Sábado | 25 de março, 2023

Conforme a Associação Brasileira de Taiko, a antiguidade dessa cultura, que ganhou adeptos no mundo inteiro, pode alcançar os 2.500 anos. “Atualmente o Taiko está presente em mais de 47 países e o número de adeptos vem crescendo a cada ano,” informa. Assista uma apresentação em vídeo no final desta matéria.


A origem do Taiko, como em outras artes japonesas estão repletas de especulações. “Ainda que haja algumas suposições possíveis, a evidência física mais antiga do Taiko no Japão é possivelmente uma figura em barro de um baterista de Haniwa (figuras de barro de terracota que foram feitas para ritual e enterradas com os mortos como objetos funerários, durante o período de Kofun do 3º a 6º século d.C.),” informa a Sociedade Urawaza Bugeikai em uma das mais detalhadas descrições sobre os instrumentos de percussão japoneses. A Bugeikai também afirma que eles podem ter sido utilizados a mais de 2.000 anos atrás.

Influências culturais

A cultura dos tambores teria chegado ao Japão por volta dos Séculos II e IX, através das influências chinesa e coreana ou do Budismo indiano. De qualquer modo essas influências pararam a partir do Século IX e o desenvolvimento dos instrumentos passa a ser atribuído historicamente aos artesãos japoneses nativos, apesar das semelhanças com os demais, de modo que evoluiu para um instrumento sem igual, ensina a Bugeikai. “Supostamente, um dos primeiros usos de tambores foi como instrumento de comunicação entre povoados e no campo de batalha. O poder estrondeante do Taiko foi associado com os deuses, e apropriado pelas religiões do Japão.”

Campos de batalha

Ainda com os ensinamentos da Urawaza Bugeikai – Sociedade de Artes Marciais, aprendemos que o Taiko tinha sua utilidade também nos conflitos. “Em campo de batalha podem ter sido usados para intimidar e assustar o inimigo e para emitir comandos e coordenadas de movimentos, isso porque o Taiko era o único instrumento que poderia ser ouvido a longa distância. De acordo com documentos e pinturas antigas, um soldado levaria o Taiko como uma mochila de armação, enquanto dois outros soldados bateriam o Taiko, em cada lado. Um Taiko de guerra usado por Takeda Shingen, um Shôgun famoso daquela era, ainda existe e é preservado por Osuwa Daiko – o maior grupo de Taiko do Japão.” Daihachi Oguchi, nascido na cidade de Okaya, na província de Nagano, Japão – faleceu em 27 de junho de 2008 – foi o fundador da Sociedade de Preservação de Osuwa Daiko em 1953.

 

Taiko usado pelo grupo de percussão “Kodo”. A foto foi tirada após uma apresentação em Koriyama, cidade de Fukushima, Japão no dia 1 de novembro de 2007. Foto: Brian Adler / Wikicommons

 

Difusão pelo mundo

Quem nos auxilia a explorar um pouco mais dessa cultura é a Associação Catarinense – Shimadaiko, localizada em Florianópolis, SC. O Taiko, assim como outras artes japonesas, recebeu uma nomenclatura oficial. Conhecido como “arte dos tambores japoneses”, o Taiko foi levado ao mundo pelos imigrantes daquele país, explica a Associação Catarinense em sua página sobre os instrumentos. “Com o intuito de preservar a arte e difundi-la aos demais, o Taiko foi sendo ensinado por diversas gerações ao longo dos anos e assim a tradição da arte se manteve. Os grupos artísticos de Taiko surgiram mais recentemente. No Taiko, a música é tocada conciliando-se as batidas com o movimento corporal. É essa combinação de arte visual e sonora que a torna uma arte única. Por ser um grande exercício, é preciso ter preparo físico, ritmo e coordenação motora, mas acima de tudo, é preciso gostar de Taiko, pois essas outras qualidades podem ser adquiridas e desenvolvidas se existir esforço da pessoa.”

 

Lenda Amaterasu a deusa do Sol – Desenho datado de 1856: “Origem da Dança Iwato Kagura” de Utagawa Kunisada (também conhecido como Toyokuni III). A deusa Amaterasu-Ōmikami está no centro. Autoria de Toyokuni III (Kunisada). Visto em Shukado. Wikicommons

 

Lendas

A cultura japonesa é repleta de lendas, supertições e tradições que apesar da modernidade se mantêm vivas. A Associação Brasileira de Taiko nos conta uma delas:

Lenda – Amaterasu

Susanoo-no-mikoto, deus do mar e das tempestades, estava negligente com seus deveres no mar e decidiu causar tormenta na terra, que era responsavelmente cuidada pela irmã, Amaterasu Ookami. Destruiu árvores, templos e os campos de arroz da deusa do Sol até a provocação final, em que ele esfolou um cavalo e jogou-o em uma tecelagem de Amaterasu enquanto ela tecia, após furar o teto da sala em que ela estava. Decepcionada pela violência do irmão recolheu-se dentro da caverna de rocha, Ama-no-Iwato, causando a escuridão no mundo.

Após uma conferência, os deuses decidiram retirar Amaterasu da caverna. Eles coletaram galos para cantarem, acenderam uma fogueira, penduraram joias e um gigantesco espelho, Yata no Kagami, em um pé de Skaki. Com isso eles iniciaram uma festa para atrair a deusa para fora da caverna. Em meio à agitação, Ama-no-Uzume-no-mikoto, a deusa do riso e da farra, sobe em um barril e começa a dançar. Os deuses presentes riem tão ruidosamente, que despertam a atenção de Amaterasu.

Curiosa, a deusa do Sol se aproxima à porta para espiar a fonte dos sons e se depara com o seu reflexo luminoso no espelho e nas joias penduradas na árvore. Enquanto ela estava distraída, Tajikara-no-mikoto, o deus da força, estava pronto para retirá-la da caverna. Imediatamente após a saída da deusa, foi colocado um shimenawa, um cordão de fibra de arroz, para prevenir o retorno de Amaterasu à Ama-no-Iwato.

Assim, o sol voltou a brilhar sobre a Terra e Amaterasu Ookami para sempre permaneceu no mundo visível.

 


Fontes e referências:

Urawaza Bugeikai – Sociedade de Artes Marciais
Santos – SP

Sociedade de Preservação de Osuwa Daiko
Okaya, Nagano – Japão

Associação Catarinense – Shimadaiko
Florianópolis – SC

Associação Brasileira de Taiko
São Paulo – SP


Assista ao espetáculo da Associação Brasileira de Taiko