Sábado | 2 de julho, 2022


Os dados foram divulgados no início de 2019, antes da pandemia pelo psiquiatra Joel Rennó Junior. Durante a pandemia, a desinformação foi um dos principais fatores da depressão pós-parto, constatou outro estudo coordenado pelo psiquiatra Marco Aurélio Galletta, divulgado em dezembro de 2021.


A depressão pós-parto é um episódio depressivo de intensidade grave a moderada; costuma ocorrer durante os primeiros meses após o nascimento do bebê. Além da propensão genética, explicação para 38% dos casos, os principais fatores são as quedas abruptas hormonais no pós-parto.

Estudos demonstraram prevalência aproximada de 20% para a depressão pós-parto. Segundo o professor de psiquiatria da USP, Joel Rennó Junior, outros trabalhos indicam ainda maior prevalência em populações específicas, como adolescentes.

“Cerca de 60% das mulheres com depressão pós-parto já apresenta indícios na gestação, sem ser diagnosticada e devidamente tratada, informa Joel.
“Cesareanas de emergência, estresse no cuidado com o filho, sintomas de ansiedade no pré-natal, suporte social inadequado e diabetes, também estão significativamente associados a esse quadro”.

 

Foto: Divulgação / USP



Quem enfrenta depressão pós-parto apresenta maior risco de ter descontinuação na amamentação, conflitos familiares e negligências em relação às necessidades físicas e psíquicas do filho. Isso pode acarretar danos em uma série de questões relevantes para o desenvolvimento psicológico, social e de linguagem do bebê.

A doença também pode dificultar a interpretação adequada da mãe aos comportamentos da criança, favorecendo para que esta, ao longo do tempo, torne-se isolada ou inquieta. Ou que manifeste distúrbios alimentares ou do sono ou ainda corra maior risco para contrair doenças psiquiátricas.

O tratamento varia de acordo com o nível da gravidade. “Em quadros leves, muitas vezes a terapia interpessoal ou a psicoterapia comportamental e cognitiva acabam sendo as primeiras escolhas. Agora, em quadros moderados a graves, há necessidade do uso de antidepressivos, que só o psiquiatra pode indicar”, aponta Joel.

 

Foto: Divulgação / USP



Mudanças ao redor da mulher no ambiente de convívio social e familiar ajudam no gerenciamento do nível de estresse. Afinal, muitas mães que acabaram de dar à luz podem ter vários “gatilhos estressores” em razão da privação do sono, agitação do bebê ou dificuldades na amamentação.

A depressão pós-parto pode atingir até 15% dos pais de recém-nascidos. Mas, no caso dos homens, não há uma correlação com fatores hormonais e sim com mudanças que ocorrem na dinâmica do casal, como o sentimento de exclusão e pela própria influência da depressão pós-parto da mulher.

O período logo após o nascimento do bebê é uma fase de muitas alterações e adaptações para os casais. “Essa escalada de eventos por uma depressão pós-parto não tratada exacerba o sofrimento de ambos”, conta Joel. Em razão disso, o ideal é sempre buscar acompanhamento profissional para as orientações necessárias.

 

Pacientes que procuraram mais notícias sobre a pandemia de covid-19 apresentaram casos mais graves de depressão pós-parto – Foto: Eduardo Souza – Flickr

 

Durante a pandemia, a desinformação foi um dos principais fatores da depressão pós-parto.

Segundo o psiquiatra Marco Aurélio Galletta, esse tipo de depressão foi especialmente agravado durante a pandemia, por estar normalmente vinculado ao isolamento social, brigas domésticas, ansiedade e outras situações intensificadas pela quarentena.

Uma pesquisa do Hospital das Clínicas sobre o aumento de casos de depressão pós-parto durante a pandemia da covid-19 apontou que 38% das mulheres relataram depressão após o nascimento dos filhos. O número é quase o dobro do padrão anterior à pandemia. O estudo acompanhou 182 pacientes, incluindo pessoas que tiveram covid-19 e que não tiveram, no Hospital das Clínicas e no Hospital Universitário.

O estudo mostrou que as pacientes que procuraram mais notícias apresentaram casos mais graves de depressão pós-parto, que está comumente vinculada à ansiedade. A média dessas pacientes foi de 4,5 horas de busca de informação. Galletta também destaca o impacto da forma como as pacientes consumiam a informação. O grupo de pacientes que consumiam notícias por fontes mais confiáveis, como jornais, revistas ou televisão, não apresentou aumento nos casos de depressão pós-parto. Já as que consumiram informações por outros meios, especialmente por WhatsApp, apresentaram aumentos significativos.

O estudo concluiu que a desinformação é um dos principais fatores por trás da depressão pós-parto. “Informação inadequada faz mal à saúde”, destaca Galletta, que conta que há especialistas da saúde que estudam a infodemia, epidemia de desinformação que prejudica a saúde mental da população. A insegurança econômica e a insegurança causada pela pandemia também estão entre as principais causas dessa doença.


Com informações do Jornal USP


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