Quinta-feira, 10 de maio de 2018 às 14h12


A Operação Prato Feito deflagrada ontem (9) demonstra mais uma sucessão de fatos que contribuem para denegrir a imagem dos agentes públicos que utilizam seus cargos em proveito próprio e do crime. Neste caso, atuavam nas prefeituras paulistas, que são suspeitas. Aproximadamente 6 milhões de reais em espécie estavam na casa de dois agentes públicos investigados em Mauá e Mongaguá.

Gerson Soares

A esta altura, depois da deflagração da Operação Prato Feito da Controladoria-Geral da União em conjunto com a Polícia Federal, essa frase já deve ter sido repetida milhares de vezes no Brasil. Ainda é pouco, ela deveria se tornar um símbolo para que os fatos que estão apurados não se repitam. Desviar dinheiro da comida das crianças é algo tão medonho, causa vergonha e nos faz imaginar o quanto são medíocres nossas leis e os homens que as criam, assim como aqueles que as julgam.

 

Operação Prato Feito da Polícia Federal investiga mais desvios de verbas por agentes públicos. Ilustração: aloimage / sobrefoto de Bo Hansen / Nicky Cowie / Susanne Becker / Getty Images

 

Por diversas vezes, nestes anos todos dedicados ao jornalismo nos deparamos com situações em que fatos absurdos sobrelevam-se acima da Justiça. A burocracia, o excesso de palavras, a falta de atitudes em prol da sociedade, o vilipêndio do bem público, o uso de cargos e funções para humilhar o próximo, os interesses de grupos, estão entre eles.

Os bens gerados pelos trabalhadores brasileiros não retornam a eles mesmos em forma de benefícios normais. Entenda-se como normais, o mínimo necessário e possível para um país rico tal e qual o Brasil é, onde sem os constantes desvios de verbas públicas – como estes da merenda escolar que estão sendo investigados pela CGU e PF – a vida seria muito melhor.

Essa classe de bandidos está sendo desmantelada aos poucos pelas novas gerações que, ocupando velhos cargos em antigas instituições, renovam-nas e tentam com suas forças mudar os rumos da corrupção. Pagam um alto custo por isso, mas estão mostrando que é possível reverter bizarrices como a da frase que intitula esta matéria.

“Tivemos registro, ao longo desses anos, de fornecimento, às vezes no lanche para as crianças, de uma bolacha maizena com leite diluído, suco substituindo leite, áudios de empresários que falavam: ‘corta a carne, fornece ovos todos os dias para essas crianças’. Isso causa uma indignação.” A frase é da delegada da Polícia Federal Melissa Maximino Pastor, chefe da Operação Prato Feito. “O que é chocante nessa investigação são os registros de inexecução contratual de fornecimento da merenda escolar”.

Durante as diligências desta quarta-feira (9), numa operação que engloba três anos de investigações, a Polícia Federal prendeu em flagrante dois agentes públicos. Em Mauá, Grande São Paulo, foi preso em flagrante o secretário de Governo de Mauá, João Gaspar (PRP), com quase 600 mil reais em espécie. Em Mongaguá, na Baixada Santista, a quantia foi bem maior. Ao procederem no mandato de busca e apreensão na casa do prefeito da cidade Artur Parada Procida (PSDB), os agentes encontraram 4,6 milhões de reais e 217 mil dólares (equivalentes a aproximadamente 774 mil reais) também em espécie. Ambos continuam presos na PF.

O Brasil precisa de exemplos. Desviar verbas da comida das crianças não é exatamente o que se espera da classe que deveria conduzir os rumos do país. As eleições de outubro chegam avassaladoras, culminando com o aprendizado de anos turbulentos na política. Refletir bem antes de votar é o primeiro passo para que os fatos descritos aqui não se perpetuem.

Com informações do UOL, G1, Estadão, Jornal Nacional, CGU e PF

Operação Prato Feito da Polícia Federal investiga mais desvios de verbas por agentes públicos. Imagem: aloimage / sobrefoto de Bo Hansen / Getty Images

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