Segunda-feira, 28 de agosto de 2017 às 13h24
Síndrome alcoólica fetal é 100% atribuída ao álcool e totalmente evitável, afirma grupo de estudos da SPSP. Leia a reportagem.
O consumo de álcool por mulheres grávidas pode causar inúmeros problemas de saúde no bebê, mas um deles, a síndrome alcoólica fetal (SAF), certamente é a mais perigosa. “Ela leva a criança a apresentar várias alterações em diferentes órgãos do corpo, inclusive faciais, bem como desordens de comportamento, que não têm cura. Como os efeitos do álcool duram toda a vida, a solução está na profilaxia, ou seja, se estiver grávida, não beba, e se beber, não engravide. Tolerância zero para álcool na gravidez”, adverte Conceição Aparecida de Mattos Segre, pediatra e coordenadora do Grupo de Estudos Sobre os Efeitos do Álcool no Feto da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
“É preciso salientar ainda que a SAF completa é apenas o que poderíamos chamar de ‘a ponta de um Iceberg’, pois a cada caso da síndrome completa há, pelo menos, 10 casos da síndrome parcial que somente vai ser percebida com o crescimento da criança”, explica a médica. Ou seja, o bebê pode ter apenas um dos problemas citados ou vários.
Segundo Conceição Segre, não há quantidade conhecida de consumo de bebida alcoólica durante a gravidez que seja segura para o bebê. No corpo da gestante, o álcool entra na circulação sanguínea, atravessa a placenta e chega ao líquido amniótico (fluido que envolve o embrião) e ao feto.
O diagnóstico da SAF não é fácil e é basicamente clínico. “Há uma tríade de sinais característicos da SAF que podem ser reconhecidos ao nascimento: dismosfirmos faciais como pálpebras pequenas, ausência de filtro nasal, a parte vermelha do lábio superior muito fina, a deficiência de crescimento e as alterações do sistema nervoso central”, explica a pediatra.
“Os danos para o sistema nervoso central são os mais importantes e os que apresentam consequências mais graves. Ocorre atrofia cerebral, o que significa a presença de microcefalia. Além disso, há várias outras alterações estruturais, como alterações na forma e/ou no tamanho, diminuição do volume dos gânglios basais, que são as estruturas do corpo relacionadas ao movimento, desenvolvimento defeituoso ou incompleto do cerebelo e do hipocampo”, informa.
O diagnóstico precoce da SAF é fator determinante para o futuro desenvolvimento dessa criança. “Ela deve ser assistida por equipe multiprofissional e, além disso, é necessária adaptação das escolas, com capacitação dos professores em relação à doença, pois elas apresentam problemas sociais, emocionais, cognitivos e de comportamento. Os pais ou cuidadores responsáveis também necessitam de apoio psicossocial por toda a vida”, explica.
As crianças com a síndrome se tornam adultos com problemas de saúde mental em 95% dos casos, e ainda apresentam outras complicações como: confinamento em prisões, em centros de tratamento de drogas ou álcool e em instituições para doentes mentais (55%), problemas com a lei (60%), comportamento sexual inadequado (52%), incapacidade de viver de forma independente (82%), dificuldades no emprego (70%), e abuso de álcool e drogas (em mais de 50% dos doentes do sexo masculino e 70% do sexo feminino).
A SAF é 100% atribuída ao álcool e, portanto, totalmente evitável. O conselho da especialista é simples: grávidas não podem beber e se as mulheres quiserem fazer uso do álcool, não devem engravidar.
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