quase zero. Uma pequena multa aqui e mais um tanto de conversas ali e logo os brasileiros esquecerão.

Esta é a administração do país que mais nos causa vergonha, pois enquanto a lama escorre de um lado devastando o rio e o mar, em Brasília se esvai por tantos outros. Neste dia, o líder no Senado do Partido dos Trabalhadores que governa o Brasil, envolvido até o pescoço nos maiores escândalos de corrupção já vistos, foi preso pela Polícia Federal no decurso da Operação Lava Jato. Esta também vai para o pódio com medalha de ouro, já que nunca um Senador foi preso no exercício do mandato.

Ele ofereceu salário de 50 mil reais a Nestor Cerveró e disse que teria um avião à disposição para lhe proporcionar a fuga, do Paraguai à Espanha sem escalas, caso seu nome não fosse citado, assim como o do comparsa André Esteves na delação premiada da Polícia Federal da Operação Lava Jato.

O homem, senador Delcídio do Amaral (PT-MS), conclamou até o vice-presidente do país, Michel Temer, e os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para se livrar do processo e do vexame, mas tudo veio a público. Assim como o mar de lama chegou às praias do Espírito Santo.

A lama que escapa às vistas de todos é mais profunda e para alcançar o fim do poço ainda haverá de se ter muita energia. Assim, com coragem, deverá agir o povo de Minas Gerais e do Espírito Santo, atingidos pela incompetência e imprevidência da Samarco e seus acionistas bilionários; fazendo do mesmo modo, todos os brasileiros que são arremessados aos lodaçais diariamente, diante de tanta insensatez da administração pública.

Sem vergonha e sem medo, o submundo criminoso que tenta tomar conta do Brasil emerge da lama onde se esbalda, rompe barragens e transpõe obstáculos. Regala-se com os lucros fáceis e a vida boa por algum tempo e volta a submergir nos campos alagados de sujeira de onde surge. Sua felicidade custa o suor das famílias e a tristeza de quem chega a perder a esperança às vezes.

É difícil conter os dedos no teclado, a pena pesa nas mãos, a vergonha rubra a face, as novas gerações brasileiras nos fazem gritar por justiça. Leia a nota pública da Sociedade Botânica do Brasil e o Projeto de Lei nº 5.807/2013, que tramita na Câmara dos Deputados e cria o novo Código de Mineração Brasileiro.

O paralelo enlameado não existe ele é um só, entre Mariana e Brasília não há distância. Para o poderio do submundo brasileiro, que não habita a realidade, tanto faz 200 milhões de vidas estonteadas ou apenas uma população inteira aturdida pelo lamaçal que as cerca.

Boias de contenção!? Vamos falar sério: as boias de brinquedo da Samarco poderiam servir para as crianças brincarem; quer dizer, agora não será mais possível brincar nas praias de Regência e Povoação no Espírito Santo por um bom tempo. Muito menos pescar no... pobre Rio Doce. Brasileiros são tratados como idiotas pela empresa que apresenta esse tipo de providência depois do desastre incalculável que causou. Foto: Paulo de Araujo/ MMA

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