Sábado, 10 de novembro de 2018, às 21h40
Aliás, será que encontramos o patriotismo nos últimos tempos entre a classe política, reservadas algumas exceções? Que estes nos perdoem, mas o que se vê nos últimos tempos é que faz denegrir a imagem do poder político em todos os níveis.
Gerson Soares
Parece haver um distanciamento abismal entre a percepção popular e a política. Ao colocar em votação as duas pautas bombas e regozijar-se pela pressão que essa aprovação gerou contra o presidente eleito Jair Bolsonaro, o presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB) – que não conseguiu se reeleger pelo Ceará –, pautou e aprovou nesta semana dois assuntos que interferem diretamente nas finanças do próximo ano. No mínimo, faltou patriotismo e repercutiu como afronta. Antes do Senado, a falta de bom senso passou pelo STF que reivindicou mais 16% de reajuste para engordar os já polpudos salários, num país de esqueléticos resultados econômicos, seja nos salários médios percebidos pela população, pelo subemprego ou ainda pela fome e a ignorância que ronda os rincões.
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Os salários podem aumentar ainda mais para o funcionalismo público, pagos pelo povo brasileiro que míngua. Ilustração: aloart
As duas pautas bombas das quais participaram 59 senadores, foram aprovadas em apenas 24 horas, articulação política que não se vê quando as situações prioritárias assim exigem – lembramos a greve dos caminhoneiros –, consistem no aumento de salários do Judiciário e do Ministério Público que terá repercussão em todo o funcionalismo, e a prorrogação de incentivos fiscais para a indústria automotiva, que já foi sancionado por Temer e deve se estender por 15 anos. O Rota 2030, como é chamado o projeto, exige que as empresas automobilísticas invistam em tecnologias como a dos veículos movidos a eletricidade, mas em contrapartida o país lhes entregará benefícios múltiplos, abrindo mão de impostos em escala bilionária.
Com o reajuste que poderá ser concedido as excelências, os salários dos ministros do STF passarão dos R$ 33,7 mil para 39,3 mil mensais. Mas não é só isso que preocupa. O aumento irá repercutir num efeito cascata, por serem os salários dos ministros do STF a base para o reajuste de todo o funcionalismo público. O estado esquelético em que se encontram as atividades dos brasileiros está presente em todas as áreas, com exceção de algumas que conseguem sobressair-se em meio ao caos. Como o agronegócio, por exemplo, que através da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) indicou a deputada Tereza Cristina (DEM-MS) para o ministério da Agricultura. O setor sinaliza querer se afinar com o novo governo, com o objetivo de retomar os avanços necessários para que o Brasil volte ao patamar que merece, fato que interessa a todos. A todos?
O presidente Michel Temer, que já sancionou o Rota 2030, ainda pode vetar o aumento do Judiciário se assim desejar, uma despesa que pode chegar a 6 bilhões por ano, que será paga pelo povo brasileiro. Ainda bem que grande parte dos congressistas não conseguiram se reeleger e o poder foi bastante pulverizado entre as diversas siglas partidárias na eleição de outubro. Basta analisar o quadro de governadores, senadores e deputados que assumem no ano que vem. Do novo Congresso se espera atos menos dramáticos do que vimos até aqui. Boas doses de sensibilidade e patriotismo também serão muito bem-vindas.
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Onyx Lorenzoni: "A responsabilidade e os desafios são enormes, mas não são maiores que os nossos sonhos." Foto: Valter Campanato/Agência Brasil/Brasília
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