Terça-feira, 13 de fevereiro de 2018 às 18h12


O feriado de Carnaval é hoje, mas a folia começou no final do expediente da última sexta-feira; a maioria dos paulistanos não podem se dar ao luxo de começarem antes. No bairro do Tatuapé, no entanto, a folia com o dinheiro público começou bem antes, com a suposta construção de um CEU, em 2014. Em ritmo de Carnaval, na mesma sexta-feira (9), a Prefeitura fechou mais alguns parques por precaução contra a febre amarela, depois de um sagui ser atacado pelo mosquito transmissor da doença em Santo Amaro, zona Sul de São Paulo. Mas e na zona Leste? Larvas de insetos – milhares delas – e sujeira, ao lado da passagem dos usuários do metrô Carrão e de uma EMEI. E assim, sem solução aparente, continuamos aguardando a passagem do próximo carro alegórico.

Gerson Soares

Em ritmo carnavalesco, se pudesse vestir-se com uma fantasia, talvez, o Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes, localizado ao lado da estação Carrão do metrô, no bairro do Tatuapé, optasse por um adereço de pernilongo. Centenas de metros quadrados de abandono fariam parte do enredo. Mas, de acordo com notícia veiculada no bairro no final de janeiro, há quem esteja feliz em praticar esportes e fazer caminhadas, bem ao lado da sujeira, de roedores, falta de segurança e larvas de pernilongos. Focados na alegria dos foliões, os carnavalescos sonhadores sim, encontrariam motivo, para com ironia, materializarem os que encontram motivo de comemoração em tal desatino.

 

Piscina de pernilongos? Como o leitor chamaria este tanque de água parada no qual se transformou um dos espaços que seria destinado ao CEU. Nós chamamos de irresponsabilidade. Foto: aloimage

 

Na realidade, o que se constata ali é um péssimo exemplo administrativo que será visto mais uma vez, através das imagens mostradas nesta e nas demais reportagens.

 

Canteiro de obras abandonadas do CEU Carrão no interior do Centro Esportivo do Tatuapé: tampa (?) quebrada vista em dezembro e agora ainda mais deteriorada, onde vimos centenas de insetos na superfície da água. Foto: aloimage

 

O vereador Toninho Paiva, em entrevista publicada no final do mês de janeiro pelo mesmo veículo local que noticiou a comemoração pela reabertura do parque, disse o seguinte: “Existe por parte do governo João Doria um grande interesse em dar continuidade às obras do CEU, que foram interrompidas pelo governo anterior. As obras não deveriam ter sido interrompidas bem como a manutenção do clube, que foi abandonada. Ter um CEU na região trará muitos benefícios”.

 

Símbolo: acima dos detritos, copos plásticos e garrafas pet cheios de água da chuva e do mau cheiro, a placa pixada colocada em 2015 pela Prefeitura de São Paulo: humilhação para o bairro do Tatuapé e seus moradores. Antes de tudo, os brasões da cidade de São Paulo lá estão, sendo mau usados para divulgar uma obra fadada ao fracasso. Foto: aloimage

 

Benefícios? Conquista? Obra interrompida?

Ainda que não seja necessário, vamos lembrar o que é um CEU. “Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) são equipamentos públicos voltados à educação criados pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e localizados nas áreas periféricas da Grande São Paulo, no Brasil. Foram concebidos pelo EDIF - Departamento de Edificações/PMSP como um centro local da vida urbana. Seu programa articula os equipamentos urbanos públicos dedicados à educação infantil e fundamental aos dedicados às práticas esportivas, recreativas e culturais cotidianas – Fonte: Wikipedia”.

Isto exposto, lembramos que o Tatuapé – cujas divisas começam na Marginal do Rio Tietê e terminam na Av. Regente Feijó, a um extremo; e na vertente do Córrego Rapadura e Avenida Salim Farah Maluf (que passa sobre o Córrego Tatuapé em outra vertente) no outro extremo – possui, segundo os mais respeitados meios de comunicação do Estado de São Paulo e do País, uma das melhores redes de ensino da Capital Paulista. Na área aqui compreendida, o estudante encontrará inúmeras escolas municipais, estaduais e particulares em todos os níveis – desde o berçário até os cursos universitários. Sua população está estratificada entre a classe média e classe média alta – a classe operária há muito deixou de existir. O bairro também não carece de equipamentos públicos e particulares no que tange aos esportes e à cultura.

Portanto, fica difícil imaginar que tipo de benefício um CEU traria ao Tatuapé que não fosse antes necessário a bairros com dificuldades significativamente maiores. Quanto à obra interrompida, nem é preciso dizer que jamais deveria ter começado. Se havia intuito de investir no Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes, a verba municipal deveria ser direcionada a uma administração eficiente e aos esportes, com custo muito menor do que o meio bilhão de reais destinados ao inconcluso CEU. As demolições no interior do parque incluíram a derrubada de um ginásio poliesportivo – que há pouco havia sido reformado –, o esfacelamento das graciosas piscinas com recortes detalhados, a destruição das quadras, e as áreas por onde os usuários podiam caminhar. Isto sem contar a sede da Academia de Boxe que por anos foi liderada pelo Mestre Baltazar.

Dito isto, perguntamos: Qual o motivo de o ex-prefeito Fernando Haddad pedir (e conseguir) provimento de verbas para a construção de um CEU nessa área? E o que pretende fazer o atual prefeito João Doria? Até quando bairro terá de amargar a falta de solução do problema causado por notória falta de noção administrativa?

Com grande alarde, Haddad pregou sua intenção de construir o CEU Carrão (inclusive com o nome trocado já que está localizado no Tatuapé) e obteve dos desvairados grande apoio na divulgação. O Alô Tatuapé foi contra essa decisão desde o estardalhaço, mas não deixaria de divulgar as obras, que tiveram início com a colocação das placas que ostentavam a verba aprovada e os tapumes que lá estão até agora – aqueles que ainda não foram furtados. Os tabiques cercaram a pista, já deteriorada na época, e recentemente maquiada para a reabertura no dia 2 de dezembro de 2017.

Há muito tempo esse centro esportivo deixara de cumprir sua função, foi sendo vilipendiado pelas administrações que se seguiram. A vizinhança reclamava do mato alto e da péssima conservação. Não se sabia ao certo se as piscinas estavam abertas ou fechadas por falta de manutenção, de condições de uso. Como se observa, a folia carnavalesca no Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes que já teve várias outras siglas, começou há muitos carnavais. Mas nunca lhe faltaram carnavalescos que o animassem.

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Entrada do canteiro de obras atrás do campo de futebol: tapumes furtados e caixa d'água deixada para os mosquitos. Foto: aloimage

Pequeno barraco logo na entrada que leva ao canteiro de obras: sujeira e facilitação para delitos. Foto: aloimage

Interior de caixa d'água que assim está desde dezembro de 2017: a parte escura é água parada.Foto: aloimage

Interior do barraco encontrado na entrada do canteiro de obras abandonadas. Foto: aloimage

Larvas vivas em parque do Tatuapé 

Publicado em 13 de fev de 2018

Centro Esportivo B.E.G. no Tatuapé - abandonado 

Publicado em 13 de fev de 2018

Centro Esportivo B.E.G. no Tatuapé 

Publicado em 13 de fev de 2018

Barracos ao lado do Viaduto Bresser: venda de drogas, pequenos furtos e ataque a pedestres e estudantes. Foto: aloimage

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