Quarta-feira, 29 de outubro de 2014, às 12h44
Por Heitor Shimizu, de Washington
Agência FAPESP — A FAPESP realizou nesta terça-feira (28/10), em Washington, um simpósio que reuniu pesquisadores dos Estados Unidos e do Estado de São Paulo para apresentar resultados de estudos sobre a Amazônia, em diversas áreas do conhecimento.
![fapesp simp washington](https://alotatuape.com.br/wp-content/uploads/2014/10/fapesp-simp-washington.jpg)
“Precisamos dos melhores cientistas para compreender as mudanças que estão ocorrendo nas florestas tropicais e seus efeitos no planeta”, diz Ernest Moniz, secretário de Energia dos Estados Unidos. Foto: Michael Darden / Brazil Institute, Wilson Center
O encontro “FAPESP-U.S. Collaborative Research on the Amazon” foi organizado em parceria com o Departamento de Energia (DOE) dos Estados Unidos e com o Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars.
Realizado no auditório do Brazil Institute, o encontro reuniu mais de 120 pessoas, público formado principalmente por cientistas, especialistas em conservação da biodiversidade e jornalistas.
O discurso de abertura do simpósio foi proferido por Ernest Moniz, secretário de Energia dos Estados Unidos, para quem a Amazônia tem importância fundamental nas questões relacionadas às mudanças climáticas globais. Ele classificou também o momento atual de crítico e transformador para que se possa lidar com o desafio das mudanças climáticas.
“A Amazônia é um dos ecossistemas mais vitais do mundo, importante globalmente em muitas dimensões, uma delas a das mudanças climáticas, um dos maiores desafios de nosso planeta. Parte do pano de fundo, nesse contexto, é que, para o Brasil e para os Estados Unidos, os dois países continentais e maiores economias das Américas, os caminhos para a diminuição da emissão de dióxido de carbono têm sido diferentes. No Brasil, mais voltado aos desafios do gerenciamento da Amazônia e, nos Estados Unidos, a desenvolvimentos em oferta e demanda de energia, como na substituição de carvão por gás natural, e em medidas voltadas à eficiência energética, como veículos mais eficientes”, disse.
“Estamos em um período crítico e precisamos de um momento transformador para poder lidar com o desafio das mudanças climáticas globais. Não podemos ficar parados. Precisamos das melhores mentes, dos melhores cientistas, para compreender as mudanças que estão ocorrendo nas florestas tropicais e os efeitos que as mudanças no clima hoje e no futuro implicam globalmente nesses ecossistemas e como melhor preservá-los”, disse Moniz.
Entre as pesquisas apresentadas no simpósio estiveram trabalhos que integram a campanha científica Green Ocean Amazon (GoAmazon), um programa do DOE conduzido em parceria com a FAPESP e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Voltado a verificar como o processo de urbanização de regiões tropicais afeta os ecossistemas locais e o clima global, o GoAmazon reúne pesquisadores dos dois países, que coletam e analisam dados ambientais na região de Manaus, tanto na área metropolitana como na floresta, em um gigantesco laboratório a céu aberto. “Esperamos que a colaboração GoAmazon represente uma contribuição importante em meio às contínuas e vibrantes parcerias que fazem avançar nossas agendas e nossos desafios globais”, disse o secretaria de Energia norte-americano.
O simpósio foi aberto por Jane Harman, presidente do Wilson Center, que destacou o fato de o encontro ocorrer em virtude de “uma amizade de anos entre a FAPESP e o Brazil Institute”. Em seguida, Harman falou sobre as boas relações entre os dois países em ciência e tecnologia.
“A parceria entre os Estados Unidos e o Brasil direciona pesquisas em praticamente todos os assuntos, como energia, alimentos, segurança humana e como fazer crescer nossas economias ao mesmo tempo em que protegemos o único meio ambiente de que dispomos. Esses assuntos vão ao cerne da prosperidade nas Américas do Norte e do Sul. Segurança ambiental significa segurança nacional e tanto os Estados Unidos como o Brasil têm dado passos muito encorajadores nesse sentido”, disse Harman, que foi deputada pela Califórnia em nove mandatos consecutivos.
![Ilustração que aponta para as consequências das mudanças climáticas na Terra. Foto: NASA / Global Climate Changes](https://alotatuape.com.br/wp-content/uploads/2014/10/fapesp-nasa-climate-changes.jpg)
Ilustração que aponta para as consequências das mudanças climáticas na Terra. Foto: NASA / Global Climate Changes
Celso Lafer, presidente da FAPESP, agradeceu ao Brazil Institute, dirigido pelo brasileiro Paulo Sotero, centro parceiro na organização dos simpósios FAPESP Week nos Estados Unidos — o próximo ocorrerá de 17 a 20 de novembro na Califórnia.
“Hoje estamos celebrando algo que consideramos muito especial: os resultados das pesquisas que apoiamos na FAPESP sobre a Amazônia”, disse Lafer. “Algumas das pesquisas que serão apresentadas derivam de nosso trabalho de apoio em conjunto com o DOE e com a Fapeam, uma parceria muito interessante que permite integrar interesses e esforços comuns nas áreas envolvidas.”
“Há tanto a diplomacia para a ciência como a ciência para a diplomacia e parte desses esforços que estamos mostrando está relacionada com a primeira. São pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos que compartilham valores comuns ligados aos méritos da investigação científica. Em um mundo cheio de tensões, isso é algo que faz desse tipo de esforço também um esforço relacionado à construção do conhecimento e da cooperação”, disse.
O diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, falou sobre a ciência e tecnologia no Estado de São Paulo e o papel da FAPESP. Destacou as iniciativas da Fundação em aproximar pesquisadores de instituições paulistas com os de centros em outros países, especialmente por meio de acordos de cooperação e chamadas de propostas de pesquisas colaborativas.
“Temos um crescente portfólio de pesquisas sobre a Amazônia. É um assunto importante para nós, devido à importância da Região Amazônica para o Brasil e para o mundo, e é relevante no sentido que se liga a dois dos principais programas da FAPESP, que são o BIOTA [Programa FAPESP de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade] e o Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais”, disse.
“Aprovamos cerca de um projeto de auxílio à pesquisa e entre duas e três bolsas por semana de pesquisas sobre a Amazônia, nos mais diversos campos do conhecimento. Pode ser sobre a biodiversidade na Amazônia, microrganismos encontrados na região ou sobre a literatura no século 19 a respeito da Região Amazônica, por exemplo. A gama é muito ampla e muitas vezes encontramos conexões surpreendentes entre os temas estudados”, disse Brito Cruz.
Após a palestra de Brito Cruz, dirigentes da FAPESP e do Smithsonian Institution assinaram um acordo de cooperação em pesquisa por meio do qual apoiarão projetos de pesquisa conjuntos, intercâmbio de pesquisadores, seminários e eventos científicos.